segunda-feira, 23 de maio de 2016

Bom dia!

Hoje é segunda-feira, 23 de maio de 2106. No início das semanas ninguém anda por aí a correr com promessas de indizível felicidade para os nossos destinos. Chega de ilusões e de romarias. Precisamos, acima de tudo, de sensatez e de normalidade para recomeçar. E aguentar novamente a convivência coletiva, a ideia de devemos pensar em propostas mobilizadoras, equilibradas e de acordo com o gosto médio de todos que participam da nossa comunidade. Primeiro, é bom que acabemos com esse triste hábito de achar que não temos remédio. E convém que cada um de nós faça mais do que tem feito até aqui. Quem sabe assim.. 

terça-feira, 17 de maio de 2016

Minha oração

Sou bem preparada, clara, defensora do interesse público, conhecedora, pela minha boa formação no jornalismo diário, das implicações sociais, culturais e mediáticas das principais regas da boa convivência. Tenho talento e competência. Por esta razão, sempre fui um dos alvos preferidos da má-fé dos puxa-sacos e dos medíocres.  Em parte por ser como sou e não esbanjar simpatia. 
 
Sou meio bruta com os meus amigos, sobretudo os mais íntimos, o que me tem valido uma larga debandada de interlocutores que só apreciam festas, favores e pancadinhas nas costas. Nessa brutalidade incluo o cuidado em não os deixar cair quando acredito firmemente neles. Sempre os obrigo a permanecer de pé quando gostariam de apoio para sentar. Não permito. 
 
Ajoelhar é para noivos apaixonados e para padres que rezam em igrejas pedindo misericórdia para pecadores. Não é para mim, nem para meus amigos.Temos de ser fortes. Sempre. Principalmente quando nossos adversários querem nos ver fracos e derrotados. Não vamos dar um prazer desses a eles. Isso nunca.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

BELEZA E CULTURA

"Eu digo-vos que a beleza culta existe...A mulher, toda a mulher, bela, feia, mediana, celestial, é, como dizia Pavese, um «homem de ação». E o problema é que o «homem de ação», simplesmente, não morre de amores por uma vida intelectual ativa. Pavese teve uma paixão funérea e disse que as mulheres são «homens de ação».
 
É certo: Pavese estava preso a uma necessidade maior. Queria analisar a natureza da americana Constance Dowling por quem se apaixonou tragicamente. O diário de Pavese está cheio dessa necessidade obsessiva, não sem um ressentimento difícil e embaraçoso. Mas o que importa é essa ideia realista das mulheres: as mulheres como criaturas menos falíveis, menos patéticas, menos lunáticas que os homens, as mulheres dotadas de um pragmatismo inabalável e de uma rara lucidez.
 
Para as mulheres, não existem abstrações. Por exemplo, não existe o Homem mas homens concretos e mulheres concretas. Existe o pai, o irmão ou, desculpem o termo, o companheiro; nunca o membro insípido e distante de um gênero humano. Depois, reparem que as mulheres, que nunca fizeram muitas revoluções, nunca fizeram, sobretudo, revoluções inúteis.
 
O sufragismo foi uma revolução útil. As feministas mais radicais sabem que não estão a contemplar a mefítica exploração masculina para ocupar o tempo. Querem uma nova revolução para ganhar alguma coisa. Quando os soldados portugueses partiram para a Flandres na primeira guerra mundial, as mulheres portuguesas organizaram peditórios públicos. Não era generosidade. Não era ocupação de tempos livres. Era o imenso pragmatismo feminino a funcionar.
 
Pensem num dos casais mais célebres de todos os tempos, Xantipa e Sócrates. Conhecem o que Sócrates pensava. E Xantipa? Quem era Xantipa? Discutia Parménides com o marido? Lavava o sovaco? Nada disso importa. Porque Xantipa sabia mais do que Sócrates, é o que vos digo. E talvez olhasse para o pobre com algum compassivo desprezo.
 
As mulheres não querem saber o que as coisas são. Querem saber como as coisas se apresentam, como foram ontem, como são hoje. Querem saber como fazer. A estratosfera que fique para os leitores de Heidegger. Arendt? Passo. A Sartreuse? Passo duas vezes. Doutorandas em Adorno? Give me a break.
 
