sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Quem é o escritor nacional? E o nosso livro favorito?



Será que Machado de Assis é o nosso escritor nacional? O cara? Sinceramente não sei. E tenho quase certeza que ninguém perguntou isso aos brasileiros.

Eu votaria em Machado e faria campanha, mas sei que há outros grandes autores no páreo, caso de Aluisio Azevedo, Graciliano Ramos, João Guimarães Rosa, Monteiro Lobato, Dyonélio Machado,  Jorge Amado, Cecília Meirelles, Carlos Drummond de Andrade, Erico Verissimo, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Mário de Andrade, Augusto dos Anjos, Castro Alves, Mário Quintana e tantos outros...  Esta seria uma grande eleição.

A maioria dos outros países tem seu escritor nacional. Na Alemanha, o lugar é de Goethe; na Espanha, de Miguel de Cervantes; na Itália, de Dante; na Inglaterra, de Shakespeare. Na França realizou-se uma sondagem recentemente que deu o primeiro lugar a Victor Hugo. Há alguns anos, também por meio de pesquisa, a escolha  europeia foi Shakespeare em primeiro e Cervantes no segundo lugar. Em Portugal, o pódio ficou assim: Camões, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco e Fernando Pessoa. 

No Brasil, poderíamos escolher o escritor e o  livro da preferência nacional. Eu votaria fechado: Machado como o escritor e "Dom Casmurro" como livro favorito. Acho, no entanto, que a disputa, nas duas corridas, seria acirradíssima, tamanho o número de obras-primas que temos: Vidas Secas,  Grande Sertão:Veredas, O Cortiço, Capitães de Areia, Macunaíma, Alguma Poesia, Olhai os Lírios no Campo, Os Sertões, etc etc etc. 

sábado, 15 de agosto de 2015

Vamos fazer uma "selfie"?


 
Tenho muitos amigos e coisa mais preciosa não há. Alguns são celebridades — Ricardo Noblat, Gerson Camarotti, Eliane Cantanhêde, Miriam Leitão, Heraldo Pereira e Cristina Lemos... Fico pensando se conseguem ir a algum lugar sem que ninguém possa reconhecê-los. Acho que não. Quando somos reconhecidos temos o dever de falar, ouvir, aconselhar, partilhar e sorrir felizes como perdizes. E quando várias pessoas, ao mesmo tempo, fazem fila para tirar “selfies”?Essa história da “selfie” deve tirar qualquer um do sério. Pois é. Será que o verdadeiro bálsamo é ser anônimo, ficar sossegado em um canto, sem sorrir; sem chorar e sem se fazer notar? E quem saberá?  

sábado, 8 de agosto de 2015

Coração duro, homem maduro

    
Coração duro, homem maduro
 
1. Começo te dizendo que não tenho nada contra manipular, assim como não tenho nada contra ser manipulado; ser instrumento da vontade de terceiros é condição da existência, ninguém escapa a isso, e acho que as coisas, quando se passam desse jeito, se passam como não poderiam deixar de passar (a falta de recato não é minha, é da vida). Mas te advirto, Paula: a partir de agora, não conte mais comigo como tua ferramenta.

2. Você me deu muitas coisas, me cumulou de atenções (...). Não quero discutir os motivos da tua generosidade, me limito a um formal agradecimento, recusando contudo, a todo risco, te fazer a credora que pode ainda chegar e me cobrar: "você não tem o direito de fazer isso". Fazer isso ou aquilo é problema meu, e não te devo explicações.

3. Nem foi preciso fazer um voto de pobreza, mas fiz há muito o voto de ignorância, e hoje, beirando os quarenta, estou fazendo também o meu voto de castidade. Você tem razão, Paula: não chego sequer a conservador, sou simplesmente um obscurantista. Mas deixe este obscurantista em paz, afinal, ele nunca se preocupou em fazer proselitismo.

4. (...) É preciso saber ouvir os gemidos da juventude: em geral, vocês reclamam é pela ausência de uma autoridade forte, mas eu, que nada tenho a impor, entenda isso, Paula, decididamente não quero te governar.

5. (...) Está muito certa aquela tua amiga frenética quando te diz que sou "incapaz de curtir pessoas maravilhosas". Sou incapaz mesmo, não gosto de "pessoas maravilhosas", não gosto de pessoas, para abreviar minhas preferências. (...)

6. No pardieiro que é este mundo, onde a sensibilidade, como de resto a consciência, não passa de uma insuspeitada degenerescência, certos espíritos só podiam mesmo se dar muito mal na vida; mas encontrei, Paula, esquivo, o meu abrigo: coração duro, homem maduro. (...)


(«O ventre seco», de Raduan Nassar, do livro de contos Menina a Caminho, 1997/Estado Civil