segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

2013







Pois é, no início do ano, eu não dava nada por 2013. Agora, nos seus últimos dias, confirmo a previsão. Não foi um ano assim tão importante na última década. O gosto amargo no fundo da garganta não passou. Tive alguns momentos de alegria e muitos momentos de grandes tristezas. Mais uma vez, minhas grandes certezas foram parar no ralo. E minhas pequenas certezas, naturalmente, tornaram-se crenças um pouco mais anacrónicas. Como em anos anteriores, segui em frente sem medo das tempestades que caíram do lado de fora. Como sempre, chove forte mesmo é aqui do lado de dentro.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Feliz Natal!




Natal tem a ver com muitas lembranças da infância. Éramos pobres e morávamos em um bairro igualmente pobre de uma cidade pobre do interior de Minas. Descobri muitas coisas sobre a vida naquele tempo. Uma delas é que não chega cartão de Natal em casa de gente pobre. Nunca. Nenhum. Zero.

Em 1970, ou 1971, não lembro com exatidão, milagrosamente, chegou um cartão de Natal grande e bonito lá em casa. Era do tamanho de uma folha de caderno escolar e tinha o desenho de uma árvore toda em verde, com a frase majestosa, escrita em letras vermelhas e perfeitamente alinhadas: “Feliz Natal e Próspero Ano Novo!”.

Foi tão inesperado que minha mãe agarrou o cartão e saiu rodopiando pela casa. Minha irmã mais velha quase caiu: “Nossa Senhora, quem nos mandou essa lindeza, perguntou aflita e impaciente.

Mamãe ignorou a pergunta e continuou rodopiando com a "lindeza". Minha irmã pediu para segurar o envelope e, então, leu o nome do remetente: Casas Pedro, Rua Tomé de Souza, 133, Centro, Rio de Janeiro. Mistério, não conhecíamos ninguém no Rio.

Minha irmã, então, buscou o nome do destinatário: Sr. Álvaro Pires. O nome do papai era Joaquim. Ela conferiu o endereço: era em outro lugar, bem distante de nossa casa. Silêncio.

Minha irmã ficou repentinamente triste e tentou alertar mamãe a respeito das informações sobre o cartão. Bem baixinho, como se preferisse ficar calada, ela disse, delicadamente:

_ Mãe, escute, temos de devolver o cartão, a gente não sabe quem mandou...

Mamãe deu de ombros:

- Não, devolver de jeito nenhum, eu aceito o cartão!

- Mãe, o endereço do cartão não está certo...

- Não tem importância, filha, o Correio pode ter errado, não pode?

- Não mãe, pelo amor de Deus, veja o nome do dono do cartão?

- Que história é essa de nome, filha, eu não me importo com isso e já disse que aceito o cartão, não disse?




terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Beleza



Ser belo é deter algum poder. A beleza é parte do poder das pessoas. Nietzche disse com precisão: “A beleza é o poder gerado pela imagem.” E disse mais: “…Quando o poder se torna clemente, quando o poder desce ao visível, essa clemência tem o nome de beleza…”
Estudos sobre o impacto da beleza na vida das pessoas apresentam conclusões interessantes:
- os 15% mais bonitos são 10% mais felizes do que os mais feios;
- as pessoas mais bonitas ganham, em média, 5% a mais do que os menos atraentes;
- os belos têm mais atenção de professores, orientadores e até mesmo de bebês.
O olhar de todos nós é atraído pelo que é belo. E quem é belo ainda agrega outro valor à personalidade: é mais confiante. Sabe que será atendido. E bem atendido.


domingo, 1 de dezembro de 2013

Pensamentos sobre pensadores...



Cristo, Buda e Kant tinham razão em muitas coisas.
Freud tinha razão em algumas coisas.
Marx tinha razão em bastante coisas.
Adam Smith tinha razão em muitas coisas.
Nietzsche tinha razão em quase todas as coisas.
E Darwin tinha razão em todas as coisas.

Como sabem os nietzschianos, o mundo está dividido em «fortes» e «fracos». Em «vencedores» e «perdedores». E as pessoas preferem um vencedor a um perdedor. Já para Darwin, vencedores e perdedores evoluem. É o único traço que os une.

sábado, 30 de novembro de 2013

Você aprende...



Você aprende...
Texto: Veronica Shoffstall

Depois de algum tempo, você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar a alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. Aprende que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.

Aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la, por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se levam anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.

Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos.

Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. E começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. E descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve.

Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.

Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, porque seria uma tragédia se ela acreditasse nisso. Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama, com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas, simplesmente não sabem como demonstrar ou vivenciar isso.

Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo. Aprende que com a mesma severidade com que julga você será, em algum momento, condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. É aqui que você aprende que deve plantar seu jardim e decorar sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.

Aprende, finalmente, que o tempo não é algo que se possa voltar para trás. E só aí você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte e que pode ir muito mais longe, mesmo depois de pensar que não pode mais. E por aguentar o que é preciso aguentar, por cumprir o que é preciso cumprir, realmente a vida tem valor e você tem valor diante da vida!

O amor...