Procurem uma terna beleza culta, com passagens de "Os Maias" na cabeça e o teatro de Nelson Rodrigues. Eu sei que isto existe. Eu acredito no acaso".
 
Trechos de artigo assinado pelo português Pedro Lomba
 

terça-feira, 10 de maio de 2016

"Nós somos ridículos", escreveu Dostoiévski


"Nós somos ridículos, levianos, cheios de maus hábitos, sentimos tédio, não sabemos olhar, não sabemos compreender, ora, todos nós somos assim, nós todos, e tanto os senhores quanto eu, quanto eles. Porque os senhores não vão ficar ofendidos pelo fato de eu estar lhes dizendo isto na cara, dizendo que somos ridículos. E sendo assim, por acaso os senhores não são material? Sabem, a meu ver, ser ridículo é às vezes até bom, até melhor: é mais fácil perdoar uns aos outros, é mais fácil fazer as pazes; não se vai compreender tudo de uma vez, não se vai começar diretamente pela perfeição. Para atingir a perfeição é preciso primeiro não compreender muita coisa. E se compreendemos muito rapidamente vai ver que não compreendemos bem"...

Dostoiévski

 

domingo, 8 de maio de 2016

Dia das Mães


No sorriso louco das mães batem as leves gotas de chuva. Nas amadas caras loucas batem e batem os dedos amarelos das candeias. Que balouçam. Que são puras. Gotas e candeias puras.

E as mães aproximam-se soprando os dedos frios. Seu corpo move-se pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões e órgãos mergulhados, e as calmas mães intrínsecas sentam-se nas cabeças filiais.

Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado, vendo tudo e queimando as imagens, alimentando as imagens, enquanto o amor é cada vez mais forte. E bate-lhes nas caras, o amor leve. O amor feroz. E as mães são cada vez mais belas. Pensam os filhos que elas levitam.

Flores violentas batem nas suas pálpebras. Elas respiram ao alto e em baixo. São silenciosas. E a sua cara está no meio das gotas particulares da chuva, em volta das candeias. No contínuo escorrer dos filhos.
 
As mães são as mais altas coisas que os filhos criam, porque se colocam na combustão dos filhos, porque os filhos estão como invasores dentes-de-leão no terreno das mães. E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos, e atiram-se, através deles, como jactos para fora da terra.

E os filhos mergulham em escafandros no interior de muitas águas, e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos e na agudeza de toda a sua vida. E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa, e através dele a mãe mexe aqui e ali, nas chávenas e nos garfos.

E através da mãe o filho pensa que nenhuma morte é possível e as águas estão ligadas entre si por meio da mão dele que toca a cara louca da mãe que toca a mão pressentida do filho. E por dentro do amor, até somente ser possível amar tudo, e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.

Herberto Hélder/ Blog “Das Pequenas Coisas


 

 

sábado, 7 de maio de 2016

Amizade é amor que nunca morre...

Não há, no mundo, coisa mais preciosa que um amigo. Tenho amigos de várias correntes políticas e me orgulho de todos, sem cobrar que pensem como eu e sem questionar seus atos e decisões. Agora mesmo, creio que seria mais confortável ficar silenciosa a respeito dos meus amigos Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann. Meu caráter, porém, me impede de calar por conveniência.

Discordo de Gleisi e de Paulo em muitos pontos de vista e temos visões políticas diferentes, mas somos amigos há mais de duas décadas. Por essa razão quero deixar claro que a palavra corrupção associada ao nome deles, para mim, não faz sentido. Nunca. Quando começaram as primeiras denúncias sobre isso, só pude entender que a variável eleitoral apresentava seu preço. E que o preço era elevado. Campanha política custa caro.
 
Nietzsche dizia que só a vontade de poder permite ao indivíduo tornar-se o que realmente é. É assim que se afirma a vida e se pode atingir a auto-realização. Estou certa que a busca do poder via caminho político explica muita coisa neste caso.  Meus amigos não são infalíveis. Estar livre de qualquer erro é estar livre da condição humana. E todas as vezes em que homens querem se tornar mais do que homens, eles se tornam menos do que homens.
 
