sábado, 27 de fevereiro de 2016

Aniversariante do dia


Às vezes tenho uma saudade imensa de certas pessoas. Que foram lindas. E que serão lindas para sempre na minha memória. Uma delas chamava-se Rodolfo Fernandes. Inesquecível.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Você sabe o que é o amor, meu senhor?

O amor não é esse negócio de dividir a vida, ter compreensão pelos sentimentos do outro e respeitar os direitos do outro que os poetas cantam. Amor é dominação e violência. Não a dominação dos imitadores do Marquês de Sade. Muito menos a violência que os brutos usam para  atingir vulneráveis. Amor é dominação e violência emocional de gente adulta e consciente. Do tipo que rasga a alma com lâmina afiada. Respeito e compreensão devemos aos velhos. Ao amor da nossa vida roubamos isso e muito mais. Só de pensar em ficar com alguém até o fim da vida pensamos com violência e dominação.  Amor rima com dor. 
 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Não temos mais heróis...

 
Depois que Nietzsche e Freud, dois grandes entendedores da mente humana, explicaram que por trás de tudo o que fazemos tem uma segunda intenção, um forte interesse - não conseguimos mais ter heróis. Os militares, principais fornecedores de heroísmo em tempos de guerras (e da história contada com a visão de um só lado), são hoje burocratas. Os príncipes, heróis dos contos de fada, não leram sequer as advertências de Maquiavel e , em algumas ocasiões, lembram sapos em buscam de popularidade nas páginas das revistas de fofocas. Quanto aos políticos, que poderiam tentar o espaço de condutores do povo, estão com a imagem em baixa e o caminho da disputa eleitoral não é fácil. Os poucos que tentam ter discurso próximo das pessoas escoram a  retórica no moralismo ou em plataformas extremas. Assim, restam os pequenos heróis da rotina, os micro heróis como os bombeiros, as celebridades instantâneas produzidas pelas tevês e os líderes dos esportes. Sofrem de vida curta e de esquecimento longo. Deste modo, temos então o Papa Francisco que luta para ocupar o lugar de herói para atender a necessidade das pessoas que não sabem o que fazer diante da falta de heróis.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O que é uma Universidade? Freud responde

"Os historiadores ensinam-nos que a nossa pequena nação só sobreviveu à aniquilação da sua independência como Estado porque soube colocar, no patamar mais alto dos seus valores, os seus bens espirituais, a sua religião e a sua literatura (...). Uma universidade é um lugar no qual se ensina a ciência acima de todas as diferenças religiosas e nacionais; onde se faz investigação, onde se tenta mostrar aos homens até que ponto conseguem compreender o mundo que os rodeia e até que ponto podem subjugá-lo à sua ação. Esta tarefa é um nobre testemunho do desenvolvimento que o nosso povo logrou alcançar ao longo de dois mil anos de infortúnio". ( Mensagem enviada por Freud para a inauguração da Universidade Hebraica de Jerusalém e originalmente publicada na New Judea de 27 de março de 1925)

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Sabe de quem está falando?

Não compreendo porque é que a biografia e o passado dos líderes políticos - Fernando Henrique. Marina, Lula ou qualquer outro que está aí na ativa - são brandidos como cutelos cada vez que alguém discorda deles.

E não compreendo, porque entendo que a biografia, a inteligência, os projetos que apresentaram e defenderam, assim como os atos que realizaram não os deixa ao abrigo de nenhum debate.

Recordo-me de, em conversa com amigos, ter discordado das ideias de Marina sobre infraestrutura: na altura pensei, como hoje ainda penso, que Marina, que sempre se sujeitou a eleições, defendia posições que poderiam levá-la a ser vista como obstáculo ao desenvolvimento do Brasil. Um dos amigos rebateu de pronto: disse que ela era autoridade mundial em meio ambiente; tinha uma história... E daí?
 
Entendo que Marina, Lula e Fernando Henrique podem e devem ser criticados. Até em respeito às suas histórias e suas biografias. Pretender que as pessoas se calem em nome das suas "biografias", mesmo quando eles estão aí disputando eleições ou participando ativamente do processo político é desrespeitar o espírito da democracia. Ou tentar levar a coisa da política para um plano puramente emocional.
 
A emoção é boa no amor, nas artes e no futebol. No debate político, costuma atrapalhar. No debate político creio que o melhor é tentar ser interrogativo e crítico. A história não costuma perdoar clubismos, parcialidades, mentiras e falsificações.

