quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

VIOLÊNCIA NO BRASIL


O MAPA DA VIOLÊNCIA NO BRASIL

As estatísticas macabras sobre a violência que enchem de dor e de tristeza o dia a dia de inúmeras famílias e que mancham de sangue a imagem do País 

De janeiro de 2011 a dezembro de 2015, 278.839 pessoas foram mortas no País, número maior do que o de mortos na guerra da Síria, onde 256.124 morreram no mesmo período. Para avaliar o impacto deste fato: uma pessoa é assassinada a cada 9 minutos no Brasil. Ao longo de um dia ocorrem 160 assassinatos. Em 2016, foram mortos violenta e intencionalmente 58.383 brasileiros.

Os estados das regiões Nordeste e Norte lideram o ranking com altas taxas de assassinatos. Os primeiros cinco colocados: Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Ceará e Pará. Os estados que registraram as menores taxas de mortes violentas intencionais foram São Paulo (11,7), Santa Catarina (14,3) e Roraima (18,2).

Em 2015, das 50 cidades com maior taxa de homicídios por 100 mil habitantes,  um total de 21 são brasileiras. Fortaleza é a cidade mais violenta. Em seguida vem Natal, depois Salvador e região metropolitana e João Pessoa.

Das 50 cidades, nada menos que 41 ficam na América Latina: 21 no Brasil, 8 na Venezuela, 5 no México, 3 na Colômbia, 2 em Honduras, uma em El Salvador e uma na Guatemala. Outros países com cidades na lista são África do Sul, Estados Unidos e Jamaica.

AS CIDADES MAIS VIOLENTAS DO MUNDO

1° - Caracas (Venezuela) - 119.87 homicídios/100 mil habitantes

2° - San Pedro Sula (Honduras) - 111.03

3° - San Salvador (El Salvador) - 108.54

4° - Acapulco (México) - 104.73

5° - Maturín (Venezuela) - 86.45

6° - Distrito Central (Honduras) - 73.51

7° - Valencia (Venezuela) - 72.31

8° - Palmira (Colômbia) - 70.88

9° - Cidade do Cabo (África do Sul) - 65.53

10° - Cali (Colômbia) - 64.27

11° - Ciudad Guayana (Venezuela) - 62.33

12° - Fortaleza (Brasil) - 60.77

13° - Natal (Brasil) - 60.66

14° - Salvador e região metropolitana (Brasil) - 60.63

15° - ST. Louis (Estados Unidos) - 59.23

16° - João Pessoa; conurbação (Brasil) - 58.40

17° - Culiacán (México) - 56.09

18° - Maceió (Brasil) - 55.63

19° - Baltimore (Estados Unidos) - 54.98

20° - Barquisimeto (Venezuela) - 54.96

21° - São Luís (Brasil) - 53.05

22° - Cuiabá (Brasil) - 48.52

23° - Manaus (Brasil) - 47.87

24° - Cumaná (Venezuela) - 47.77

25° - Guatemala (Guatemala) - 47.17

26° - Belém (Brasil) - 45.83

27° - Feira de Santana (Brasil) - 45.50

28° - Detroit (Estados Unidos) - 43.89

29° - Goiânia e Aparecida de Goiânia (Brasil) - 43.38

30° - Teresina (Brasil) - 42.64

31° - Vitória (Brasil) - 41.99

32° - Nova Orleans (Estados Unidos) - 41.44

33° - Kingston (Jamaica) - 41.14

34° - Gran Barcelona (Venezuela) - 40.08

35° - Tijuana (México) - 39.09

36° - Vitória da Conquista (Brasil) - 38.46

37° - Recife (Brasil) - 38.12

38° - Aracaju (Brasil) - 37.70

39° - Campos dos Goytacazes (Brasil) - 36.16

40° - Campina Grande (Brasil) - 36.04

41° - Durban (África do Sul) - 35.93

42° - Nelson Mandela Bay (África do Sul) - 35.85

43° - Porto Alegre (Brasil) - 34.73

44° - Curitiba (Brasil) - 34.71

45° - Pereira (Colômbia) - 32.58

46° - Victoria (México) - 30.50

47° - Johanesburgo (África do Sul) - 30.31

48° - Macapá (Brasil) - 30.25

49° - Maracaibo (Venezuela) - 28.85

50° - Obregón (México) - 28.29

Fonte: 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

São Paulo era político...