Somos feitos de carne e de sonho, de dor e de esperança, de acertos e de falhas. Só espero que eles sigam firmes graças ao amor dos amigos e de todas as pessoas da família. E graças, sobretudo, às suas virtudes humanas nas quais se inclui a decência, a honestidade e a dignidade. Eles não tiveram participação em esquemas de corrupção. Estou certa também que eles não se apropriaram, em nenhum momento, para uso ou benefício pessoal, de recursos destinados a cobrir despesas eleitorais. Receberam doação eleitoral, mas não se apropriaram dela para aumentar o patrimônio.
 
Temos em nossa cultura o hábito adquirido no passado de condenar antes de julgar. Assim, toda a defesa é em vão, todo o esforço de convencer é inútil. Lamento profundamente que meus amigos tenham de enfrentar uma situação como esta. Eles deram à política e à vida pública, por vocação e por vontade própria, os melhores anos de suas vidas. Lembro até hoje do dia que conheci João, o filho deles, há mais de 15 anos. Gleisi tinha medo de dar banho no bebezinho. O bebê é tão frágil e a gente sente tanta insegurança quando é jovem... Como eu, quando chegou minha filha Júlia, Gleisinha era um pouco desajeitada. Solidarizei-me e identifiquei-me com ela.
 
Hoje, João e Gabriela são dois adolescentes grandes e lindos. Além de Dona Gegê, a mãe que sempre esteve presente, Gleise venceu os medos contando com  Paulo, bom marido e pai experiente - do primeiro casamento com Marta ele tem três filhas: Mariana e as gêmeas Clara e Natalia, hoje adultas que, além de ótimas filhas, são ótimas cidadãs. Natalia, inclusive, já lhe deu um neto.
 
Eu os conheço há muitos anos e não tenho uma só razão para duvidar da correção dos meus amigos. Dona Gegê, mãe de Gleisi, é cabeleireira e sempre viveu com muitos sacrifícios. Paulo é outro lutador, sempre ajudando a família toda, Dona Sidnéa, a mãe dele, os irmãos e as filhas. Sua maior qualidade é ser exatamente a mesma pessoa de antes e quem o conhece sabe exatamente do que estou falando.
 
Condenados de forma implacável por adversários nas redes sociais, Paulo e Gleisi não desonraram o País, seus aliados, seus amigos e suas famílias, seja por palavras, conduta ou atitudes. E, certamente, não se arrependem das escolhas que fizeram porque sempre fizeram o melhor uso possível de suas existências. Pessoas como eles, que lutam na política com clareza e frontalidade, usam momentos difíceis como teia de fortalecimento pessoal e profissional. A eles, manifesto solidariedade, amor e amizade.

Os inventores do Brasil: De Pedro II a Getúlio Vargas

OS INVENTORES DO BRASIL:DE PEDRO II A GETÚLIO VARGAS!

Palestra de FHC na Casa do Saber em 15/04/2016 - Primeira Parte. Resumo feito pelo jovem Almeida e Silva.
 
Série TV Brasil - Estreou em 30/04/20016 ás 21h 

1.  D. Pedro II
- Estruturou o Estado.
- Melhor livro deste período: “História Geral da Monarquia Brasileira” Sérgio Buarque de Hollanda.
- O PIB do Brasil no século XIX era mais diversificado do que se imagina (livro “O Banqueiro do sertão” Jorge Caldeira).
- O país era muito mais do que latifúndio + monarquia + escravidão.
- Monarquia: estatizante + corporativismo (aprimorado por Getúlio Vargas).
- D. Pedro II modernizou as Instituições: criou o poder moderador, partidos políticos (Conservador e Liberal).
- O período da monarquia produziu estadistas: Visconde de Cairu, Visconde do Uruguai, Joaquim Nabuco.

