quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

VIOLÊNCIA NO BRASIL


O MAPA DA VIOLÊNCIA NO BRASIL

As estatísticas macabras sobre a violência que enchem de dor e de tristeza o dia a dia de inúmeras famílias e que mancham de sangue a imagem do País 

De janeiro de 2011 a dezembro de 2015, 278.839 pessoas foram mortas no País, número maior do que o de mortos na guerra da Síria, onde 256.124 morreram no mesmo período. Para avaliar o impacto deste fato: uma pessoa é assassinada a cada 9 minutos no Brasil. Ao longo de um dia ocorrem 160 assassinatos. Em 2016, foram mortos violenta e intencionalmente 58.383 brasileiros.

Os estados das regiões Nordeste e Norte lideram o ranking com altas taxas de assassinatos. Os primeiros cinco colocados: Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Ceará e Pará. Os estados que registraram as menores taxas de mortes violentas intencionais foram São Paulo (11,7), Santa Catarina (14,3) e Roraima (18,2).

Em 2015, das 50 cidades com maior taxa de homicídios por 100 mil habitantes,  um total de 21 são brasileiras. Fortaleza é a cidade mais violenta. Em seguida vem Natal, depois Salvador e região metropolitana e João Pessoa.

Das 50 cidades, nada menos que 41 ficam na América Latina: 21 no Brasil, 8 na Venezuela, 5 no México, 3 na Colômbia, 2 em Honduras, uma em El Salvador e uma na Guatemala. Outros países com cidades na lista são África do Sul, Estados Unidos e Jamaica.

AS CIDADES MAIS VIOLENTAS DO MUNDO

1° - Caracas (Venezuela) - 119.87 homicídios/100 mil habitantes

2° - San Pedro Sula (Honduras) - 111.03

3° - San Salvador (El Salvador) - 108.54

4° - Acapulco (México) - 104.73

5° - Maturín (Venezuela) - 86.45

6° - Distrito Central (Honduras) - 73.51

7° - Valencia (Venezuela) - 72.31

8° - Palmira (Colômbia) - 70.88

9° - Cidade do Cabo (África do Sul) - 65.53

10° - Cali (Colômbia) - 64.27

11° - Ciudad Guayana (Venezuela) - 62.33

12° - Fortaleza (Brasil) - 60.77

13° - Natal (Brasil) - 60.66

14° - Salvador e região metropolitana (Brasil) - 60.63

15° - ST. Louis (Estados Unidos) - 59.23

16° - João Pessoa; conurbação (Brasil) - 58.40

17° - Culiacán (México) - 56.09

18° - Maceió (Brasil) - 55.63

19° - Baltimore (Estados Unidos) - 54.98

20° - Barquisimeto (Venezuela) - 54.96

21° - São Luís (Brasil) - 53.05

22° - Cuiabá (Brasil) - 48.52

23° - Manaus (Brasil) - 47.87

24° - Cumaná (Venezuela) - 47.77

25° - Guatemala (Guatemala) - 47.17

26° - Belém (Brasil) - 45.83

27° - Feira de Santana (Brasil) - 45.50

28° - Detroit (Estados Unidos) - 43.89

29° - Goiânia e Aparecida de Goiânia (Brasil) - 43.38

30° - Teresina (Brasil) - 42.64

31° - Vitória (Brasil) - 41.99

32° - Nova Orleans (Estados Unidos) - 41.44

33° - Kingston (Jamaica) - 41.14

34° - Gran Barcelona (Venezuela) - 40.08

35° - Tijuana (México) - 39.09

36° - Vitória da Conquista (Brasil) - 38.46

37° - Recife (Brasil) - 38.12

38° - Aracaju (Brasil) - 37.70

39° - Campos dos Goytacazes (Brasil) - 36.16

40° - Campina Grande (Brasil) - 36.04

41° - Durban (África do Sul) - 35.93

42° - Nelson Mandela Bay (África do Sul) - 35.85

43° - Porto Alegre (Brasil) - 34.73

44° - Curitiba (Brasil) - 34.71

45° - Pereira (Colômbia) - 32.58

46° - Victoria (México) - 30.50

47° - Johanesburgo (África do Sul) - 30.31

48° - Macapá (Brasil) - 30.25

49° - Maracaibo (Venezuela) - 28.85

50° - Obregón (México) - 28.29

Fonte: 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

São Paulo era político...