É isso: O amor esconde uma multidão de pecados e ultrapassa uma multidão de obstáculos. Segundo a Bíblia: "Sobretudo, conservai entre vós um grande amor, porque o amor cobre uma multidão de pecados".Primeira Epístola de São Pedro, 4; 8

sábado, 23 de novembro de 2013

Sonho e realidade


O que é sonho, o que é realidade? Sonhos são as coisas que acreditamos um dia tornar realidades. E o que é realidade? Segundo
Philip K. Dick, é tudo aquilo que não desaparece quando deixamos de acreditar na sua existência.

domingo, 10 de novembro de 2013

A propósito de Breaking Bad


Acabei de assistir a série norte-americana Breaking bad. Um programa maravilhoso do início ao fim. Capítulos bem escritos e interpretações excelentes que prendem tanto a atenção que tiram o fôlego. Recomendo.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Final de ano


Estamos chegando ao final do ano. Na altura do mês de novembro sempre penso que é tempo para pararmos um pouco, olharmos à nossa volta e refletirmos sobre aquilo que fizemos, aquilo que deixamos de fazer, aquilo que não devíamos ter feito e aquilo que podíamos ter feito melhor.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Tudo o que sei é o que leio nos jornais...


Novos colunistas da Folha: é ótimo ver gente que rema contra a maré escrevendo sobre acontecimentos diários em um jornal de peso. Na verdade, é sensacional.

Fico espantada com críticas a este ou aquele profissional porque ele seria de direita. Todos os países do mundo tem colunistas, partidos políticos e líderes de direita. Nem por isso deixaram de ser democracias sólidas e tolerantes. Na verdade, a maioria dos países onde se vive melhor respeita líderes do centro, da direita e da esquerda.

A propósito do quadro de colunistas da Folha, verdadeiros mestres da arte de escrever em português, gostaria de comentar sobre um livro muito interessante: “A Queda da Publicidade e a ascensão das Relações Públicas», de Al Ries e Laura Ries.

Editado pela "Notícias Editorial" de Portugal, o livro defende a leitura diária das páginas de opinião dos grandes jornais como chave para a implantação de marca de trabalho, de médio e longo prazo, em qualquer área da publicidade.

Valendo-se de numerosos exemplos e casos, a começar por Playstation, Viagra e Amazon, os autores são diretos e objetivos: “Quase tudo o que sei é o que leio nos jornais”. É a mais pura verdade.

A maior parte das pessoas apenas «sabe» o que lê, vê ou escuta nos meios de informação, ou que aprende com as pessoas em quem confia.

Em resumo: a maior parte das pessoas determina o que é melhor procurando o que os outros pensam que é melhor. E as maiores fontes para essa determinação ainda são os jornais, as rádios e as tevês.

Nada se compara ao poder da imprensa. A publicidade, por exemplo, tem credibilidade próxima do zero. Já os jornais e os jornalistas são amados e respeitados. Não é por acaso que a maioria das pessoas associa à imprensa e ao jornalismo palavras como verdade e justiça, que representam os valores mais elevados da civilização humana.

PS: A Folha amplia a partir de amanhã a sua equipe de colunistas no caderno “Poder”: Reinaldo Azevedo escreverá às sextas-feiras, Demétrio Magnoli aos sábados e Ricardo Melo às segundas. Os três vão se somar a Janio de Freitas — que continuará escrevendo às terças, quintas e domingos — e a Elio Gaspari — às quartas e domingos.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A vida não é diferente da guerra



A operação militar mais temida é a retirada; exige grau elevado de maturidade para evitar tentativas de heroísmos tardios que acabam gerando debandadas humilhantes. Para executar a retirada com o mínimo de dignidade, e sem prejuízos irreversíveis, precisamos buscar os entendimentos possíveis em clima de ponderação e equilíbrio, ainda que não exista mais esperança. A vida não é diferente da guerra. A morte é a nossa retirada.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Contra a baixaria na TV

Por iniciativa de entidades que defendem os direitos da infância, o dia 18 de outubro passou a ser marcado, há alguns anos, como o Dia Nacional contra a Baixaria na TV. Faz sentido.

Segundo o jornal norte-americano Washington Post, o Brasil é o segundo país que mais assiste televisão em todo mundo, atrás apenas do Reino Unido. Precisamos, então, de datas como esta para estimular a boa qualidade nas grades de programação.

Ao mesmo tempo, devmos fazer um esforço para transformar as emissoras de rádio e tevê como parceiras da preservação de valores e princípios que ao longo de gerações foram construídos.

Especialistas em comunicação costumam dizer que a televisão brasileira atingiu níveis de excelência técnica, mas não evoluiu na mesma medida em relação ao conteúdo. Acrescentam que no segmento de entretenimento, o que temos é uma profusão de programas discriminatórios, baseados na humilhação das pessoas e que atentam contra os direitos humanos. Isso também acontece no jornalismo, especialmente nos programa policiais e sensacionalistas, mas em menor escala.

No segmento dos programas destinados aos jovens e adolescentes estaria prevalecendo o incentivo exacerbado ao consumismo. Para a psicóloga Teresa Pecegueiro, o que predomina na TV genuinamente brasileira é a exibição de programas onde o ‘corpo fatal’ está em evidência. “O que dá ibope são mulheres lindas com seios e pernas de fora, até mesmo cenas de sexo”.

Os programas de entrevistas estariam carecendo de conteúdo. Para a maioria dos especialistas, debates deixam a desejar e não acrescentam quase nada. Já os filmes mostrariam sexo e/ou violência como se fossem coisas naturais. E as novelas? Novelas recebem ainda mais críticas. E com razão.

O que não se pode negar, no entanto, é que as novelas são a principal, talvez a única, fonte de entrenimento gratuito da população de baixa renda que mora nas violentas periferias das grandes cidades.

Ali, ninguém se arrisca a por o pé na soleira da porta temendo a violência e a criminalidade do lado de fora. Por essa razão a maioria nem reclama da baixaria dos novelões rídiculos que passam na tevê aberta. Aliás, a ineficácia do combate à violência que nos obriga a ficar trancados em casa é a maior das baixarias.

sábado, 12 de outubro de 2013

Ulysses Guimarães






...“Quem não se interessa pela política, não se interessa pela vida..."


