terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Feliz Natal!




Natal tem a ver com muitas lembranças da infância. Éramos pobres e morávamos em um bairro igualmente pobre de uma cidade pobre do interior de Minas. Descobri muitas coisas sobre a vida naquele tempo. Uma delas é que não chega cartão de Natal em casa de gente pobre. Nunca. Nenhum. Zero.

Em 1970, ou 1971, não lembro com exatidão, milagrosamente, chegou um cartão de Natal grande e bonito lá em casa. Era do tamanho de uma folha de caderno escolar e tinha o desenho de uma árvore toda em verde, com a frase majestosa, escrita em letras vermelhas e perfeitamente alinhadas: “Feliz Natal e Próspero Ano Novo!”.

Foi tão inesperado que minha mãe agarrou o cartão e saiu rodopiando pela casa. Minha irmã mais velha quase caiu: “Nossa Senhora, quem nos mandou essa lindeza, perguntou aflita e impaciente.

Mamãe ignorou a pergunta e continuou rodopiando com a "lindeza". Minha irmã pediu para segurar o envelope e, então, leu o nome do remetente: Casas Pedro, Rua Tomé de Souza, 133, Centro, Rio de Janeiro. Mistério, não conhecíamos ninguém no Rio.

Minha irmã, então, buscou o nome do destinatário: Sr. Álvaro Pires. O nome do papai era Joaquim. Ela conferiu o endereço: era em outro lugar, bem distante de nossa casa. Silêncio.

Minha irmã ficou repentinamente triste e tentou alertar mamãe a respeito das informações sobre o cartão. Bem baixinho, como se preferisse ficar calada, ela disse, delicadamente:

_ Mãe, escute, temos de devolver o cartão, a gente não sabe quem mandou...

Mamãe deu de ombros:

- Não, devolver de jeito nenhum, eu aceito o cartão!

- Mãe, o endereço do cartão não está certo...

- Não tem importância, filha, o Correio pode ter errado, não pode?

- Não mãe, pelo amor de Deus, veja o nome do dono do cartão?

- Que história é essa de nome, filha, eu não me importo com isso e já disse que aceito o cartão, não disse?




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