domingo, 13 de novembro de 2016

Eu, a América e Donald Trump


Muita gente boa escreveu sobre a vitória de Donald Trump. Sei menos da história dos Estados Unidos do que gostaria, mas também tenho observações. Acho que nada nos Estados Unidos deve ser visto de uma única maneira, uma vez que os norte-americanos agem c/ duplicidade: falam em liberdade/democracia e patrocinam ditadores.

Invocam os direitos humanos e adotam a pena de morte. Além disso, lucram vendendo armas para quem estiver interessado. Sem esquecer que argumentam sobre soberania, mas, não hesitam em invadir o território dos outros. Seriam então os Estados Unidos piores do que outras nações? Não. No contexto internacional não há santidade. A duplicidade faz parte da política, notadamente da política externa. Não há Estados inocentes.  

Donald Trump assusta por ser fanfarrão, trapalhão e ignorante em política internacional. O cenário com ele sinaliza isolacionismo da única superpotência do planeta. Acho, porém, que Trump parece tão interessado em ganhar, em ser sempre campeão, que pode ir melhorando com os dias e até mostrar-se à altura do posto que conquistou.

O compromisso de Trump contra o terrorismo não difere das promessas dos demais republicanos que ocuparam a Casa Branca e não deixaram o mundo acabar. A propósito: eles contam com grandes quadros, caso de Colin Powell, por exemplo. São quadros que, no caso da guerra ao terror, não são pacifistas e tampouco neófitos. O Estado Islâmico é a besta a enfrentar e, nesta guerra, tenho lado. Torço pelo triunfo de Trump e da América.

domingo, 6 de novembro de 2016

Reflexões sobre a entrevista de Sérgio Moro

Li a entrevista do juiz Sérgio Moro no jornal O Estado de S. Paulo neste domingo, 6 de novembro de 2016. Estou impressionada com sua segurança e seu estilo direto: ‘Jamais entraria para a política’, ele disse. Acredito que o Meritíssimo Juiz sabe que, ao dizer isso, está excluindo a Política dos caminhos mais nobres a serem trilhados. Eu diria até que algumas pessoas poderão entender a afirmação como “demonização” da política.

Discordo tão completamente das suas palavras neste ponto que resolvi manifestar minha opinião: só por meio da Política o Brasil vai se inserir no espaço civilizacional que mais consolidou a dignidade do ser humano. Aliás, apesar de todos os obstáculos, o País deve aos seus governos realizações e avanços significativos no aspecto social, econômico, cultural, e até, embora menos, no aspecto político. Pena que tudo o que se fez não foi suficiente.

O Meritíssimo juiz está tentando dar um basta no colapso de credibilidade do sistema judicial brasileiro e está fazendo renascer a esperança do sonho de reformar, reconstruir e reabilitar a confiança neste pilar do Estado de Direito que estávamos diariamente a deixar de ser. Não posso, contudo, celebrar sua visão excludente da Política. Nada legitima nem justifica a exclusão da Política como um dos principais espaços para o exercício da vida pública.

O que um jovem vai pensar ao ler a manchete do Estadão de hoje? Acho que poderá concluir que a Política não presta. O juiz até disse que não vê demérito na Política, mas o fato de dizer que “jamais” trilharia um caminho, acaba por condená-lo, levando em conta o peso e a dimensão de suas palavras.

Sérgio Moro faz parte de uma geração que nasceu com liberdade. Uma geração que deve à Política a liberdade de pensar, participar e discordar. Uma geração que exerce esse tributo com gosto e naturalidade. Não é por acaso que ele, acertadamente, avança contra a impunidade e a corrupção sem vênias aos que se consideram proprietários do Brasil e sem reconhecer qualquer autoridade aos que manipulam as leis para desviar recursos públicos.

Ele age da forma que age porque pode fazê-lo e isso se deve à Política. Mas, será que importará defender a política mesmo tão desacreditada? Acho que sim, até para homenagear os antepassados que garantiram aos brasileiros, além da liberdade individual, a liberdade enquanto povo soberano. Importa também para lembrar as personalidades e organizações civis que ao longo de décadas se bateram pela justiça e equidade.

Importará fazê-lo, ainda, para um momento de estímulo à reflexão sobre a nossa realidade e os nossos erros cujos responsáveis, em primeira linha são os políticos, as direções partidárias e os integrantes da elite empresarial. Mas, responsáveis são, em menor grau, os cidadãos e a Sociedade Civil porque não cuidaram de desenvolver uma colaboração exigente com o Estado.

Os brasileiros, obviamente com exceções, não respondem bem à sua responsabilidade social. A nós, e só a nós – Estado, sistema político, Sociedade Civil e mercado; enfim, partidos políticos e cidadãos – cumpre a ação e a responsabilidade de enfrentar e vencer os desafios. Somos nós (todos nós) que fazemos o nosso destino.

Aliás, o Meritíssimo juiz faz política ao usar a força e a influência que merecidamente conquistou na República para condenar o foro privilegiado, o projeto de lei do abuso de autoridade e a criminalização do caixa dois como formas de combater a impunidade e a corrupção. Tudo certo. Temos mais é de agradecer pela sua luta para resgatar a decência e a honestidade no nosso País.

A propósito: a resposta que Moro dá aos seus críticos é primorosa: “Processo é questão de prova. É errado tentar medir a Justiça por réguas ideológicas. Se a pessoa é culpada ou não, não importa se ela é de esquerda, se é de direita, se ela é de centro, tampouco importa se o juiz é de direita, se é de esquerda ou se é de centro.”

Eu também lamento que a liberdade do nosso país, uma oportunidade que devia ser de todos, tenha servido muito mais aos desonestos que não hesitaram em tentar conformar a Justiça; clientelizar o voto e condicionar a autonomia das instituições. Não é por acaso que cada vez menos brasileiros acreditam nas palavras de quem quer que seja, a começar pela dos políticos.  

É isso. A proteção da nossa liberdade implica políticas mais firmes, leis mais realistas e tribunais mais eficazes, mas só na Política podemos promover uma cultura social diferente, fazendo com que cada direito corresponda a um dever e cada liberdade corresponda a uma responsabilidade.  Só assim vamos reinventar nosso destino.

Vanda Célia