“Porque, sendo livre e não pertencendo a ninguém, fiz-me de escravo de todos, para ganhar muitos deles. Para os judeus, fiz-me de judeu, para ganhar os judeus; para aqueles observadores da lei, me tornei alguém observador da lei (embora não tivesse de observar a lei), para ganhar os observadores da lei. Para os que não observam a lei, me tornei alguém que não observa a lei (apesar de não estar livre da lei de Deus e observando a lei de Cristo), para ganhar os que não observam a lei. Fiz-me de fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns”.

Carta de Paulo aos coríntios
(1 Coríntios 9:19-23), Bíblia Sagrada - Edição 2013 Vozes 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Alexandre O'Neill


Se fosse vivo, Alexandre O'Neill estaria completando noventa e um anos depois de amanhã, 19 de dezembro. Era poeta,  cronista e publicitário. Escreveu textos magníficos. Até o epitáfio que sugeriu para seu túmulo era genial: 

"Aqui jaz Alexandre O’Neill

Um Homem que dormiu muito pouco

Bem merecia isto»



segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Adelia Prado faz 82 anos hoje

As Mortes Sucessivas, de Adélia Prado

Quando minha irmã morreu eu chorei muito
e me consolei depressa. Tinha um vestido novo
e moitas no quintal onde eu ia existir.
Quando minha mãe morreu, me consolei mais lento.
Tinha uma perturbação recém-achada:
meus seios conformavam dois montículos
e eu fiquei muito nua,
cruzando os braços sobre eles é que eu chorava.
Quando meu pai morreu, nunca mais me consolei.
Busquei retratos antigos, procurei conhecidos,
parentes, que me lembrassem sua fala,
seu modo de apertar os lábios e ter certeza.
Reproduzi o encolhido do seu corpo
em seu último sono e repeti as palavras
que ele disse quando toquei seus pés:
´deixa, tá bom assim´.
Quem me consolará desta lembrança?
Meus seios se cumpriram
e as moitas onde existo
são pura sarça ardente de memória.

Poema integra o livro "Bagagem", de Adélia Prado, publicado pela Editora Record que reedita toda a obra da poeta.

PS: Adélia Prado faz 82 anos hoje. Fiquei comovida ao ler que é dia do seu aniversário. Eu a acompanho há anos e tudo dela me comove. Em 2006, muita gente chorou quando a escritora mineira Adélia Prado leu, pela primeira vez, "As Mortes Sucessivas" para a plateia da 4.ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).  Foi um momento inesquecível e emocionante.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Um brasileiro extraordinário


Um dos grandes amigos que tenho, o ex-senador Jorge Bornhausen será homenageado amanhã em Santa Catarina com a medalha Anita Garibaldi, a maior condecoração do Estado. Ele faz por merecer os aplausos que lhe são concedidos. Durante seis ou sete anos tive a honra de fazer parte da sua equipe (assessoria de imprensa) no Senado. Só tenho a agradecer pela honrosa convivência.

Quem só o enxerga de longe, vê a imagem de um político severo, mas ele é extremamente gentil no convívio pessoal, além de um amigo leal e generoso. Nunca dei por intervenção sua que fosse inoportuna ou banal. Ele sempre está à altura dos fatos, das conversas e dos debates.

Age com cautela e sabedoria, mas não teme a polêmica. Exigente, mas capaz de reconhecer o esforço dos outros, é rigoroso e combate a ideia de uma cultura sem esforço e sem disciplina. Racional, recebe críticas injustas, mas não se queixa porque sabe que todo o poder tem preço e quem vai à guerra dá e leva. Por essa razão, mesmo sendo firme em suas convicções políticas, reserva espaço para o contra-ataque dos adversários.

Sei que o uso manda que em períodos de homenagens se enalteçam apenas as virtudes, mas na minha amizade pelo ex-senador não cabe a hipocrisia. Seria diminuí-lo dizê-lo infalível. Ninguém o é. Como a maioria de nós ele erra. Mas em muito ele se distingue do comum: pela inteligência, pelo conhecimento, pela clareza do raciocínio, a gentileza e o sentido público.

