segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Ler é ...

  • "A exemplo de escrever, ler é protestar contra as insuficiências da vida. Quem procura na ficção o que não tem, diz, sem necessidade de dizer, e nem de saber, que a vida tal como é não nos basta para apagar a nossa sede de absoluto, fundamento da condição humana, e que deveria ser melhor. Inventamos as ficções para podermos viver de, alguma maneira, as muitas vidas que queríamos ter, quando apenas dispomos de uma só." Mario Vargas Lhosa



Ler é ...


"A exemplo de escrever, ler é protestar contra as insuficiências
da vida. Quem procura na ficção o que não tem, diz, sem necessidade de dizer, e nem de saber, que a vida tal como é não nos basta para apagar a nossa sede de absoluto, fundamento da condição humana, e que deveria ser melhor. Inventamos as ficções para podermos viver de, alguma maneira, as muitas vidas que queríamos ter, quando apenas dispomos de uma só." 
Mario Vargas Lhosa

domingo, 14 de agosto de 2016

Dia dos Pais


Falta pai nos lares brasileiros. Nas favelas do Rio, 70% dos jovens entre 12 e 17 anos não têm pai, 25% declaram não saber nada sobre sua mãe e 20% dizem que foram criados por tios ou avós. Assim, quem joga papel central na rotina diária dessas favelas são as gangues do tráfico de drogas. Da seguinte maneira: “elas são as que organizam a vida cotidiana das favelas, que estabelecem leis e códigos de condutas, enquanto as polícias são vistas como perseguidoras e agressivas”, sustenta estudo, divulgado pelo Clarín. Link: http://www.clarin.com/mundo/estudio-echa-luz-narcos-favelas_0_773922679.html

Os dados são reais e muito fortes. Mostram que a paternidade irresponsável é um dos males do país. Pena. Com base na família tradicional - sob a liderança de um pai autoritário e "provedor" - a humanidade avançou nos últimos séculos. Agora, quase não há pai em lugar nenhum. Na Europa, depois de ter sido considerado "fonte de neuroses", o pai tradicional entrou em extinção. Seriados infantis europeus (o desenho Pepa é o maior exemplo disso ) tratam o pai quase como o bobo da corte familiar. Reflexos da perda de poder do "macho", dizem os analistas e as feministas. Pode ser...  


sábado, 13 de agosto de 2016

Você sabe o que Fidel disse a Sartre?


“Todos os homens têm direito a tudo que pedem”, disse Fidel a Sartre.

—“E se eles pedem a Lua?” — quis saber Sartre.

—“Se eles pedem a Lua” — respondeu Fidel — “é porque dela necessitam”.

Sartre confessou, mais tarde, que Fidel era um político único, uma espécie de ilha. Como Cuba. Vi Fidel uma vez na vida, no dia da posse de Fernando Collor. Estava na equipe do Jornal do Brasil e atravessava a pé a distância que separa o Congresso das 24 colunas que sustentam o Palácio do Planalto. Era uma manhã excepcionalmente clara.

De repente, veio na minha direção um leviatã de fotógrafos. Saí rapidamente da frente. Se perder a imagem, o fotógrafo não conseguirá recuperá-la. Só quando se abriu uma clareira no leviatã, vi o motivo do tumulto: Fidel Castro estava bem do meu lado, a menos de dois metros de distância. Apertei bem os olhos, como fazem os míopes, para ver Fidel de perto.

Seu porte é compatível com sua grandeza histórica. Parece um gigante. Reconheço isso, mesmo discordando dele. Aliás, apesar da pressão da minha geração na universidade, nunca fui fanática por Fidel. E, no entanto...No entanto, sempre consegui entender as razões que levavam jovens do mundo inteiro a admirá-lo. Ele simbolizou o "David" que enfrentou e venceu "Golias".

Não há metáfora mais forte que essa no contexto de países pobres, submetidos a uma vida política fodida e quase sem líderes para respeitar. Não ignoro (e também considero imperdoável) que o embargo dos Estados Unidos tenha lançado Cuba no abismo econômico durante tantos e tantos anos. Acredito, contudo, que o maior de todos os problemas do país sempre foi político.

Fidel ficou tempo demais no poder, sem aceitar a rotatividade, e sem permitir contestação. Não há futuro político sem liberdade, sem respeito à Oposição, sem eleição e sem liberdade de imprensa. Sem isso, vale dizer o pacote da democracia, a história de Cuba desandou e todo o mundo lá passou a viver em condições difíceis de suportar. E o país tornou-se uma ditadura cruel, triste e anacrônica.

Ninguém fica indiferente à beleza natural de Cuba. A linha de horizonte em Havana é tão ampla, que não consigo compreender porque Fidel abriu mão do ideal da liberdade. Ainda bem que agora, com a virada na política internacional de Obama e o fim do embargo, os cubanos voltam a ter o sentido da utopia e da esperança. Aos 90 anos, Fidel acompanha tudo. Ele  jamais deixará de ser o guerreiro do seu povo, aquele que buscou o impossível para mudar a vida do seu país e a história do seu tempo. 

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Se a conoa não virar, olê, olê, olá...