Ulysses Guimarães

4 de março de 1985

  PS: Há 21 anos, no dia 12 de outubro de 1992, morria Ulysses Guimarães, um brasileiro extraordinário que lutou corajosamernte pela liberdade e a democracia.




quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A palavra é: democracia

O Congresso dos Estados Unidos deixou de votar o Orçamento por discordar das diretrizes do presidente Barcak Obama e paralisou o governo. Está tudo parado há dias. O presidente Obama luta para reverter a situação, mas não criou cargos, não aumentou o número de ministérios, não reuniu-se sigilosamente com líderes políticos dos partidos para distribuir favores, tampouco realizou qualquer liberação de emendas. Estou aqui no meu canto lendo as notícias e pensando na qualidade da nossa democracia em comparação com a democracia norte-amerericana.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Democracia sempre...

No momento em que todos os olhares se voltam para o Supremo Tribunal Federal, STF, com posições apaixonadas de dois lados, gostaria de assinalar que a divergência, em questões essenciais, entre diferentes partidos, diferentes políticos e diferentes cidadãos, não é apenas normal em democracia. Não é apenas saudável. Não é apenas importante. É a justificação para considerarmos a democracia a melhor forma de organizarmos a nossa convivência política.
 
A democracia só é necessária porque as coisas são assim. E as coisas são assim porque o ser humano é dotado de inteligência e liberdade de pensamento.
 
A democracia resolve estas divergências com a liberdade de expressão, organização e reunião, com a organização do conflito social e com eleições. Fora dela, estas divergências resolvem-se com armas e prisões. Quem olha para estas divergências como um problema, e não como uma enorme vantagem, não se limita a não compreender a democracia. É, no essencial, antidemocrático. Porque é nesta incompreensão que se baseiam todas as ditaduras.
 
Dão-se nomes diferentes ao que deve prevalecer à divergência: os nacionalistas chamam-lhe Pátria, os teocratas chamam-lhe Deus, os comunistas chamam-lhe vanguarda, alguns outros chamam-lhe "salvação nacional". Mas todos acreditam no mesmo: que a sua posição é indiscutível. E que quem dela discorda apenas se pode mover por interesses mesquinhos, sejam eles pessoais ou partidários.
 
Sim, a política é, como a vida, o território do conflito. A democracia apenas cria as condições para que ele seja resolvido. Por meio de concessões, claro. Com diálogo, muitas vezes. Com negociações, sempre que necessário. Mas aceitando sempre, no fim, que a ausência de acordo, quando os pontos de vista são mais distantes, é natural. E que a democracia tem, para resolver a impossibilidade de compromisso, os instrumentos necessários. Prevalece, no respeito por regras instituídas, por patrimonio comum e pela tolerância e pluralismo, a posição da maioria.
 
A expressão democrática do conflito, mesmo quando vem de uma minoria, não pode, em nenhuma circunstância, ser tratada como "ruído". E muito menos se pode exigir "silêncio" a quem cumpre a obrigação democrática de expressar as suas discordâncias.
 

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Um dia sem ano...



Como todas as datas que mudaram o mundo, o 11 de Setembro não tem ano. É o 11 de Setembro,  dia que se assinala por ser conhecido, estar incluído na nossa história, na nossa linha do tempo. É um marco e todo o mundo entende que naquele dia a contagem do tempo mudou. . Vi a cena toda ao vivo e lembro direitinho. Eu havia chegado cedo ao Senado e olhava o noticiário na tevê  quando apareceram as primeiras imagens de um dos edifícios com aquela fumaça negra. O locutor não sabia dizer com exatidão o que tinha ocorrido, parecia acreditar em um incêndio e repetia que aguardava mais unformações. De repente, um avião de grande porte entrou no cenário voando rápido. O locutor parecia espantado e só conseguiu dar um grito quando o avião atingiu em cheio o segundo edifício das torres gêmeas.  Não podia acreditar no que via e tive certeza que o mundo estava entrando em guerra. Uma guerra sem fim que causa danos a todos nós. Não é por acaso que nossos e-mails podem ser lidos por bisbilhoteiros. Tudo virou pretexto para combate ao terrorismo. Um terror....Pois é, aquele 11 de setembro está marcado para sempre na nossa história, na nossa linha do tempo. Um dia terrível. Um dia sem ano. 

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Uma vida sem memória não seria vida...



Meus amigos me conhecem como sendo uma pessoa que tem boa memória. É verdade. Me apego a detalhes incríveis e consigo mostrar a todos que conservo lembranças detalhadas do passado mais remoto. Tento me lembrar de tudo que posso. Uma vida sem memória não seria vida.

A nossa memória é a nossa coerência, a nossa razão, a nossa ação, o nosso sentimento. Sem ela, não somos nada. Mas o que é mesmo a memória? Em “O Meu Último Suspiro”, livro semibiográfico, Luis Buñuel, logo de ínicio, antes de começar a evocar o passado, adverte o leitor: ele pode se deparar com falsas recordações nas páginas seguintes. O cineasta tem razão.

Indispensável e onipotente, a memória é também frágil e ameaçada. Ameaçada não só pelo esquecimento, o seu eterno inimigo, mas também pelas falsas recordações que a invadem dia após dia. A memória é constantemente invadida pela imaginação e pelo devaneio.