Jorge Bornhausen gosta muito mais do Brasil do que o Brasil gosta dele. Ele é forte sem precisar fazer ninguém de fraco. Nunca o vi usar sua inteligência, os cargos que conquistou na política ou sua dimensão humana para diminuir quem quer que seja. É por estas e muitas outros razões que cumprimento o Governo de Santa Catarina pela homenagem a Jorge Bornhausen, um brasileiro extraordinário que põe a integridade acima dos jogos e interesses da política.


Brasília, 8 de dezembro de 2016

Vanda Célia


domingo, 4 de dezembro de 2016

Uma história de Ferreira Gullar


Em 1989, militantes do Partidão convocaram uma reunião no Rio para avaliar a campanha de Roberto Freire à Presidência da República.

Um dos presentes disse a Freire que ele não deveria falar que não acreditava em Deus porque, se ficasse repetindo isso, correria o risco de não ir ao segundo turno da disputa. Todo o mundo ficou em silêncio mas antes que Freire respondesse, Ferreira Gullar disse, do fundo da sala, com aquele vozeirão:
- Mesmo porque Roberto, se você for ao segundo turno, Deus existe!

Poemas de Ferreira Gullar


Ferreira Gullar

Ferreira Gullar morreu hoje, 4 de dezembro de 2016. Era o maior poeta vivo da literatura brasileira. Sua poesia engajada – ele sempre foi do Partidão - era um importante instrumento de denúncia social desde 1950. Ele pertencia ao Centro Popular de Cultura (CPC), grupo de intelectuais de esquerda criado em 1961, no Rio de Janeiro, cujo objetivo era defender o caráter coletivo e didático da obra de arte, bem como o engajamento político do artista. Perseguido pela ditadura militar, Ferreira Gullar exilou-se na Argentina durante os anos de repressão. Em 2014, aos 84 anos, foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras, ocupando a Cadeira de número 37, que pertencera ao escritor Ivan Junqueira, morto nesse mesmo ano.
Não há vagas 


Não há vagas

O preço do feijão

não cabe no poema. O preço

do arroz

não cabe no poema.

Não cabem no poema o gás

a luz o telefone

a sonegação

do leite

da carne

do açúcar

do pão

O funcionário público

não cabe no poema

com seu salário de fome

sua vida fechada

em arquivos.

Como não cabe no poema

o operário

que esmerila seu dia de aço

e carvão

nas oficinas escuras

– porque o poema, senhores,

está fechado:

“não há vagas”

Só cabe no poema

o homem sem estômago

a mulher de nuvens

a fruta sem preço

O poema, senhores,

não fede

nem cheira.





Poema: Traduzir-se – Ferreira Gullar

Traduzir-se

Uma parte de mim

é todo mundo:

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.

Uma parte de mim

é multidão:

outra parte estranheza

e solidão.

Uma parte de mim

pesa, pondera:

outra parte

delira.

Uma parte de mim

almoça e janta:

outra parte

se espanta.

Uma parte de mim

é permanente:

outra parte

se sabe de repente.

Uma parte de mim

é só vertigem:

outra parte,

linguagem.

Traduzir-se uma parte

na outra parte

– que é uma questão

de vida ou morte –

será arte?



Poema: No corpo – Ferreira Gullar

No corpo

De que vale tentar reconstruir com palavras

O que o verão levou

Entre nuvens e risos

Junto com o jornal velho pelos ares

O sonho na boca, o incêndio na cama,

o apelo da noite

Agora são apenas esta

contração (este clarão)

do maxilar dentro do rosto.

A poesia é o presente.





Poema: Poemas Neoconcretos I – Ferreira Gullar

Poemas Neoconcretos I

mar azul

mar azul marco azul

mar azul marco azul barco azul

mar azul marco azul barco azul arco azul

mar azul marco azul barco azul arco azul ar azul



Poema: Aprendizado – Ferreira Gullar

Aprendizado

Do mesmo modo que te abriste à alegria

abre-te agora ao sofrimento

que é fruto dela

e seu avesso ardente.

Do mesmo modo

que da alegria foste

ao fundo

e te perdeste nela

e te achaste

nessa perda

deixa que a dor se exerça agora

sem mentiras

nem desculpas

e em tua carne vaporize

toda ilusão

que a vida só consome

o que a alimenta.



Poema: Um Instante – Ferreira Gullar

Aqui me tenho/ Como não me conheço/ nem me quis/ sem começo/ nem fim/ aqui me tenho/ sem mim/ nada lembro/ nem sei/ à luz presente/ sou apenas um bicho/ transparente.

