quarta-feira, 4 de junho de 2014

Piada de verdade

No curso de medicina, um professor se dirige a determinado aluno e pergunta:

— Quantos rins nós temos?

— Quatro! — responde o aluno.
— Quatro? — replica o professor com ar arrogante, um daqueles professores que adoram tripudiar sobre os erros dos alunos, e emenda:
 
— Traga um pouco de capim, pois temos um asno aqui na sala — ordena ele ao auxiliar.
— E para mim um cafezinho! — se intromete o aluno, dirigindo-se também ao auxiliar do mestre.
 
Tiririca, o professor expulsa o aluno da sala mas, ao sair, o aluno tem a audácia de corrigir o furioso mestre:
 
— O senhor me perguntou quantos rins "nós temos". "Nós" temos quatro: dois meus e dois seus. Ah, espero que o senhor aprecie merecidamente o capim que acabou de pedir para o lanche. Espero também que a refeição lhe ajude a ficar mais calmo e tolerante. 


O professar avança em direção ao aluno que sai correndo para o pátio deixando no ar uma divertida gargalhada.

Este caso é verídico e entrou para a história da Universidade Federal Fluminense. O aluno, ao contrário do que desejava o professor, não sofreu punição. Bem, o aluno era o fabuloso humorista Aparício Torelly Aporelly (1895-1971), mais conhecido como "Barão de Itararé". Aliás, ele se intitulava Barão de “Itararé” em referência à batalha de Itararé, um confronto da guerra contra o Paraguai que nunca chegou a acontecer. Formado em Medicina, Aparício acabou consagrado como um dos grandes nomes do humor nacional.
A propósito: vale a pena ler sua biografia:  “Entre Sem Bater — A Vida de Apparício Torelly, o Barão de Itararé” (Casa da Palavra, 480 páginas), de Cláudio Figueiredo. Há também dois outros livros interessantes sobre ele: em 2003, o filósofo Leandro Konder lançou  Barão de Itararé — O Humorista da Democracia” (Brasiliense, 72 páginas). O texto de Konder é muito bom e também vale a pena: trata-se  de uma biografia reduzida.
Quatro depois, o jornalista Mouzar Benedito lançou o opúsculo “Barão de Itararé — Herói de Três Séculos (Expressão Popular, 104 páginas). É ótimo, como o livro de Konder. No final, há uma coletânea das melhores máximas do humorista. Uma delas: “O uísque é uma cachaça metida a besta”.
Criador do jornal “A Manha”, o Barão ridicularizava ricos, classe média e pobres. Não perdoava ninguém, sobretudo políticos, donos de jornal e intelectuais. Ele não era barão, é claro. Mas deu-se o título de nobre e nobre se tornou. O primeiro nobre do humor no Brasil. Debochava de tudo e de todos e costumava dizer que, “quando pobre come frango, um dos dois está doente”. Ele é um dos inventores do contra-politicamente correto. Leia mais frases abaixo:

O que se leva desta vida é a vida que a gente leva.
A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer.
Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.
Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.
A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.
Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.
Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.
Mantenha a cabeça fria, se quiser ideias frescas.
O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.
Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.
Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.
De onde menos se espera, daí é que não sai nada.
Quem empresta, adeus.
Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.
O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.
A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.
O fígado faz muito mal à bebida.
O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.
A alma humana, como os bolsos da batina de padre, tem mistérios insondáveis.
Eu cavo, tu cavas, ele cava, nós cavamos, vós cavais, ele cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo…
Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.
Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra!
Devo tanto que, se eu chamar alguém de “meu bem”, o banco toma!
Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta…
Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.
As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes, isto é, se cura, cobra, e se mata, cobra.
O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
Em todas as famílias há sempre um imbecil. É horrível, portanto, a situação do filho único.
Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados.
Quem não muda de caminho é trem.
A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.

domingo, 1 de junho de 2014

O QUE É REAL E O QUE É A REALIDADE...

O POETA E O POEMA
Alphonsus de Guimaraens Filho
 
Nenhum poema se faz de matéria abstrata.
É a carne, e seus suplícios,
ternuras,
alegrias,
é a carne, é o que ilumina a carne, a essência,
o luminoso e o opaco do poema.
 
Nenhum poema. Nenhum pode nascer do
                                           [ inexistente.
A vida é mais real que a realidade.
E em seus contrastes e seqüelas, funda
um reino onde pervagam
não a agonia de um, não o alvoroço
de outro,
mas o assombro de todos num caminho
estranho
como infinito corredor que ecoa
passos idos (de agora,
e de ontem e de sempre),
passos,
risos e choros — num reino
que nada tem de utópico, antes
mais duro do que rocha,
mais duro do que rocha da esperança
(do desespero?),
mais duro do que a nossa frágil carne,
nossa atônita alma,
— duros pesar de seu destino, duros
pesar de serem só a hora do sonho,
do sofrimento,
de indizível espanto,
e por fim um silêncio que arrepia
a epiderme do acaso:
(...)
Não há poema isento.
Há é o homem.
Há é o homem e o poema.
Fundidos.