Temos a tentação de acreditar na realidade do imaginário, tanto que podemos fazer da nossa mentira uma verdade. O que é, aliás, de uma importância relativa, já que uma e outra são igualmente vividas e pessoais.

Quem não faz uma seleção do que deseja realmente lembrar e do que deseja esquecer? Quantas vezes a gente não assume, no passado, uma coragem que nunca teve e que nunca vai ter?

Como diz, lindamente por sinal, o cineasta e escritor Luiz Buñuel na abertura do seu magnífico livro: (…) "Sou composto pelos meus erros e dúvidas, a par das minhas certezas. Não sendo historiador, não recorro a quaisquer apontamentos ou a qualquer livro. O retrato que aqui proponho será sempre o meu, com as minhas afirmações, hesitações, repetições a lacunas, com as minhas verdades e as minhas mentiras, numa palavra: a minha memória.”

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Eu e o Beto





O casamento é um contrato de amor, de convivência, de construção conjunta de projetos de vida. É uma aposta de vida em constante reajuste.
PS: Este post foi feito para comemorar hoje, 31 de julho, mais um aniversário de casamento com o Beto, amor da minha vida.

sábado, 20 de julho de 2013

Crítica não é raiva. É crítica.


Paulo Francis lamentava a falta de roteiristas no Brasil. Achava que poderiam escrever com clareza a nossa história, valendo-se da vida de alguns personagens. Segundo ele, através do cinema e da tevê, com os recursos disponíveis, teríamos consciência do nosso legado histórico de forma leve e acessível. Como exemplo da nossa trágica impunidade, e ponto de partida para um bom roteiro, ele citava Filinto Müller, personagem sinistro do Estado Novo que morreu livre e foi coberto de homenagens póstumas, a despeito da fieira de crimes que teria cometido.

Acredito que o jornalista Paulo Francis, odiado pela franqueza e pelo estilo duro de expor fragilidades alheias, deveria ser mais lido pelos jovens. Além de ter paixão pela polêmica, e de manifestar convicções com coragem, ele escrevia bem. Acreditava que bons textos são como roteiros de cinema, decifrados por pessoas de qualquer idade e compreendidos em todas as culturas.

Quando era criticado por ser rude, Francis reagia: "Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros e os leitores é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. Meu tom às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação do amante rejeitado."

Francis pertenceu a um tempo de ouro do jornalismo impresso, quando os jornais publicavam análises políticas escritas por nomes de grande cultura literária. Análises criativas e saborosas. Para escrever em jornal não bastava só assumir uma posição, ou lavrar sentença como juiz e ditar regras. Era preciso honrar o idioma como fazem hoje João Pereira Coutinho, Dora Kramer, Elio Gaspari, Ricardo Noblat e Eliane Cantanhêde.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

A bandeira está de volta...


A bandeira do Brasil está de volta às primeiras páginas dos jornais e das revistas e, com ela, todo o patriotismo que nos une. É bonito de ver essas coisas porque nessas horas os brasileiros esquecem tudo de ruim que existe e passam a achar que o Brasil está onde o seu futebol o coloca. E o ego da galera fica gigantesto. Tão gigantesco que ninguém mais consegue ver a desigualdade e o atraso do País na saúde, na educação, na segurança, na cultura e na tecnologia. Pois é, falta muito para a construção de um Brasil mais justo e mais decente, mas vamos chegar lá. Temos muitas vantagens e uma das maiores é o patriotismo que nos une, e que sempre ajudou o Brasil a superar todas as crises ao longo de sua história. 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Eu me rendo...




A Igreja Católica (a que pertenço) está a favor das manifestações. O Sindicato dos Jornalistas (a que pertenço) está a favor das manifestações. Os «intelectuais e artistas» (aos quais vagamente conheço, mas admiro) estão a favor das manifestações. Os políticos que receberam meu voto estão a favor das manifestações. Meus amigos, minhas amigas, minha filha e meu genro estão a favor das manifestações. Estou mantendo a calma, mas espero que o Vasco da Gama não se pronuncie.



quarta-feira, 19 de junho de 2013

Para que serve a política?

A confiança nas instituições do poder – e não apenas do poder político – se encontra, certamente, ao rés do chão. Essa confiança nunca foi extraordinária, mas agora tornou-se ostensiva a ideia de que não podemos confiar – nos líderes políticos, nos gestores, nos líderes dos trabalhadores; nos jornais, nas televisões, na Justiça, nas igrejas ou nas escolas.

Não podemos confiar porque, estranhamente, cresce a impressão que nenhum destes poderes, instituições ou pessoas, funciona como deveria funcionar; nenhum destes poderes age sem uma qualquer obscura motivação ou interesse. Por isso, chegamos neste estado de coisas.

E agora, o que fazer? Temos de mudar. Creio que precisamos refletir, voltar à política e buscar soluções com maturudade. Não adianta exigir rupturas e revoluções. O Brasil não é uma ilha e não se mudam as leis da economia e da concorrência.

A mudança deve vir, mas penso que terá de ser sensata e eficaz, levando em conta que não podemos perder conquistas porque a vida dos mais pobres no Brasil melhorou bastante nos últimos 20 anos. E tudo isso custou muito a todos nós que fazemos parte da sociedade brasileira.  

Depois de tudo que ocorreu nas últimas horas, vamos ver o que vai acontecer, mas torço para que governadores, deputados, senadores, empresários e a presidente da República, enfim, todos os líderes, busquem propósitos grandes, realistas e firmes. Não devemos ser um país de fins intermédios, interesses particulares e promessas próximas.