Poema: Subversiva – Ferreira Gullar

Subversiva

A poesia

Quando chega

Não respeita nada.

Nem pai nem mãe.

Quando ela chega

De qualquer de seus abismos

Desconhece o Estado e a Sociedade Civil

Infringe o Código de Águas

Relincha

Como puta

Nova

Em frente ao Palácio da Alvorada.

E só depois

Reconsidera: beija

Nos olhos os que ganham mal

Embala no colo

Os que têm sede de felicidade

E de justiça.

E promete incendiar o país.





Poema: Os mortos – Ferreira Gullar

Os mortos

os mortos vêem o mundo

pelos olhos dos vivos

eventualmente ouvem,

com nossos ouvidos,

certas sinfonias

algum bater de portas,

ventanias

Ausentes

de corpo e alma

misturam o seu ao nosso riso

se de fato

quando vivos

acharam a mesma graça





Poema: Cantiga para não morrer – Ferreira Gullar

Cantiga para não morrer

Quando você for se embora,

moça branca como a neve,

me leve.

Se acaso você não possa

me carregar pela mão,

menina branca de neve,

me leve no coração.

Se no coração não possa

por acaso me levar,

moça de sonho e de neve,

me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa

por tanta coisa que leve

já viva em seu pensamento,

menina branca de neve,

me leve no esquecimento.



Poema: Prometi-me Possuí-la – Ferreira Gullar

Prometi-me Possuí-la

Prometi-me possuí-la muito embora

ela me redimisse ou me cegasse.

Busquei-a na catástrofe da aurora,

e na fonte e no muro onde sua face,

entre a alucinação e a paz sonora

da água e do musgo, solitária nasce.

Mas sempre que me acerco vai-se embora

como se temesse ou me odiasse.

Assim persigo-a, lúcido e demente.

Se por detrás da tarde transparente

seus pés vislumbro, logo nos desvãos

das nuvens fogem, luminosos e ágeis!

Vocabulário e corpo — deuses frágeis —

eu colho a ausência que me queima as mãos.

[Poemas Portugueses]





Poema: Extravio – Ferreira Gullar

Extravio

Onde começo, onde acabo,

se o que está fora está dentro

como num círculo cuja

periferia é o centro?

Estou disperso nas coisas,

nas pessoas, nas gavetas:

de repente encontro ali

partes de mim: risos, vértebras.

Estou desfeito nas nuvens:

vejo do alto a cidade

e em cada esquina um menino,

que sou eu mesmo, a chamar-me.

Extraviei-me no tempo.

Onde estarão meus pedaços?

Muito se foi com os amigos

que já não ouvem nem falam.

Estou disperso nos vivos,

em seu corpo, em seu olfato,

onde durmo feito aroma

ou voz que também não fala.

Ah, ser somente o presente:

esta manhã, esta sala.





Poema: Madrugada – Ferreira Gullar

Madrugada

Do fundo de meu quarto, do fundo

de meu corpo

clandestino

ouço (não vejo) ouço

crescer no osso e no músculo da noite

a noite

a noite ocidental obscenamente acesa

sobre meu país dividido em classes.





Neste Leito de Ausência – Ferreira Gullar

Neste Leito de Ausência

Neste leito de ausência em que me esqueço

desperta o longo rio solitário:

se ele cresce de mim, se dele cresço,

mal sabe o coração desnecessário.

O rio corre e vai sem ter começo

nem foz, e o curso, que é constante, é vário.

Vai nas águas levando, involuntário,

luas onde me acordo e me adormeço.

Sobre o leito de sal, sou luz e gesso:

duplo espelho — o precário no precário.

Flore um lado de mim? No outro, ao contrário,

de silêncio em silêncio me apodreço.

Entre o que é rosa e lodo necessário,

passa um rio sem foz e sem começo.