A democracia não é importante só em momentos de consensos. A democracia serve  precisamente para os momentos das opiniões divergentes, para os momentos difíceis, quando é necessário impor regras de argumentação e de convivência para que o debate possa incluir o contraditório.  Não é bom ver apenas um lado de questão alguma. Não é assim que se obtém um conclusão lúcida ou correta do processo histórico.   

sábado, 13 de fevereiro de 2016

A beleza dos sapatos

Uma mulher com belos sapatos desvia a atenção da zona sexual para os elegantes adereços de couro, como se dissesse "para aí podes olhar, é só um engodo", dizem os psiquiatras. Qual o interesse? E qual o valor evolutivo deste gesto? Talvez o de sobreviver à predação contínua. Não seria mais fácil desviar-se da predação contínua de outras maneiras? Os caros sapatos implicam gastos, podem arruinar a coluna se os saltos forem altos demais e exigem espaços de armazenagem, mas dizem no comércio que é fácil vender sapatos a mulheres porque eles não dependem da variação do peso feminino. Nosso número é fixo. Podemos ficar mais belas com os sapatos imediatamente, sem esperar pelos efeitos de uma dieta, por exemplo. 
 
Ok, mas o  que deve estar por trás dessa história de interesse por sapatos, na verdade, é o mito da Cinderela. Quem não acredita que pode ficar mais bela com um vestido bem cortado e um par de sapatos caros? Contada e recontada com espetaculares versões hollywoodianas, a história de Cinderela faz do vestido e do sapato o passaporte que pode nos livrar a mocinha da pobreza e tirá-la, num passe de mágica de uma vida de privações e humilhações para um universo luminoso e com possibilidades infinitas. Cinderela consegue se converter no anjo que todas poderemos ser um dia. Essas coisas são tão bonitas que devem mesmo grudar no inconsciente da gente desde criança.
 
Não é por acaso que dizem o seguinte em Paris: "Mulher inteligente sabe muito bem o valor da alta costura, desde que era pequena e ouviu, pela primeira vez, a história de Cinderela". A propósito: Ganha um "croissant" quem acertar o nome da princesa da Disney da França que tem maior espaço e maior destaque no parque de diversão infantil. É isso: por trás das histórias e dos brinquedos que oferecem às crianças, está sempre o interesse da indústria, do comércio e dos serviços.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O balão do líder

Os líderes políticos sobrevivem e sempre vão além das previsões dos colunistas e dos analistas políticos. Lembro quando Arraes e Brizola voltaram do exílio. A maioria dos colunistas não previu o salto triplo que os dois deram nas pesquisas. Escrevi coluna no passado e o que posso dizer com honestidade é que também errei. Nós, jornalistas, costumamos ignorar que fatia expressiva do eleitorado sempre acha que é cedo para calçar sapatos de defunto em quem lhe deu algum valor, mesmo que no passado mais remoto. Sem falar que poucos colunistas levam em conta uma regra básica da natureza humana, ou pelo menos desde que há grupos organizados e desde que se escreve sobre eles: quanto mais se diz que há perigo, mais os humanos precisam de quem os livre dele. A crença no Messias é diretamente proporcional ao sentimento de orfandade: as pessoas querem um pai, alguém forte, de preferência num balão que paire acima delas. Por isso sopram. Ninguém sabe direito porque é assim. Mas é assim.  
 

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Armínio Fraga: Raízes Ibéricas


RAÍZES IBÉRICAS













 
Trechos interessantes de entrevista do economista Armínio Fraga, publicada na revista VEJA na década de 90: "Ainda vejo no país essa mentalidade de raízes ibéricas, de esperar que a mãe governo cuide de todos os nossos problemas. Isso precisa mudar. (...) Mas, como escreveu Eça de Queiroz, a mãe governo é pobre; como é pobre, paga pouco, e essa pobreza vai se perpetuando."
Questionado sobre o facto de já ter sido membro do Governo e de não ter concretizado as reformas que defende, afirmou:
"... no governo não basta capacidade técnica. É preciso convencer a sociedade e, em particular, os políticos a tomar decisões difíceis e que muitas vezes não dão frutos a curto prazo. É preciso enfrentar interesses particulares que se contrapõem ao bem do país como um todo. (...) Há pressões de todos os lados. São pequenos grupos, às vezes não tão pequenos assim, que buscam defender os seus interesses de maneiras visíveis e invisíveis. É uma briga inglória. A maioria é silenciosa, ao passo que esses grupos esperneiam, fazem lobby, ganham espaço na mídia e com isso abocanham fatias do Orçamento e postergam reformas."

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

VELHICE


A VIDA COMO ELA DEVIA SER
" É proba aquela velhice capaz de defender-se ela mesma, que mantém os seus direitos, não se submete a ninguém, que se auto-governa até ao último sopro de vida. "

( Cícero sobre a senectude de Catão-o-Velho; trad. de Humberto Gomes, Cotovia 1998 )