A política deve tratar da paz e da prosperidade das pessoas, mas deve também servir para traçar grandes propósitos. Afinal, nada nessa vida tem muito sentido sem algum ingrediente de sonho e de grandeza épica.  



terça-feira, 18 de junho de 2013

Tenho medo de multidões...



Tenho medo de multidões. As verdadeiras barbaridades costumam emergir no meio de multidões. Na nossa solidão, ou na companhia dos amigos e da família, somos agradáveis e toleráveis; mas experimentem juntar um punhado de pessoas e vejam o vandalismo de imediato.

Nos protestos, observem a minoria que espuma um imenso ódio e que sai na frente quebrando e incendiando tudo. Não faz sentido. Como disse Jean Paul Sartre, “a violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota”.

É preciso tentar entender a insatisfação das pessoas sim, mas, é preciso, igualmente, pôr a cabeça em ordem. A democracia não é nenhum regime de multidões, nenhum regime da rua, nenhum regime em que os vândalos andam à solta a praticar insanidades.

A democracia, queridos amigos e queridas amigas, é apenas uma forma de convivência pacífica, regrada, decente, que nos permite conduzir livremente a nossa vida, jantar de garfo e faca, tomar banho morno e ter certeza que o lixo da rua será recolhido.

Costumo assustar-me com algumas coisas, mas nada me irrita mais que aqueles que acham possível construir uma sociedade decente sem ordem, sem regras e sem uma noção digna e relevante da função das forças policiais e de segurança.


sábado, 15 de junho de 2013

Eu protesto...



Em Brasília, certa vez, queimaram um índio e a popularidade do então presidente Fernando Henrique Cardoso desabou oito pontos em um mês. Quem contou a história à revista Época, onde eu trabalhava na ocasião, foi o próprio Fernando Henrique durante entrevista no Alvorada. O que ele queria dizer? 1) que um Presidente da República, mesmo não tendo nada a ver com alguns fatos, acaba pagando o pato por quase tudo de ruim que acontece e 2) que coisas ruins, às vezes, acontecem porque os países passam por momentos imprevisíveis e injustificáveis de grande impaciência social, com as pessoas exaustas e os jovens quebrando o que encontram pela frente. Será que chegou a nossa vez?
 
Nossa juventude está se metendo em formas variadas de protesto. Do Movimento Pelo Passe Livre passando pela Parada Gay, Marcha da Maconha, Marcha das Vadias, Veta Dilma, Existe Amor, Apoio ao Movimento dos Sem Teto e Fora Pastor Feliciano. Muitos usam nas redes sociais o sobrenome Guarany Kayowá em apoio aos índios. "Se a tarifa não baixar, a cidade vai parar!", gritam em São Paulo. Querem transporte público, mas depredam estações de metrô. Condenam Belo Monte, mas passam dias e noites nas redes sociais gastando energia.

A indignação é um direito, mas adianta pouco. Este pensamento conservador me ocorre desde a juventude. Na verdade, nunca alimentei ambiguidades sobre minha eterna condição de conservadora,  moderada. Sempre fui parte desta minoria. Meus amigos de esquerda,  que formavam, e ainda formam a maioria, é que adoravam a rua e os protestos. A esquerda adora a rua. A rua é animada, ali há música, dança, alegria e cerveja.  

Na rua protesta-se, empunham-se cartazes, bandeiras, berram-se slogans, desfila-se, aplaude-se! Nas manifestações a política é uma sensação, o mundo é belo  e quando vier a revolução, seremos todos felizes. Como perdi a maioria das manifestações da juventude, por não me alinhar à esquerda, estou querendo me redimir na velhice. Afinal, não faltam razões para protestar.

Pensei em queimar alguns pneus porque a idade impôs-me uma série de chatices físicas que me impedem de atingir a metafísica. Aposto que outros amigos que passaram dos 50 iriam aparecer. Não é todo dia que a gente tem chance de balançar o coreto das autoridades. Outro protesto possível seria, finalmente, adotar o tom do anti-americanismo da esquerda. Depois que Obama passou a espionar todo o mundo, a indignação contra esse inacreditável "Big Brother" pode adiantar pouco, mas é um direito. 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Fernando Pessoa



Em 13 de junho, há 125 anos, nascia Fernando Pessoa, um dos maiores poetas da língua portuguesa. Sempre leio e releio Pessoa. Em meio a seus desencantos não me sinto tão só.

Poemas


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa

“Viver não é necessário; o que é necessário é criar”.

Se achar que precisa voltar, volte!

Não se acostume com o que não o faz feliz,
revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!

Fernando Pessoa


Eu amo tudo o que foi
Tud o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência, não pensar...
Fernando Pessoa

"É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!

É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!

É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!

É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!

É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?

A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,

Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma

Senão da nossa;
A dos outros são olhares,

São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo."
Fernando Pessoa


“Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.”
Fernando Pessoa



Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos
mesmos lugares ...
É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos...

Fernando Pessoa



Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.

Fernando Pessoa

Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um.

Fernando Pessoa

"Segue o teu destino...
Rega as tuas plantas;
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
de árvores alheias"

Fernando Pessoa

PRECE


Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.

Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!

Fernando Pessoa




terça-feira, 28 de maio de 2013

Qual é o critério para avaliar um governo?