[Poemas Portugueses]





Meu povo, meu poema – Ferreira Gullar

Meu povo, meu poema

Meu povo e meu poema crescem juntos

como cresce no fruto

a árvore nova

No povo meu poema vai nascendo

como no canavial

nasce verde o açúcar

No povo meu poema está maduro

como o sol

na garganta do futuro

Meu povo em meu poema

se reflete

como a espiga se funde em terra fértil

Ao povo seu poema aqui devolvo

menos como quem canta

do que planta



Poema: MINHA MEDIDA – Ferreira Gullar

MINHA MEDIDA

Meu espaço é o dia

de braços abertos

tocando a fímbria de uma e outra noite

o dia

que gira

colado ao planeta

e que sustenta numa das mãos a aurora

e na outra

um crepúsculo de Buenos Aires

Meu espaço, cara,

é o dia terrestre

quer o conduzam os pássaros do mar

ou os comboios da Estrada de Ferro Central do Brasil

o dia

medido mais pelo pulso

do que

pelo meu relógio de pulso

Meu espaço — desmedido —

é o nosso pessoal aí, é nossa

gente,

de braços abertos tocando a fímbria

de uma e outra fome,

o povo, cara,

que numa das mãos sustenta a festa

e na outra

uma bomba de tempo.

Fonte: site Escola Educação

domingo, 13 de novembro de 2016

Eu, a América e Donald Trump


Muita gente boa escreveu sobre a vitória de Donald Trump. Sei menos da história dos Estados Unidos do que gostaria, mas também tenho observações. Acho que nada nos Estados Unidos deve ser visto de uma única maneira, uma vez que os norte-americanos agem c/ duplicidade: falam em liberdade/democracia e patrocinam ditadores.

Invocam os direitos humanos e adotam a pena de morte. Além disso, lucram vendendo armas para quem estiver interessado. Sem esquecer que argumentam sobre soberania, mas, não hesitam em invadir o território dos outros. Seriam então os Estados Unidos piores do que outras nações? Não. No contexto internacional não há santidade. A duplicidade faz parte da política, notadamente da política externa. Não há Estados inocentes.  

Donald Trump assusta por ser fanfarrão, trapalhão e ignorante em política internacional. O cenário com ele sinaliza isolacionismo da única superpotência do planeta. Acho, porém, que Trump parece tão interessado em ganhar, em ser sempre campeão, que pode ir melhorando com os dias e até mostrar-se à altura do posto que conquistou.

O compromisso de Trump contra o terrorismo não difere das promessas dos demais republicanos que ocuparam a Casa Branca e não deixaram o mundo acabar. A propósito: eles contam com grandes quadros, caso de Colin Powell, por exemplo. São quadros que, no caso da guerra ao terror, não são pacifistas e tampouco neófitos. O Estado Islâmico é a besta a enfrentar e, nesta guerra, tenho lado. Torço pelo triunfo de Trump e da América.

domingo, 6 de novembro de 2016

Reflexões sobre a entrevista de Sérgio Moro

Li a entrevista do juiz Sérgio Moro no jornal O Estado de S. Paulo neste domingo, 6 de novembro de 2016. Estou impressionada com sua segurança e seu estilo direto: ‘Jamais entraria para a política’, ele disse. Acredito que o Meritíssimo Juiz sabe que, ao dizer isso, está excluindo a Política dos caminhos mais nobres a serem trilhados. Eu diria até que algumas pessoas poderão entender a afirmação como “demonização” da política.

Discordo tão completamente das suas palavras neste ponto que resolvi manifestar minha opinião: só por meio da Política o Brasil vai se inserir no espaço civilizacional que mais consolidou a dignidade do ser humano. Aliás, apesar de todos os obstáculos, o País deve aos seus governos realizações e avanços significativos no aspecto social, econômico, cultural, e até, embora menos, no aspecto político. Pena que tudo o que se fez não foi suficiente.

O Meritíssimo juiz está tentando dar um basta no colapso de credibilidade do sistema judicial brasileiro e está fazendo renascer a esperança do sonho de reformar, reconstruir e reabilitar a confiança neste pilar do Estado de Direito que estávamos diariamente a deixar de ser. Não posso, contudo, celebrar sua visão excludente da Política. Nada legitima nem justifica a exclusão da Política como um dos principais espaços para o exercício da vida pública.

O que um jovem vai pensar ao ler a manchete do Estadão de hoje? Acho que poderá concluir que a Política não presta. O juiz até disse que não vê demérito na Política, mas o fato de dizer que “jamais” trilharia um caminho, acaba por condená-lo, levando em conta o peso e a dimensão de suas palavras.