“Porque, sendo livre e não pertencendo a ninguém, fiz-me de escravo de todos, para ganhar muitos deles. Para os judeus, fiz-me de judeu, para ganhar os judeus; para aqueles observadores da lei, me tornei alguém observador da lei (embora não tivesse de observar a lei), para ganhar os observadores da lei. Para os que não observam a lei, me tornei alguém que não observa a lei (apesar de não estar livre da lei de Deus e observando a lei de Cristo), para ganhar os que não observam a lei. Fiz-me de fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns”.

Carta de Paulo aos coríntios
(1 Coríntios 9:19-23), Bíblia Sagrada - Edição 2013 Vozes 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Alexandre O'Neill


Se fosse vivo, Alexandre O'Neill estaria completando noventa e um anos depois de amanhã, 19 de dezembro. Era poeta,  cronista e publicitário. Escreveu textos magníficos. Até o epitáfio que sugeriu para seu túmulo era genial: 

"Aqui jaz Alexandre O’Neill

Um Homem que dormiu muito pouco

Bem merecia isto»



segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Adelia Prado faz 82 anos hoje

As Mortes Sucessivas, de Adélia Prado

Quando minha irmã morreu eu chorei muito
e me consolei depressa. Tinha um vestido novo
e moitas no quintal onde eu ia existir.
Quando minha mãe morreu, me consolei mais lento.
Tinha uma perturbação recém-achada:
meus seios conformavam dois montículos
e eu fiquei muito nua,
cruzando os braços sobre eles é que eu chorava.
Quando meu pai morreu, nunca mais me consolei.
Busquei retratos antigos, procurei conhecidos,
parentes, que me lembrassem sua fala,
seu modo de apertar os lábios e ter certeza.
Reproduzi o encolhido do seu corpo
em seu último sono e repeti as palavras
que ele disse quando toquei seus pés:
´deixa, tá bom assim´.
Quem me consolará desta lembrança?
Meus seios se cumpriram
e as moitas onde existo
são pura sarça ardente de memória.

Poema integra o livro "Bagagem", de Adélia Prado, publicado pela Editora Record que reedita toda a obra da poeta.

PS: Adélia Prado faz 82 anos hoje. Fiquei comovida ao ler que é dia do seu aniversário. Eu a acompanho há anos e tudo dela me comove. Em 2006, muita gente chorou quando a escritora mineira Adélia Prado leu, pela primeira vez, "As Mortes Sucessivas" para a plateia da 4.ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).  Foi um momento inesquecível e emocionante.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Um brasileiro extraordinário


Um dos grandes amigos que tenho, o ex-senador Jorge Bornhausen será homenageado amanhã em Santa Catarina com a medalha Anita Garibaldi, a maior condecoração do Estado. Ele faz por merecer os aplausos que lhe são concedidos. Durante seis ou sete anos tive a honra de fazer parte da sua equipe (assessoria de imprensa) no Senado. Só tenho a agradecer pela honrosa convivência.

Quem só o enxerga de longe, vê a imagem de um político severo, mas ele é extremamente gentil no convívio pessoal, além de um amigo leal e generoso. Nunca dei por intervenção sua que fosse inoportuna ou banal. Ele sempre está à altura dos fatos, das conversas e dos debates.

Age com cautela e sabedoria, mas não teme a polêmica. Exigente, mas capaz de reconhecer o esforço dos outros, é rigoroso e combate a ideia de uma cultura sem esforço e sem disciplina. Racional, recebe críticas injustas, mas não se queixa porque sabe que todo o poder tem preço e quem vai à guerra dá e leva. Por essa razão, mesmo sendo firme em suas convicções políticas, reserva espaço para o contra-ataque dos adversários.

Sei que o uso manda que em períodos de homenagens se enalteçam apenas as virtudes, mas na minha amizade pelo ex-senador não cabe a hipocrisia. Seria diminuí-lo dizê-lo infalível. Ninguém o é. Como a maioria de nós ele erra. Mas em muito ele se distingue do comum: pela inteligência, pelo conhecimento, pela clareza do raciocínio, a gentileza e o sentido público.

Jorge Bornhausen gosta muito mais do Brasil do que o Brasil gosta dele. Ele é forte sem precisar fazer ninguém de fraco. Nunca o vi usar sua inteligência, os cargos que conquistou na política ou sua dimensão humana para diminuir quem quer que seja. É por estas e muitas outros razões que cumprimento o Governo de Santa Catarina pela homenagem a Jorge Bornhausen, um brasileiro extraordinário que põe a integridade acima dos jogos e interesses da política.