«Qual é o critério para avaliar a verdadeira força de um governo? Só este: é forte o governo capaz de fazer prevalecer o interesse geral contra os privilégios particulares que o contrariam; é fraco o governo que, impotente contra tais interesses, se acolhe à sua protecção e acaba, conscientemente ou não, por se tornar o seu instrumento». Dicionário Crítico de Antonio José Saraiva.  

domingo, 26 de maio de 2013

Um dia melhor amanhã



Meus dias estão muito tristes e as noites piores. Para mim e para os meus. Por razões que não interessam para o caso, maio foi o pior mês neste ano. Por mais sorrisos ( forçados e amarelos ), por mais palavras de incentivos (amáveis) que recebo, a tristeza não desaparece. Em junho, porém, espero dias  melhores. Com certeza eles virão.   



Eça de Queirós: ontem, hoje e sempre...

Eça de Queirós (1845 - 1900) foi dos mais importantes escritores da língua de Camões e os seus romances são dos mais reconhecidos e encontram-se traduzidos em 18 línguas, como Os Maias, O Crime do Padre Amaro, A Ilustre Casa de Ramires, A Capital, O Primo Basílio, O Mandarim, etc. Após a conclusão do curso, em Coimbra, foi para Lisboa onde se destacou como advogado e jornalista. Em 1871, estando profissionalmente em Leiria, juntamente com Ramalho Ortigão inicia "As Farpas", crónicas publicadas em fascículos mensais. Em "As Farpas" nenhum sector da vida portuguesa escapou ao seu olhar clínico sobre a sociedade. "As Farpas" são um excelente tratado de sociologia em Portugal. Quem lê "As Farpas" fica com a ideia que são crónicas do nosso quotidiano e parecem que foram escritas na semana passada. Em "As Farpas" há uma crónica de 1872 (já lá vão 141 anos) que está actual. Leiam e façam as ligações com os dias de hoje e com a história deste país.

" [ ...] Nós estamos num estado comparável sómente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito.

Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva,poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal [...]"

Eça é um dos grandes de Portugal: ontem, hoje, sempre. Abaixo, mais algumas frases do escritor português:

"Não tenha medo de pensar diferente dos outros, tenha medo de pensar igual e descobrir que todos estão errados!".

"A liberdade vem da conquista, e requer o entusiasmo do saber que está no caminho certo, isso é recompensador."

"O orgulho é uma cerca de arame farpado que machuca quem está de ambos os lados."

"Falta ao ser humano semear a igualdade, perceber as diferenças, mas harmonizar a equação da vida com a dignidade."




domingo, 12 de maio de 2013

Mãe



No grupo das percepções erradas que todos temos há uma para que é preciso estar alerta: a de que as Mães são eternas. Não são. 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Leitura diária

Sempre gostei de começar o dia lendo os editoriais do Estadão. É uma paixão antiga. Os textos são ótimos, mesmo que você discorde de tudo. O estilo torna-os imperdíveis. Há ritmo, há movimento, há conspiração, há citações e ironias. Tudo o que é preciso, enfim, para ler um texto do princípio ao fim. Na década de 80, eram tão espetaculares que a gente lia e chorava por mais. Sempre que lembro disso penso: por que que não selecionam e editam os editoriais históricos do Estadão? Há textos maravilhosos como um editorial no qual o Estadão fazia uma severa advertência ao Papa!. Sim, o Estadão discordou do Papa e mandou ver no editorial: “advertimos Sua Santidade" e pá, pá, pá ...”. Não é delicioso?

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Abençoados...



Abençoados os que acreditam em equipas multidisciplinares

nos programas de reinserção social

no sucesso das dietas de emagrecimento

nas aulas noturnas

no multiculturalismo

no reflorestamento

no código deontológico

na igualdade dos sexos

na prevenção da doença

no diálogo norte-sul

em Deus Alá Jeová

na unidade do espí­rito santo

ou no manipanso que ainda não foi revelado

nas energias

na meditação zen

nos cátaros a reincarnar

na ressurreição das almas


No orgasmo simultâneo

na comunhão dos corpos

na verdadeira orientação

no sexo salvífico

no casamento

na lista de prendas

na lua de mel

na união de facto

na guerra preventiva na guerra punitiva

na guerra defensiva

na paz

na guerra

Abençoados os que acreditam

no progresso moral

no amor na amizade


Abençoados os que acreditam

no ensino público ou privado

no ensino gratuito

nas propinas diferenciadas

na escola democrática

tu e eu muito iguais á saí­da

Abençoados

os que acreditam na

Comissão de Luta contra a Aids

na segurança das pontes

na Condição Feminina

no Instituto do Emprego

Abençoados os que acreditam

na emancipação dos explorados

na solidariedade

no salário justo

na revolução social

na revolução

Esses estão a salvar o mundo,

dizia o Borges.

(estavam as mães à procura dos desaparecidos

na Praça de Maio

À procura

e ele já não via).


Estão todos a salvar o mundo

mas eu estou cansado.

Muito cansado, desculpem. 

Luiz Janúario in "A Natureza do Mal"

Razão para amar o inimigo




"Quando a obstinação

dos amigos

me deixa cansada

é a infâmia

dos inimigos

que por vezes ainda

me dá força nova."

Erich Fried





terça-feira, 23 de abril de 2013

O que será mesmo a felicidade?




O que será mesmo a felicidade? Para ser feliz qual será o peso dos hábitos do dia-a-dia, das coisas que nos vão dando alento, como ler um bom livro, ouvir uma boa música, tomar um sorvete, sentir o cheiro do cabelo da filha, ouvir as primeiras palavras da neta e considerar aquele o espetáculo mais grandioso da face da terra?

Felicidade seria apenas isso, a aceitação da vida que conseguimos ter?  Hoje, tenho certeza que a resposta é sim, mas meu pensamento mudou muito ao longo da vida.  Aos 18 anos tudo que eu queria era ser magra e ser livre. Aos 25, queria ser magra, queria ser livre, queria ter uma filha e lutava para firmar minha carreira no jornalismo.

