sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Ainda assim, eu levanto



Ainda assim, eu levanto

Maya Angelou (1928 - 2014)

Você me relega ao passado,
e pode mentir um tanto,
pode me jogar na lama,
como poeira, eu levanto.

Minha petulância dói?
Tristinho você se cala?
Ando como se tivesse
Petróleo na minha sala.
Como a lua e como o sol,
Como a maré por encanto,
Como a esperança que nasce,
Eu levanto.

Você quer me ver caído,
Cabeça baixa, quebranto,
Ombros moles como um choro,
Alquebrado pelo pranto?
Minha altivez o ofende?
Não me leve tão a mal,
Porque eu rio por ter minas
De ouro no meu quintal.

Vem me ferir com palavras,
O seu olhar me cortando,
Vem me matar com seu ódio,
Mas como o ar, eu levanto.

Meu desejo o transtorna?
E lhe surpreende tanto
Que eu dance com diamantes
Entre as coxas que eu levanto?
Dos barracões da História,
Eu levanto

De um passado que é só dor
Eu levanto
Sou um oceano negro, de pé,
Subindo e transbordando na maré.
Deixando pra trás as noites de medo
Eu levanto

Na clara manhã, ainda bem cedo,
Eu levanto
Os dons dos meus ancestrais alinhavo,
Sou o sonho e a esperança do escravo.
Eu levanto
Eu levanto
Eu levanto.

tradução Jorge Pontual

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Para um amigo de verdade...


 

 

Não tenho respostas
para as tuas dúvidas ou temores,
mas posso ouvir-te
e compartilhar contigo
as incertezas da vida
Não posso mudar
o teu passado
ou o teu futuro,
mas quando necessitares de mim
estarei sempre aqui
 
As tuas alegrias, os teus triunfos
e os teus êxitos não são os meus,
mas desfruto sinceramente
de grande felicidade
quando te vejo feliz...

Não posso evitar o teu sofrimento
nem impedir que alguma mágoa
parta o teu coração,
mas posso chorar contigo
e torcer para que você volte
a acreditar novamente...

Não posso voltar o tempo
nem decidir quem você foi,
somente posso amar-te como és.
"Amizade é amor que nunca morre".  
Muito obrigada por você ser 
o amigo de verdade que você é.  
Conte sempre comigo.



 
 
 
 


terça-feira, 21 de outubro de 2014

Querida Miriam Leitão



Querida Miriam Leitão!

Por que lhe escrever uma carta? Para lhe dizer que graças a pessoas corajosas como você, que lutam por democracia e liberdade, ninguém ainda se tornou dono do Brasil. Você faz da análise e da divulgação dos fatos a sua ação política. Uma ação realizada com grandeza, sentido público e sem ressentimentos. O trabalho é político porque se dirige ao público e onde há um coletivo há política.
Sua forma de ação, no entanto, vai muito além de qualquer militância partidária. Como disse Fernando Pessoa, “só há uma coisa que faz sentir ao governante que não pode abusar: é a presença sensível, quase corpórea, de uma opinião pública direta, imediata, espontânea (...), que todos os povos sãos possuem”.

Além de errada e ridícula, a ilusão de dominar um país é autoritária, antes de se tornar progressivamente criminosa. O discurso de um político, seja de que partido for, não pode ameaçar, intimidar ou sufocar as antenas sociais e humanas de um país. E você sempre será uma das nossas antenas mais sensíveis e mais brilhantes.

Por meio do jornalismo, você luta diariamente contra a falta de informação e de discernimento. Faz isso com firmeza. Nunca lhe interessou a fuga, interessa-lhe o confronto, o embate e a clareza, ainda que no escuro mais ameaçador.
Um político no poder pode achar que pode muito, mas não pode achar que o trabalho dele não é ouvir o que um cidadão, ou uma cidadã, tem a lhe dizer. É para ouvir o que as pessoas têm a dizer que os políticos são eleitos. 
Nossa história está em um momento penoso de dramatização populista, de insinuação. Por detrás disso está o medo. O medo da própria democracia e do jogo claro que ela devia impor e tornar necessário. O medo é sempre perigoso e reacionário.

Costumo dizer aos seus filhos queridos, e tão amados, os jornalistas Vladimir e Matheus, que pessoas como você vieram de outro planeta para nos mostrar que é possível viver com força, disposição e coragem.  Dá gosto dizer seu nome na frente deles e verificar, quase no mesmo instante, o brilho que surge nos olhos dos seus meninos.
Um grande e afetuoso abraço,

Vanda Célia

 

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Eu e a aposentadoria



Fazer alguma coisa é mesmo melhor que não fazer nada? De repente, fiquei com vontade de tirar um ano de folga, ou ano sabático, como uma espécie de treinamento para a aposentadoria. Isso vai obrigar-me a repensar o modo de vida e a forma como lido com as coisas mais banais: o preço do remédio da pressão, as compras na feira, as compras de Natal, a mania de ter novos sapatos e as idas a restaurantes.

Sou muito desligada da vida prática. Não fico fazendo contas e nem pechinchando. Com a aposentadoria, no entanto, dificilmente poderei encarar o futuro com a mesma leviandade da minha vida de antes, quando os bons ganhos sustentavam quase todos os desejos de consumo.

Se abrir mão do salário que tenho, vou ganhar bem menos. Isso significa ficar mais pobre. É ruim? Bom não é, mas acredito, sinceramente, que não será de todo mau. Penso que posso até enxergar alguma vantagem, se tiver algum tempo para ficar de pernas para o ar.

Não gosto de queixar-me, mas, a prosperidade sempre me custou muito em energia e em desgaste emocional. Como a maioria da minha geração, trabalhei duro. Nunca tirei férias de 30 dias (no máximo 20). Depois de tantos anos no batente. acho que faço jus a alguns períodos de folga.

Voltarei a ser uma pessoa de gastos mais simples e, provavelmente, com um estoque menor de ilusões. O poder de compra garante muitas alegrias e ilusões. Ok, tudo bem, ninguém morre de tristeza se é obrigado a andar por aí usando um casaco com cotoveleiras.

O que realmente importa é a vida que conseguimos construir, os livros que temos de ler e de reler, as músicas que vamos cantarolar, os amigos com quem queremos conversar e as nossas doces lembranças. Assim serão os anos que vêm.

domingo, 5 de outubro de 2014

Um Salve à Cidadania!


5 de outubro 2014 - Eleições e Cidadania
Celebrar o Brasil hoje e sempre para prestar a justa homenagem aos que baniram a ditadura,  resgataram a democracia e, com sua ação, restituíram aos brasileiros a liberdade individual e a liberdade enquanto povo soberano.

Celebrar o Brasil para nos lembrarmos todos, mas, em especial, para lembrar aos mais novos que a liberdade é resultado da vontade e da ação paciente e persistente do homem e das instituições.

Celebrar o Brasil para refletir sobre o momento que vivemos. Só as sociedades capazes de uma reflexão sistemática sobre sua realidade, histórica e presente, realizam as reformas necessárias ao avanço de sua gente.
Celebrar o Brasil para assinalar que a Democracia não é aquisição definitiva, mas fruto do nosso esforço e do nosso compromisso diário com a liberdade e os valores da cidadania.

E, finalmente, celebrar o Brasil para não esquecer as personalidades e as organizações civis que, ao longo de décadas, se bateram pela Justiça e a equidade.