Sérgio Moro faz parte de uma geração que nasceu com liberdade. Uma geração que deve à Política a liberdade de pensar, participar e discordar. Uma geração que exerce esse tributo com gosto e naturalidade. Não é por acaso que ele, acertadamente, avança contra a impunidade e a corrupção sem vênias aos que se consideram proprietários do Brasil e sem reconhecer qualquer autoridade aos que manipulam as leis para desviar recursos públicos.

Ele age da forma que age porque pode fazê-lo e isso se deve à Política. Mas, será que importará defender a política mesmo tão desacreditada? Acho que sim, até para homenagear os antepassados que garantiram aos brasileiros, além da liberdade individual, a liberdade enquanto povo soberano. Importa também para lembrar as personalidades e organizações civis que ao longo de décadas se bateram pela justiça e equidade.

Importará fazê-lo, ainda, para um momento de estímulo à reflexão sobre a nossa realidade e os nossos erros cujos responsáveis, em primeira linha são os políticos, as direções partidárias e os integrantes da elite empresarial. Mas, responsáveis são, em menor grau, os cidadãos e a Sociedade Civil porque não cuidaram de desenvolver uma colaboração exigente com o Estado.

Os brasileiros, obviamente com exceções, não respondem bem à sua responsabilidade social. A nós, e só a nós – Estado, sistema político, Sociedade Civil e mercado; enfim, partidos políticos e cidadãos – cumpre a ação e a responsabilidade de enfrentar e vencer os desafios. Somos nós (todos nós) que fazemos o nosso destino.

Aliás, o Meritíssimo juiz faz política ao usar a força e a influência que merecidamente conquistou na República para condenar o foro privilegiado, o projeto de lei do abuso de autoridade e a criminalização do caixa dois como formas de combater a impunidade e a corrupção. Tudo certo. Temos mais é de agradecer pela sua luta para resgatar a decência e a honestidade no nosso País.

A propósito: a resposta que Moro dá aos seus críticos é primorosa: “Processo é questão de prova. É errado tentar medir a Justiça por réguas ideológicas. Se a pessoa é culpada ou não, não importa se ela é de esquerda, se é de direita, se ela é de centro, tampouco importa se o juiz é de direita, se é de esquerda ou se é de centro.”

Eu também lamento que a liberdade do nosso país, uma oportunidade que devia ser de todos, tenha servido muito mais aos desonestos que não hesitaram em tentar conformar a Justiça; clientelizar o voto e condicionar a autonomia das instituições. Não é por acaso que cada vez menos brasileiros acreditam nas palavras de quem quer que seja, a começar pela dos políticos.  

É isso. A proteção da nossa liberdade implica políticas mais firmes, leis mais realistas e tribunais mais eficazes, mas só na Política podemos promover uma cultura social diferente, fazendo com que cada direito corresponda a um dever e cada liberdade corresponda a uma responsabilidade.  Só assim vamos reinventar nosso destino.

Vanda Célia


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Prezados Prefeitos!


Prezados prefeitos eleitos,

Prezadas prefeitas eleitas,

Não se esqueçam que o Brasil tem carência de engenheiros, cientistas e pesquisadores. Não gera tecnologia própria em quase nenhum setor. Na verdade, o trabalhador brasileiro tem a escolaridade média dos países mais pobres do planeta. Parcela significativa de adolescentes brasileiros de 15 anos não consegue escrever um bilhete nem fazer um cálculo que não seja adição. 

Melhoramos em muitos aspectos sim, mas há muito a fazer. Metade dos domicílios está sem acesso a esgoto. E a violência cresceu demais nos últimos anos. No período de 2011 a 2015,  278.839 brasileiros foram vítimas da violência, número superior aos 256.124 mortos no conflito da Síria. Em cinco anos, nosso País teve mais assassinatos que a Síria. 

A insegurança impede a cidadania. Prefeitos devem participar sim, por meio da organização e do treinamento de guardas municipais, da luta contra o aumento da criminalidade e no combate às drogas ilícitas. Ninguém está dispensado de participar da guerra contra a violência. 

A vida das pessoas não está nada fácil. O trânsito anda infernal e a espera exaspera.

O melhor caminho é investir em Educação e fazer reformas para combater o desperdício e a corrupção. As máquinas públicas podem e devem prestar bons serviços de Saúde e Educação, além de investir em programas que gerem emprego e renda. Um bom ambiente nas cidades vai melhorar, com certeza, o futuro de todos. 