Aos 30, trabalhava demais, continuava querendo ser magra e já tinha uma filha para criar. Aos 40, comecei a sonhar com uma conta bancária melhor e passei a ter medo de ficar velha e doente.  É, aos 40 comecei a me aporrinhar com o medo da morte. Não conseguia nem imaginar minha vida depois dos 50 anos. Achava que seria velha, cansada e doente.

Só que os 50 chegaram e não me sinto velha, nem de meia idade; nem infeliz, muito menos cansada. Aliás, nunca estive tão saudável. Até o peso melhorou. E o resultado é que me sinto viva. E muito melhor do que antes. O mais importante é hoje sei o que me faz bem e sei, sobretudo, fugir do que me faz mal. Sim, a gente demora cinco décadas para descobrir a felicidade disponível, gratuita, à solta dentro de nós.

Felicidade pode existir na solidão e pode existir em um casamento pacífico, atravessado pelo companheirismo como a experiência que tenho vivido. Ninguém pode imaginar a felicidade que é saber que algumas coisas não mudam. Principalmente depois dos 50...

Pois é, não, não passei a ganhar mais dinheiro, nem fiz mais amigos, nem nada, mas sou mais feliz agora. Por que? A resposta me parece simples: limitei-me a aceitar que esta é a minha vida, e que é boa, que tive sorte. E acho, sinceramente, que a felicidade resulta dessa aceitação.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Eu e as celebridades...

 
 
 
Há algum tempo li entrevista na revista Caras e a celebridade em questão dizia que seu maior defeito era o “perfeccionismo”. Comecei a rir pensando que tem gente estranha demais nesse mundo. Afinal, de onde alguém tirou a idéia de que perfeccionismo é defeito?

Nem como defesa falar uma coisa desta é boa técnica. Então por que falam? Para ter um tom blasé, expondo aquela espécie de contrariedade típica dos bem nascidos e dos querem parecer mais inteligentes que os outros? Ora, ora, que coisa mais feia, ou melhor, que coisa mais “fake”!

Celebridades são graciosas, respeitáveis, bem arrumadas, nos divertem nas novelas, provocam nossas emoções e parecem ter compromisso sincero com a cidadania mas, a boa verdade é que pouco acrescentam ao debate das ideias e suas opiniões políticas são, como todas as demais opiniões, parciais e pessoais. Nada contra, todas as opiniões são assim, inclusive as minhas.

O que acho curioso, porém, é o que dizem sobre intimidade e privacidade. Sempre que termino de ler as entrevistas fico pensando: para o leitor, que diferença é essa, afinal, entre íntimo e privado, vocábulos sinônimos para designar realidades só nossas, pouco mais ou menos secretas, que não desejamos ver conhecidas? Não é tudo a mesma coisa?

Por sobreviver do que escrevo aprendi depressa que o leitor capta tudo o que acontece a léguas, que ele não é bobo. Portanto, quer a celebridade fale sobre o fungo no seu pé, sobre herpes labial ou sobre o tesouro escondido da rainha da Dinamarca, estará, em última análise, sempre, a descrever-se intimamente. Portanto, nada de justificações. Para quê explicações? Não vale a pena e não interessa ao leitor.

E o que o leitor quer, afinal? Desconfio que as pessoas querem, muito naturalmente, é identificar-se com as experiências alheias para tentar entender melhor o que acontece com elas. "Ah, que bom, eu não sou o único!"... "Ah, olha, a artista tal é tal e qual como eu!" Ela também passa aperto com essas coisas que acontecem na minha vida...É isso, ou, pelo menos, acho que é isso.

De todo modo, fiz esse texto comprido para dizer que fico realmente brava com essas histórias de “perfeccionismo” e as sutis diferenças entre íntimo e privado. O que é verdade e o que é mentira?! Aqui neste blogue é tudo verdade! É tudo íntimo, é tudo privado, é tudo secreto e as referências são todas verdadeiras! Eu me esforço para isso. Sem muito perfeccionismo, mas um esforço real e humano.

domingo, 21 de abril de 2013

Rotina


Não o incomodo. Não lhe dou trabalho. Fica tudo igual, sempre. Penso que ele nem percebe que entrei. A sua vida fica lá, a minha cá. É assim todos os dias. Quando estou cansada e a solidão ameaça se aproximar, fico em silêncio, sento-me num sofá, começo a folhear os livros que já li e que estão na estante da sala. Nascer, crescer, morrer, ter um companheiro, esses passos são os que mais importam. Percorro toda a casa, gosto de ter uma casa, ter um quarto onde durmo acompanhada, onde ainda faço amor. É como vestir um casaco usado que aquece como nenhum outro. Um casaco que cobre os seios. Olho a casa, que cheira tão bem, tão a novo, casa tão bonita, tão leve, despretensiosa. Ele apreciou a arrumação. Será que ele é feliz? Será que ele poderia ser um pouco mais feliz se não preferisse sentir-se morto? Não sei, o que sei é que não vou perguntar. Não o incomodo. Não lhe dou trabalho. Fica tudo igual, sempre. 

Sorte...


Há pessoas com sorte e há outros que a procuram.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O Sujeito da Esquina faz 4 anos


Este blogue completa 4 anos hoje, 18 de abril. Pensei em fazer uma pequena retrospectiva desde a primeira postagem, no dia 18 de abril de 2009, mas olhar para trás realmente não é o meu forte. Prefiro pensar no presente.