Brasília, 8 de dezembro de 2016

Vanda Célia


domingo, 4 de dezembro de 2016

Uma história de Ferreira Gullar


Em 1989, militantes do Partidão convocaram uma reunião no Rio para avaliar a campanha de Roberto Freire à Presidência da República.

Um dos presentes disse a Freire que ele não deveria falar que não acreditava em Deus porque, se ficasse repetindo isso, correria o risco de não ir ao segundo turno da disputa. Todo o mundo ficou em silêncio mas antes que Freire respondesse, Ferreira Gullar disse, do fundo da sala, com aquele vozeirão:
- Mesmo porque Roberto, se você for ao segundo turno, Deus existe!

Poemas de Ferreira Gullar


Ferreira Gullar

Ferreira Gullar morreu hoje, 4 de dezembro de 2016. Era o maior poeta vivo da literatura brasileira. Sua poesia engajada – ele sempre foi do Partidão - era um importante instrumento de denúncia social desde 1950. Ele pertencia ao Centro Popular de Cultura (CPC), grupo de intelectuais de esquerda criado em 1961, no Rio de Janeiro, cujo objetivo era defender o caráter coletivo e didático da obra de arte, bem como o engajamento político do artista. Perseguido pela ditadura militar, Ferreira Gullar exilou-se na Argentina durante os anos de repressão. Em 2014, aos 84 anos, foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras, ocupando a Cadeira de número 37, que pertencera ao escritor Ivan Junqueira, morto nesse mesmo ano.
Não há vagas 


Não há vagas

O preço do feijão

não cabe no poema. O preço

do arroz

não cabe no poema.

Não cabem no poema o gás

a luz o telefone

a sonegação

do leite

da carne

do açúcar

do pão

O funcionário público

não cabe no poema

com seu salário de fome

sua vida fechada

em arquivos.

Como não cabe no poema

o operário

que esmerila seu dia de aço

e carvão

nas oficinas escuras

– porque o poema, senhores,

está fechado:

“não há vagas”

Só cabe no poema

o homem sem estômago

a mulher de nuvens

a fruta sem preço

O poema, senhores,

não fede

nem cheira.





Poema: Traduzir-se – Ferreira Gullar

Traduzir-se

Uma parte de mim

é todo mundo:

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.

Uma parte de mim

é multidão:

outra parte estranheza

e solidão.

Uma parte de mim

pesa, pondera:

outra parte

delira.

Uma parte de mim

almoça e janta:

outra parte

se espanta.

Uma parte de mim

é permanente:

outra parte

se sabe de repente.

Uma parte de mim

é só vertigem:

outra parte,

linguagem.

Traduzir-se uma parte

na outra parte

– que é uma questão

de vida ou morte –

será arte?



Poema: No corpo – Ferreira Gullar

No corpo

De que vale tentar reconstruir com palavras

O que o verão levou

Entre nuvens e risos

Junto com o jornal velho pelos ares

O sonho na boca, o incêndio na cama,

o apelo da noite

Agora são apenas esta

contração (este clarão)

do maxilar dentro do rosto.

A poesia é o presente.





Poema: Poemas Neoconcretos I – Ferreira Gullar

Poemas Neoconcretos I

mar azul

mar azul marco azul

mar azul marco azul barco azul

mar azul marco azul barco azul arco azul

mar azul marco azul barco azul arco azul ar azul



Poema: Aprendizado – Ferreira Gullar

Aprendizado

Do mesmo modo que te abriste à alegria

abre-te agora ao sofrimento

que é fruto dela

e seu avesso ardente.

Do mesmo modo

que da alegria foste

ao fundo

e te perdeste nela

e te achaste

nessa perda

deixa que a dor se exerça agora

sem mentiras

nem desculpas

e em tua carne vaporize

toda ilusão

que a vida só consome

o que a alimenta.



Poema: Um Instante – Ferreira Gullar

Aqui me tenho/ Como não me conheço/ nem me quis/ sem começo/ nem fim/ aqui me tenho/ sem mim/ nada lembro/ nem sei/ à luz presente/ sou apenas um bicho/ transparente.

Poema: Subversiva – Ferreira Gullar

Subversiva

A poesia

Quando chega

Não respeita nada.

Nem pai nem mãe.

Quando ela chega

De qualquer de seus abismos

Desconhece o Estado e a Sociedade Civil

Infringe o Código de Águas

Relincha

Como puta

Nova

Em frente ao Palácio da Alvorada.

E só depois

Reconsidera: beija

Nos olhos os que ganham mal

Embala no colo

Os que têm sede de felicidade

E de justiça.

E promete incendiar o país.