2.  Duque de Caxias
- Personagem importantíssimo, chegou a ser primeiro-ministro.
- Por ter sido presidente da província do Rio Grande do Sul, entendeu bem como se baseava o poder no Império.
 Estrutura política da época: burocracia imperial (representantes da Coroa), magistratura, Exército. Foi assim durante muito tempo.
Na medida que o exército ganhou prestígio, com a vitória na Guerra do Paraguai, e com a percepção das deficiências do estado nacional, passou a ter maior protagonismo.
Forças em contraposição: Igreja x Estado x Exército.
A forma republicana foi feita por jornalistas, intelectuais e militares, com o apoio dos agricultores paulistas (Partido Republicano Paulista).
O fim do tráfego de escravos fez com que paulistas fossem para a Europa buscar mão de obra: trouxeram italianos e espanhóis.
3.  Joaquim Nabuco
- Visão muito clara da importância instituições.
- Trabalhou na delegação do Brasil em Londres e, quando jovem, viajou muito pela Europa.
- 1º Embaixador do Brasil nos EUA.
- Tinha dúvidas de para onde ia a democracia dos EUA: opinião pública muito variável, se preocupavam mais em ganhar dinheiro do que com as coisas públicas, queriam que o Estado não atrapalhasse, e tinham forte preconceito (contra chineses, negros...).
- Era contra os preconceitos.
- Via na Inglaterra, embora monárquica, a igualdade de todos perante a lei. O juiz inglês tinha uma posição institucional que permitia a ele não fazer discriminações. A Instituição era forte.
 É preciso perceber que já no século XIX, mesmo antes de Nabuco, a grande questão nacional era como pegar um povo tão heterogêneo (índios, negros, portugueses, etc.) e dar uma norma que faça com que coexistam.
Os EUA resolveram essa questão: criou-se a mitologia dos Founding Fathers e a ideia da Constituição. Assim, impuseram a lei e a ordem. (O filme “Gangues de Nova York” mostra como era a selvageria inicial dos EUA).
 Como estabelecer uma ordem que seja legítima? D. Pedro II manteve durante o seu período.
A República precisava enraizar.

4. Rui Barbosa
- Trouxe as Instituições Americanas para o Brasil.

5.  Campos Salles
- Organizou os poderes.
- Criou a política dos governadores.
- Pacto oligárquico (café-com-leite): o chefe natural é o governador, que comanda a política da sua região.
- Na República manda o presidente.
- Poucas pessoas votam (voto a bico de pena).
- Comissão de verificação de poderes precisava aprovar os eleitos. O Presidente tinha influência sobre esta comissão.
- Colocou ordem na finanças e por isso foi muito impopular. Quem organiza as finanças é impopular (“que o dia eu”).
- Organizou a estrutura do país (pôs ordem na casa).
- Campos Salles era correto, pobre, mesmo depois da presidência. A corrupção da República Velha era a corrupção do voto.
- Nos anos 20 há uma rebelião progressiva contra o pacto criado por Campos Salles (tenentes, revolução de 22 e 24).
- Partido Único – Partido Republicano (Paulista, Mineiro, etc.). A oposição era a dissidência dentro do partido.

6.  Getúlio Vargas
- Participou de todo o jogo oligárquico, mas era mais intelectualizado. Citava Mussolini.
- Influencia positivista: visão centralizadora.
- Visava o poder unipessoal.
- Tinha ideias mais autoritárias.
- Disputou com Júlio Prestes, personagem típico da oligarquia paulista, e perdeu. Fez a revolução de 1930.
- Getúlio tentou organizar o país. Tinha horror ao toma-lá-dá-cá e da pequena política.
- A ideia dele era organizar o país através do fortalecimento do Estado.
- A partir de 1937 ficou claro sua influência Mussolinista.
- Além de organizar o Estado, queria organizar a sociedade (coisa que a oligarquia não se preocupava).
- Organizou sindicatos, e até hoje é assim: imposto sindical obrigatório.

Extraído do ex-blog de César Maia – edição sexta-feira 06 de maio de 2016

sexta-feira, 6 de maio de 2016

160 anos do nascimento de Freud

Hoje, seis de maio de 2016 , comemoram-se 160 anos do nascimento de Freud, um dos seres humanos mais geniais que existiram. Abaixo, alguns dos seus textos:.

"O meu pai deu-se um dia ao luxo desta brincadeira: abandonou à destruição, confiando-o a mim e à mais velha das minhas irmãs, um livro com estampas a cores (descrição de uma viagem pela Pérsia). No plano pedagógico, era difícil de justificar. Eu tinha então cinco anos, a minha irmã tinha menos três que eu e a imagem de nós os dois, crianças, no cúmulo da alegria, desfolhando esse livro folha a folha (como uma alcachofra) (devo dizer) é quase a única que me ficou como recordação plástica deste período da minha vida. Depois, quando me tornei estudante, desenvolveu-se em mim uma predileção manifesta por colecionar e possuir (análoga à inclinação para estudar a partir de monografias, uma paixão favorita, tal como aquela que aparece já nos pensamentos do sonho no que se refere a cíclame e a alcachofra). Tornei-me um rato de biblioteca [Bucherwurm]...