A desigualdade é o mal a enfrentar. Em todos os momentos e em todas as áreas. Cidade nenhuma será boa para os visitantes se não for boa para seus moradores. Os melhores prefeitos são próximos, vão à feira, ao posto de saúde e visitam as escolas e as obras de saneamento. Ser prefeito é ser uma espécie de irmão mais velho do cidadão. 

Muitas coisas estão sendo feitas na área social, conforme atestam os resultados do IBGE, mas há muito trabalho a fazer. Coisa boa de comemorar, por exemplo, é a queda da desigualdade. O índice de Gini vem continuamente caindo no Brasil, mas o ritmo é muito lento. Prefeitos e prefeitas podem acelerar esta queda com coragem, força e perseverança. 

Uma pessoa pode mover para melhor o mundo de outras pessoas, se souber mover direito. A prefeitura é a instância de poder mais próxima das pessoas. Essa proximidade faz do prefeito o vizinho que pode acudir na hora do aperto e ajudar os que dependem do poder público para garantir a sobrevivência. Espero que cuidem dos aflitos, os que mais precisam de cuidados. 

Como minha formação é na área da imprensa, não posso encerrar sem uma palavra a respeito: informem as pessoas. O exercício da vida pública exige transparência e implica tolerância com a liberdade de opinião dos outros, uma das condições da vida democrática. Ouçam as críticas com interesse e paciência. Em algumas vezes, quem critica pode ajudar até mais do que o pessoal que só bajula.


É isso, muita obrigada pela atenção,

Vanda Célia, cidadã brasileira

sábado, 22 de outubro de 2016

Aos filhos, por Jorge Sena

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente â secular justiça,
para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.»
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de urna classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de té-1a.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém
está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam “amanhã”.
E por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.

Jorge de Sena
Carta a meus filhos
Sobre os fuzilamentos de Goya

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Tolerância

A democracia é para todos e a culpa é dos gregos, não há o que fazer a respeito. Por essa razão tenho certa birra daqueles que proclamam a democracia como se fossem donos dela, mas na hora do voto na urna preferiam que só eles (e os que pensam como eles) pudessem votar. Tem gente assim em todas as correntes de opinião. Para identifica-los basta prestar atenção naqueles que vivem criticando as opções de voto dos outros quando a democracia indica um caminho contrário ao que desejavam. A boa notícia é que existe cura para este mal: tolerância. Sim, tolerância. A democracia é para todos. É chato, mas é assim que é. E assim deve ser.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Nevoeiro, Fernando Pessoa

NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ância distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
Fernando Pessoa

domingo, 2 de outubro de 2016

Declaração de voto


Meu candidato à Presidência da República em 2018 deve ousar contrariar o centrismo dominante, o direitismo reacionário e o esquerdismo ultrapassado. E que Deus me livre e guarde de quem busca a política para renegar a política. Nossos erros já duram demais. Fora da política não há solução política.
Gostaria de ler programa conjugando valores conservadores (trabalho & propriedade) e liberais (menos impostos, menos poder sindical) com forte inclusão social. Gostaria também de ouvir um candidato dizendo «os nossos amigos norte-americanos» com altivez, sem ironias e provocações inócuas, mas, sobretudo, sem ser servil e obediente. 

A política externa deveria ser prudente e corajosa, incluindo temas da imigração e da segurança. E todo o seu sentido deve ser no combate à desigualdade. A desigualdade é um tema que não deve ser monopólio dos setores radicais, nem reclama respostas radicais, mas exige saídas responsáveis e imediatas, de curto e médio prazo.

Defenderei um candidato com a retórica da grandeza(compatível com a nossa geografia) que tenha coragem para respirar autoridade, sem abraçar o atraso, o autoritarismo e a  truculência. Que abrace ideias novas ou esquecidas, mas que renegue e abomine a violência, a criminalização dos pobres e dos que precisam do Estado.

Lamentavelmente, setores de centro, incluindo o centro-esquerda, e quase todos os campos à direita, adotam a onda da não-política. Levam em conta que a população, nessa altura, só quer as delícias da televisão e do consumismo. E acham que podem levar vantagem porque a maioria dá sinais que abandonou os discursos ideológicos baseados em análises datadas.

Á esquerda, prevalece a derrocada dos líderes, quase todos suspeitos de corrupção, enriquecimento ilícito e desvios de verbas públicas. Sobre este momento dos setores de esquerda cumpre dizer, honestamente, o seguinte: se renovar, abandonando seu principal e único líder, Lula, acaba. Se não se renovar, acabará do mesmo modo.