Poema: Os mortos – Ferreira Gullar

Os mortos

os mortos vêem o mundo

pelos olhos dos vivos

eventualmente ouvem,

com nossos ouvidos,

certas sinfonias

algum bater de portas,

ventanias

Ausentes

de corpo e alma

misturam o seu ao nosso riso

se de fato

quando vivos

acharam a mesma graça





Poema: Cantiga para não morrer – Ferreira Gullar

Cantiga para não morrer

Quando você for se embora,

moça branca como a neve,

me leve.

Se acaso você não possa

me carregar pela mão,

menina branca de neve,

me leve no coração.

Se no coração não possa

por acaso me levar,

moça de sonho e de neve,

me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa

por tanta coisa que leve

já viva em seu pensamento,

menina branca de neve,

me leve no esquecimento.



Poema: Prometi-me Possuí-la – Ferreira Gullar

Prometi-me Possuí-la

Prometi-me possuí-la muito embora

ela me redimisse ou me cegasse.

Busquei-a na catástrofe da aurora,

e na fonte e no muro onde sua face,

entre a alucinação e a paz sonora

da água e do musgo, solitária nasce.

Mas sempre que me acerco vai-se embora

como se temesse ou me odiasse.

Assim persigo-a, lúcido e demente.

Se por detrás da tarde transparente

seus pés vislumbro, logo nos desvãos

das nuvens fogem, luminosos e ágeis!

Vocabulário e corpo — deuses frágeis —

eu colho a ausência que me queima as mãos.

[Poemas Portugueses]





Poema: Extravio – Ferreira Gullar

Extravio

Onde começo, onde acabo,

se o que está fora está dentro

como num círculo cuja

periferia é o centro?

Estou disperso nas coisas,

nas pessoas, nas gavetas:

de repente encontro ali

partes de mim: risos, vértebras.

Estou desfeito nas nuvens:

vejo do alto a cidade

e em cada esquina um menino,

que sou eu mesmo, a chamar-me.

Extraviei-me no tempo.

Onde estarão meus pedaços?

Muito se foi com os amigos

que já não ouvem nem falam.

Estou disperso nos vivos,

em seu corpo, em seu olfato,

onde durmo feito aroma

ou voz que também não fala.

Ah, ser somente o presente:

esta manhã, esta sala.





Poema: Madrugada – Ferreira Gullar

Madrugada

Do fundo de meu quarto, do fundo

de meu corpo

clandestino

ouço (não vejo) ouço

crescer no osso e no músculo da noite

a noite

a noite ocidental obscenamente acesa

sobre meu país dividido em classes.





Neste Leito de Ausência – Ferreira Gullar

Neste Leito de Ausência

Neste leito de ausência em que me esqueço

desperta o longo rio solitário:

se ele cresce de mim, se dele cresço,

mal sabe o coração desnecessário.

O rio corre e vai sem ter começo

nem foz, e o curso, que é constante, é vário.

Vai nas águas levando, involuntário,

luas onde me acordo e me adormeço.

Sobre o leito de sal, sou luz e gesso:

duplo espelho — o precário no precário.

Flore um lado de mim? No outro, ao contrário,

de silêncio em silêncio me apodreço.

Entre o que é rosa e lodo necessário,

passa um rio sem foz e sem começo.

[Poemas Portugueses]





Meu povo, meu poema – Ferreira Gullar

Meu povo, meu poema

Meu povo e meu poema crescem juntos

como cresce no fruto

a árvore nova

No povo meu poema vai nascendo

como no canavial

nasce verde o açúcar

No povo meu poema está maduro

como o sol

na garganta do futuro

Meu povo em meu poema

se reflete

como a espiga se funde em terra fértil

Ao povo seu poema aqui devolvo

menos como quem canta

do que planta



Poema: MINHA MEDIDA – Ferreira Gullar

MINHA MEDIDA

Meu espaço é o dia

de braços abertos

tocando a fímbria de uma e outra noite

o dia

que gira

colado ao planeta

e que sustenta numa das mãos a aurora

e na outra

um crepúsculo de Buenos Aires

Meu espaço, cara,

é o dia terrestre

quer o conduzam os pássaros do mar

ou os comboios da Estrada de Ferro Central do Brasil

o dia

medido mais pelo pulso

do que

pelo meu relógio de pulso

Meu espaço — desmedido —

é o nosso pessoal aí, é nossa

gente,

de braços abertos tocando a fímbria

de uma e outra fome,

o povo, cara,

que numa das mãos sustenta a festa

e na outra

uma bomba de tempo.

Fonte: site Escola Educação