"Desde que reflito sobre mim, sempre reconduzi este primeiro capricho da minha vida a esta impressão de criança, ou antes, reconheci que esta cena infantil é uma «recordação-encobridora» da minha bibliofilia ulterior. Naturalmente, aprendi cedo que as paixões nos arrastam facilmente aos sofrimentos".[Freud, in A Auto análise de Freud e a Descoberta da Psicanálise, vol I, Edições 70, 1990]

Anotações várias:"... fala, o canto, os movimentos da língua e da pena estão investidos de um simbolismo genital: a palavra representa o pénis e o movimento da língua ou da pena, o coito. Este investimento articula-se com o prazer de ouvir, que tem a sua origem numa cena primitiva apercebida segundo o modo sonoro e que estaria na origem do interesse pela música ..." [Didier Anzieu, in Psicanálise e Linguagem, Moraes, 1979.
 
– "Não concordo quando dizem que sou sábio ou um "iniciado" na sabedoria. Certo dia um homem encheu o chapéu com água tirada de um rio. O que significa isso? Eu não sou esse rio, estou à sua margem, mas não faço parte do rio. Outros homens estão à beira do mesmo rio e em geral pensam que deveriam fazer as coisas por iniciativa própria. Eu nada faço. Nunca imaginei ser «aquele que cuida para que as cerejas tenham haste». Fico lá, de pé, admirando os recursos da natureza...

"Há uma velha lenda, muito bela, de um rabino a quem um aluno, em visita, pergunta: «Rabbi, outrora havia homens que viam Deus face a face; por que não acontece mais isso?» O Rabino respondeu: «Porque ninguém mais, hoje em dia, é capaz de inclinar-se suficientemente». É preciso, com efeito, curvar-se muito para beber no rio”...

"É pela importância que a alquimia teve para mim [Yung diz que o estudo da alquimia o absorveu por mais de 10 anos. Para o efeito seguiu uma metodologia bem curiosa] que percebi minha ligação interior com Goethe. O segredo de Goethe foi o de ter sido tomado pelo lento movimento de elaboração de metamorfoses arquetípicas que se processam através dos séculos; ele sentiu seu Fausto como uma opus magnum ou divinum - uma grande obra ou obra divina. Tinha razão, portanto, quando dizia que Fausto era sua «obra-prima»; por isso sua vida foi enquadrada por esse drama.
Percebe-se de modo impressionante que se tratava de uma substância viva que agia e vivia nele, a de um processo supra-pessoal, o grande sonho do mundus archetypus. ][C. G. Yung, Memorias Sonhos Reflexões, Rio de Janeiro, 1975]

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Por que gostamos de música?


Por que gostamos de música? Darwin considerou que uma das coisas mais misteriosas com as quais o Homem tinha sido dotado era a capacidade para apreciar e produzir musica. Não há função específica para a música nas leis da sobrevivência. Na verdade, ninguém sabe ao certo as razões que levam nosso cérebro a ficar tão enlevado com a música. E também não há explicação para a existência de tantas pessoas desafinadas.
A música, segundo Darwin, estava associada a fortes paixões, atração sexual e acasalamento. Quem se saísse melhor na arte de cantar/dançar teria maior dispersão dos genes (mais filhotes, portanto). Ele sugeriu que nossos antepassados, antes de desenvolverem a capacidade para falar, seduziam-se uns aos outros com notas e ritmos musicais. Mas será que o cérebro tem circuitos neurológicos especiais para a música?

Parece que a música apropria-se dos espaços de outras áreas e ativa zonas da recompensa e da emoção — a exemplo da comida, sexo ou drogas. Steven Pinker, da Universidade de Harvard afirma que a musica toca em partes importantes do cérebro e gera prazer. Algumas das partes incluem capacidade linguística; cortex auditivo; o sistema dos sinais emocionais da voz humana e o sistema de controle motor que impulsiona e dá ritmo aos músculos quando os humanos andam ou dançam.
 