Finalmente gostaria de dizer que não estou aqui pregando o fim de nenhum partido, nem pretendo a renovação dos conservadores. Já disse e repito: escrevo aqui apenas o que penso, defendendo as minhas ideias, e não tenho qualquer outra ambição que não essa.

Leonard Cohen

Invísivel esta noite
Sou invisível esta noite
só algumas mulheres tímidas me vêem
em todos os meus odiosos dias de visibilidade
ansiei pelo sorriso delas
agora elas debruçam-se dos seus tristes
planos-para-logo-à-noite
para que nos saudemos uns aos outros.
Irmãs
irmãs do meu povo destroçado
que seguem amantes de terceira escolha
elas sorriem para mim dizendo
que nunca nos encontraremos
enquanto permitirmos que
continue este estado de coisas
em que somos nós os miseráveis

Leonard Cohen

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

VAMOS FALAR DE MISOGINIA?


Dilma caiu agarrada a todo tipo de argumento, incluindo o fato de ser mulher. Fiquei pensando na insensibilidade dela com o legado que recebeu das mulheres. Ninguém encontra o mundo pronto, todos sabem disso, mesmo ingratos e mal agradecidos. Antes de Dilma, o Brasil teve, no topo do Poder, a Princesa Isabel. Sempre achei estranho e incompreensível o fato de Dilma não fazer referência a este fato histórico.

Em 1889, uma das razões para a deposição do impoluto D. Pedro II consistiu na falsa questão sucessória porque as oligarquias não toleravam ter como Chefe de Estado uma mulher, mesmo sendo ela A Redentora. Aquilo era misoginia, perseguição e ruptura violenta. Dilma fica com dois motoristas, um staff à disposição e verba para seu sustento? Dilma não foi exilada? Seus direitos políticos estão preservados? Isabel teve de fugir no meio da madrugada. A família inteira embarcada às escondidas para que o povo não visse e não se revoltasse. Os bens da família imperial foram apropriados pelo "novo regime", os palácios do Estado vandalizados e despejados do conteúdo histórico.

Até os móveis foram dispersos, os quadros e bibelots divididos ou roubados, enfim, o que sobrou foi a leilão, ou hasta pública. Hoje, felizmente, o mundo é outro. A misoginia resiste, mas Dilma não caiu por ser mulher. Ao contrário. Ela chegou lá, entre outras razões, por ser mulher. A sociedade  não questionou sequer sua inexperiência porque havia um ambiente, no Brasil e no mundo, de extrema confiança no trabalho das mulheres. Ambiente criado por milhares de mulheres que cumpriram jornada excepcional na linha do tempo, abrindo espaço para postos de comando aqui e em todos os países do mundo.

As mulheres prepararam terreno para um futuro que inevitavelmente chegaria. E ele chegou. Dilma participou e beneficiou-se desta luta, mas nunca referiu-se às mulheres que a antecederam, principalmente Isabel. Ela se dizia a primeira mulher a assumir o poder, mas a verdade é outra. Isabel foi a primeira e era tão legítima quanto Dilma, Elizabeth da Inglaterra, ou qualquer outro chefe de Estado. Isabel constitui referência história essencial, uma vez que assinou uma das leis mais importantes que temos, a da Abolição da escravatura. Na  soma das interinidades, ela ficou mais tempo no poder que Collor/Janio e Itamar.

Historiadores internacionais consideram sua presença na história do Brasil um marco de modernidade, uma vez que apenas nove países, até o século passado, tiveram mulheres no comando. E seu legado honra o Brasil e a todos nós, brasileiros e brasileiras.  Uma preocupação final a propósito: só vamos  melhorar a qualidade da nossa democracia por meio  de uma maior participação de todos os cidadãos nas decisões políticas, e de uma abertura dos círculos do poder a novos públicos e a novos problemas.

Essa transformação não se dará com o mero aumento do número de mulheres na política. Ela exige reflexão sobre conteúdos do trabalho político. E exige, igualmente, conhecimento da história do país, dos personagens e das causas que devemos abraçar. Um país não é só a terra com qual a gente nasce e vive. Um país é isso mais a irradiação secular das pessoas que nele viveram e que podem nos inspirar.