O blogue sempre foi um espaço de liberdade, desde o início. Procuro vir aqui quando estou bem leve, sem raiva, mágoas ou ressentimentos.

Aqui, fiz amigos inesperados, como uma leitora de Coimbra, Portugal, que me mandou mensagem muito malcriada dizendo que eu era bem preguiçosa porque não escrevia diariamente como todos os demais jornalistas.

Respondi, de forma educada, que o blogue era só diveretimento e que ganhava a vida trabalhando como assessora de imprensa, mas, confesso que até hoje acho engraçado lembrar da forma divertida daquela abordagem de uma leitora tão distante e completamente desconhecida.

O blogue trouxe-me muito mais coisas boas do que dissabores e parte disso é minha responsabilidade. Afinal, o Sujeito da Esquina sou eu, com as minhas escolhas e as minhas decisões relativamente aos registros que vou fazendo.

Muito obrigada a quem passa por aqui. Sou grata a todos.

sábado, 13 de abril de 2013

Uma garota inspiradora...





A garota que criou o Diário de Classe em Santa Catarina aparece (na foto acima) segurando o livro "A Revolta de Atlas". Como se não bastasse o barulho que essa guria fez questionando a péssima qualidade do ensino público que recebe, é muito animador vê-la numa foto com um livro na mão. Na verdade, pensando bem sobre a importância do livro, é de tirar o chapéu. Mais: talvez fosse o caso de ficar de pé e entoar a Marselhesa...

Na mitologia grega, o titã Atlas recebe de Zeus o castigo eterno de carregar nos ombros o peso dos céus. Neste clássico romance de Ayn Rand, os pensadores, os inovadores e os indivíduos criativos suportam o peso de um mundo decadente enquanto são explorados por parasitas que não reconhecem o valor do trabalho e da produtividade e que se valem da corrupção, da mediocridade e da burocracia para impedir o progresso individual e da sociedade. 

Considerado o livro mais influente nos Estados Unidos depois da Bíblia, segundo a Biblioteca do Congresso americano, "A revolta de Atlas" é um romance monumental. Ayn Rand traça um panorama estarrecedor de uma realidade em que o desaparecimento das mentes criativas põe em xeque toda a existência. Os princípios de sua filosofia: a defesa da razão, do individualismo, do livre mercado e da liberdade de expressão, bem como os valores segundo os quais o homem deve viver - a racionalidade, a honestidade, a justiça, a independência, a integridade, a produtividade e o orgulho.

Best-seller há mais de 50 anos, com 11 milhões de exemplares vendidos no mundo inteiro, "A revolta de Atlas" desafia algumas das crenças mais arraigadas da sociedade atual por meio de uma trama muito bem elaborada e recheada de filosofia. Não é por acaso que trata-se de um dos best-sellers mais inspirados de todos os tempos. Um manual para o individuo racional.  Um livro para a vida inteira.

PS: Ângelo da Cia viu primeiro a foto da menina de Santa Catarina com o livro "A revolta de Atlas" e deu o alarme. Ele fez bem de chamar a atenção para coisa tão rara e bonita. Não é todo dia que uma  jovem consegue ser tão inspiradora. Valeu Dom Ângelo!  Valeu menina de Santa Catarina!  

domingo, 7 de abril de 2013

De onde vem a legitimidade da imprensa?



Em boa verdade,  a imprensa não pode alegar uma legitimidade eleitoral (como os políticos) nem uma legitimidade técnica (como a opinião pública [através das sondagens]. Nessas circunstâncias, a fonte da legitimidade jornalística pode parecer opaca: ela vem de onde, representa quem, responde perante o quê?

Essas são boas perguntas de respostas complexas, mas considero oportuno escrever isso hoje, quando se comemora o dia do Jornalista. A imprensa teria uma legitimidade “de referência"? É isso? Mas isso se traduz em quê?

A legitimidade de referência se baseia no princípio de que a imprensa é que sabe (e sempre melhor do que os que foram eleitos, por exemplo,) o que realmente o povo sente e quer?

É com base nessa legitimdade que os jornalistas arrogam-se o direito - marcado às vezes por um jeito ora policial, ora justiceiro e sempre moralista - de passar do registo dos confrontos de opinião para o das avaliações subjetivas?

Informar e ser infomado são direitos constitucionais que vão existir sempre, mas cabe ao jornalista pensar que a legitimidade de referência exige rigor absoluto na apuração dos fatos e no confronto de opiniões.
 
Sem enorme responsabilidade não é possível exercer a profissão de jornalista, sempre associada pela população aos valores mais nobres como verdade e justiça.   

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Minha vida de gorila..




Alguma imaginação, um pouco de charme e, naturalmente, a indispensável qualidade gramatical. Esses são os requesitos de um bom texto. É sempre desejável que tenha também um toque de grandeza obtido, em algumas vezes, com u,a frase de impacto que possa sintetizar o conteúdo. Penso nessas coisas todos os dias. Ter uma prosa clara e instruída é obrigação de quem, como eu, trabalha no ramo da comunicação. Depois de exercer jornalismo por três décadas, passei a fazer assessoria de imprensa, trabalho que implica dar sugestões de textos para pronunciamentos e entrevistas coletivas. Assim, vou garantindo o almoço que, como todos sabem, não sai de graça. É um trabalho difícil? Não. Em boa verdade, qualquer macaco seria capaz de fazer o que faço. A sorte é que eles são mais espertos e preferem pagar mico na floresta.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Medo


"Não existe maior medo do que o ódio dos homens com medo".  Arthur Miller