Geoffrey Miller, autor de "The Origins of Music" e psicólogo evolutivo da Universidade do Novo Mexico, desenvolveu a teoria da seleção sexual de Darwin, reparando nas oportunidades que se oferecem aos músicos mais famosos para transmitirem os seus genes. Exemplos que ele cita: Jimmy Hendrix e Bob Marley. O primeiro deixou filhos nos EUA, Alemanha e Suíça. E Marley morreu aos 36 anos e deixou 13 filhos.
Acontece muito: se a “gata” da balada é chamada a escolher entre 1) o vocalista da banda; 2) o bonitão do pedaço ou 3)o garoto-barão que tem um carrão, o mais provável é ela ficar com o músico. As razões, segundo Miller: por estar ligada a muitas capacidades cerebrais, produzir música é sinal de saúde e inteligência, além da boa qualidade dos genes ("mentais"e "fisicos").

Música ajuda a curar. Herbert Vianna, vocalista e líder do grupo Os Paralamas do Sucesso, sofreu acidente gravíssimo de ultraleve no Rio há 15 anos. Lucy, mulher dele, morreu na queda. Herbert perdeu massa cerebral na área da linguagem e só voltou a falar graças à sua memória musical. Foi lá que o cérebro dele buscou signos e recuperou o canto e a fala.

Não dá para viver sem música. É importante nas relações sociais, ajuda na aprendizagem e na coordenação de pessoas. Sem falar no prazer pessoal. Como disse Nietzsche, “sem música a vida seria um erro.”

domingo, 1 de maio de 2016

Querido Senador Cristovam!

Brasília, 1º de maio de 2016

Querido Senador Cristovam!

O Brasil vive um momento penoso. Acabei de ver na internet um vídeo mostrando duas ou três pessoas tentando lhe constranger numa livraria, alegando discordar de um voto que o Senhor sequer proferiu. Um grupo de clientes da livraria lhe prestou solidariedade e, de pronto, reagiu aos agressores. Acredito que por detrás dessa raiva está o medo. Medo da democracia e do jogo claro que ela impõe neste momento histórico: tudo indica que o poder terá de ser repartido entre todas as correntes de pensamento, terá de ser democrático.

Além de errada, a ilusão de um só grupo político dominar um país costuma ser arrogante e autoritária, antes de se tornar progressivamente criminosa. Para enfrentar este e outros retrocessos, precisamos de informação e discernimento. E as pessoas que carregam o estandarte do debate, do confronto e da clareza, como o Senhor, são essenciais, uma vez que atuam na política levando em conta a opinião pública, a imprensa, o Parlamento, as leis e as regras da decência e da honestidade.
Fico pensando que a política no Brasil passou a funcionar como se fosse parte do mundo da bola, onde o espírito crítico e a imparcialidade foram proscritos. Tenho dificuldades de aceitar que se faça do fanatismo uma virtude, ou do tribalismo motivo de orgulho. Sei que podem existir áreas da vida em que somos irracionais, mas a política não pode pertencer ao campo da irracionalidade. Aqui devem valer os fatos e a avaliação do bem geral.
O que se vê, no entanto, são pessoas discutindo a política para dar relevo apenas ao que acreditam. Atacam quando o adversário está em causa, mas, quando se trata do aliado passam a relativizar as circunstâncias. Não dê ouvidos, Senador. Continue sua luta em favor dos mais fracos, contra a transferência da carga fiscal dos mais ricos para a classe média, contra a destruição do que resta do serviço público de saúde e em defesa, sobretudo, da política de igualdade com base na educação.
O Senhor está certo ao afirmar que a democracia impõe o respeito por alguns princípios; quando estes são infringidos, a imprensa, o Parlamento e as instituições de Justiça são meios para denunciar e até afastar os governos faltosos. Essa é a superioridade das democracias. Por isso é tão importante sua luta. Gritos e insultos não podem ameaçar e intimidar as antenas sociais e humanas de um país. E o Senhor sempre será uma das nossas antenas mais sensíveis e mais brilhantes.
Um respeitoso abraço,
Vanda C de Oliveira