As Olimpíadas conquistaram o Brasil e os brasileiros. Não é para menos. Nas notícias, saíram Dilma, Eduardo Cunha e a galera da política e no lugar entraram as meninas do vôlei e os meninos e meninas da ginástica olímpica. O resultado é todo o mundo feliz e maravilhado com as conquistas dos atletas e as medalhas.
Estou feliz, mas bem quieta no meu canto. No mundo do esporte, quem me conhece sabe que sou um notável fracasso. Desde pequena, sofro de miopia em grau elevado (no olho direito é pior do que no esquerdo) e tenho medo inexplicável de altura. Estou assistindo tudo pela televisão.Com a evolução dos aparelhos de tevê e as imagens cada vez mais nítidas, confesso que tenho receio de me distrair e acabar levando uma bolada nas costas ou mesmo no rosto, o que derrubaria meus óculos e tudo que resta da minha segurança.

Sem óculos, o míope vaga nas sombras. Na adolescência, ouvi o oftalmologista dizer à minha mãe que minhas retinas poderiam esgarçar o que comprometeria minha visão para sempre. Enquanto minhas amigas tinham medo de desconhecidos, estupros e outras violências, eu sofria com o tal esgarçamento. Nenhuma criança merece crescer com um pavor desses. Eu devia ir à ONU fazer queixa tardia daquele oculista. O infeliz era medalha de ouro em bulling infantil, modalidade meio fora de moda, mas que detém recordes históricos inacreditáveis. Mantive as retinas longe das bolas e boladas.

Jamais me arrisquei no vôlei, na natação ou na corrida. Como sou baixinha, podia ter tentado a ginástica, mas no meu tempo isso era coisa da Romênia. Hoje, pela tevê, vejo tudo o que passa, mas meu esporte favorito é a canoagem. A canoagem demonstra que remar para o mesmo lado de forma consistente, simultânea e ritmada é condição de triunfo. Um exemplo para todos, sobretudo educadores, líderes políticos e aqueles que estão no comando. Além disso, a imagem do atleta enfrentando as ondas e remando sem parar é a metáfora da vida de todos nós.

Caímos no meio do caos, temos de escolher um lado e avançar, no meio da incerteza. Sem temer as ondas, a turbulência e os imprevistos. Na infância e na adolescência remei contra a corrente. É difícil enfrentar vento ao contrário? Muito difícil, mas o gosto que dá é incomparável. Sei por tê-lo sentido muitas vezes na boca. Agora, não tenho mais coragem de "remar" quase nunca. Muito menos contra a correnteza. Envelheci. Meu tempo hoje é o da acomodação. Então, o que me resta é seguir na geleia geral em busca da insignificante glória de vencer um dia depois do outro. Pena que desse jeito eu não mereça medalha...




segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O abuso e a ofensa são o novo normal?


Sempre achei que jornalismo é um jeito de tentar fazer história a sangue quente. Basta ler os jornais diários com atenção e interesse para perceber isso. Ou mesmo ouvir rádio e ver tevê.

Os jornalistas estão ali no calor dos acontecimentos contando o que acontece, o que estão vendo acontecer. Trabalhei no jornalismo diário e aprendi que só vale a pena fazer assim, contando o mundo como o vemos, sabendo avançar com determinação e parar quando as circunstâncias impõem essa prudência.

Erros podem acontecer e defendo que se faça mea-culpa e que sejam corrigidos imediatamente. Um erro corrigido  serve ao debate democrático, mostra maturidade e capacidade de renovação dos laços de confiança com os leitores, a comunidade para quem temos o privilégio de trabalhar. Na verdade, o reconhecimento de erros é exigência do bom jornalismo e sinal de rigor editorial, respeito aos leitores e a nós próprios.

A reputação das pessoas, todas elas, deve ser protegida. Erros têm impacto sobre quem os sofre na pele e sobre quem os comete. Hoje, percebo muita agressividade e irresponsabilidade nas redes sociais sobre equívocos cometidos que perduram para sempre. Quem os comete não os corrige e nem liga para isso. 

Sobra liberdade e falta responsabilidade nas redes. Ainda bem que liberdade faz um bem enorme a todos. Nesse ambiente, às vezes, o inconveniente é que há muita agressão. Muita gente acha que pode agredir, pode denegrir. Sem critérios ou valores, peso, medida, ou dimensão humana. Uma lástima. 

Um dos melhores aprendizados que tive no jornalismo, e que conservo comigo, é que nosso trabalho, dos jornalistas, não é a última palavra. Durante o período que trabalhei nos veículos de informação nunca tive essa aspiração ou este delírio. Tive sim, e continuo tendo, é vontade de contribuir e participar, com honestidade, do debate nacional para a discussão das ideias e o debate público.

Tenho muita resistência a quem diz as maiores barbaridades sobre os outros com grande despreocupação. Quando fiz curso de jornalismo tínhamos de aprender a lidar com a honra alheia. Com todas as cautelas. Aprendíamos a ser intransigentes com o erro.

Hoje, percebo que uma minoria acha que abusos e ofensas são o novo normal. Considero isso um atraso. E acredito que esse tipo de atitude não vai prosperar. A educação e o respeito garantem o avanço das pessoas e das sociedades. Sentado em seu computador, de forma isolada, qualquer um acha que pode xingar e desacatar o outro até por meio do anonimato? Se agir assim um indivíduo pode até ter êxito em curto prazo, mas vai acabar fazendo barulho sozinho. E uma andorinha só não faz verão. Nem outono, inverno e muito menos primavera.

Felizmente, a maioria da internet é formada por gente culta, bonita e elegante. Naveguem e encontrem. Vale a pena...