sábado, 20 de julho de 2013

Crítica não é raiva. É crítica.


Paulo Francis lamentava a falta de roteiristas no Brasil. Achava que poderiam escrever com clareza a nossa história, valendo-se da vida de alguns personagens. Segundo ele, através do cinema e da tevê, com os recursos disponíveis, teríamos consciência do nosso legado histórico de forma leve e acessível. Como exemplo da nossa trágica impunidade, e ponto de partida para um bom roteiro, ele citava Filinto Müller, personagem sinistro do Estado Novo que morreu livre e foi coberto de homenagens póstumas, a despeito da fieira de crimes que teria cometido.

Acredito que o jornalista Paulo Francis, odiado pela franqueza e pelo estilo duro de expor fragilidades alheias, deveria ser mais lido pelos jovens. Além de ter paixão pela polêmica, e de manifestar convicções com coragem, ele escrevia bem. Acreditava que bons textos são como roteiros de cinema, decifrados por pessoas de qualquer idade e compreendidos em todas as culturas.

Quando era criticado por ser rude, Francis reagia: "Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros e os leitores é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. Meu tom às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação do amante rejeitado."

Francis pertenceu a um tempo de ouro do jornalismo impresso, quando os jornais publicavam análises políticas escritas por nomes de grande cultura literária. Análises criativas e saborosas. Para escrever em jornal não bastava só assumir uma posição, ou lavrar sentença como juiz e ditar regras. Era preciso honrar o idioma como fazem hoje João Pereira Coutinho, Dora Kramer, Elio Gaspari, Ricardo Noblat e Eliane Cantanhêde.

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