segunda-feira, 30 de abril de 2012

A propósito do ano eleitoral...


Eleições são imprevisíveis e nada, rigorosamente nada, impede o eleitor de na hora agá fazer o contrário do esperado. Há vários exemplos disso na história. Um deles: as eleições de 1945, na Inglaterra. Ali, todo o mundo esperava uma eleição consagradora de Winston Churchill, o homem que, para muitos, havia sido o principal responsável pela vitória da Grã-Bretanha na Segunda Grande Guerra. O resultado foi o contrário: Churchill acabou sofrendo a mais espetacular das derrotas nas urnas.

sábado, 28 de abril de 2012

É preciso muito cuidado com certas certezas...



Quando Demóstenes Torres chegou ao Senado, em 2002, eu estava começando a trabalhar em assessoria de imprensa, em razão de uma tendinite na mão direita que arruinou meu caminho nas revistas e jornais. Não tive outro jeito, a não ser partir da profissão que eu amava, e que havia escolhido ainda na adolescência, da forma mais adulta possível: sem sorrir, sem chorar e, sobretudo, sem reclamar.

Lembro do senador goiano entrando numa das primeiras reuniões em que eu participaria como assessora. Ao meu lado estava a amiga e também assessora de imprensa, Letícia. “Chegou ao Congresso alguém mais feio que o Heráclito Fortes”, concluímos brincando e caindo na gargalhada. O senador falava bem e impressionava quem o ouvia. O que parecia a todos é que ali estava um quadro político de qualidade.

Além da retórica, ele organizou uma senhora equipe que trabalhava direito nas comissões e no plenário. O resultado era uma ação política de grande visibilidade no Parlamento. Eu achava, sinceramente, que Demóstenes era o que dizia ser. Tanto que fiquei espantada com a subserviência do senador goiano ao contraventor Carlos Cachoeira captada nos implacáveis diálogos gravados pela Polícia Federal.

Tenho pensado muito sobre isso e a única coisa que me ocorre é que precisamos ter cuidado com tudo nessa vida, até com as nossas certezas. Na política, principalmente.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Qual é a razão da sua luta?

A história que li é a seguinte: dois oficiais nobres do século XVIII, um deles francês e o outro prussiano, começam uma discussão acalorada.

Diz o francês:
- Vocês batem-se apenas pelo dinheiro enquanto o exército francês bate-se sempre pela honra!

E a resposta vem, pragmática:

- Cada exército bate-se sempre por aquilo que lhe falta…


Prusiano: da Prússia, antigo Estado da Alemanha, atualmente dividido entre a Polônia e a União Soviética.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Mulheres querem mesmo que os homens!


O que as mulheres querem? A escritora americana Erica Jong, autora do clássico feminista 'Medo de Voar', tem as melhores respostas para essa interrogação. Segundo ela, “é muito simples o que elas querem e estranho que até hoje tenhamos que ficar nos perguntando isso. Mulheres querem o mesmo que os homens. Uma família, amor, um trabalho significativo. Elas querem vidas completas. O que homens e mulheres querem não é muito diferente”.

Na avaliação da escritora, as mulheres querem trabalhar e, ao mesmo tempo, ter mais tempo para suas crianças. ”Todos conhecem pessoas que só trabalham. Elas não são felizes. Só amor também não resolve. A dificuldade maior das mulheres ainda é balancear a maternidade com um trabalho de qualidade. O problema é o mesmo desde os tempos da Revolução Industrial, quando trabalho e casa foram divididos”.

Ela acredita que o problema será resolvido, embora a sociedade teime em não facilitar as coisas para as mulheres. ”Seria muito mais fácil se todos pudessem levar seus filhos para o lugar em que fossem trabalhar, se houvesse um espaço de qualidade para deixar as crianças. Algumas companhias já perceberam isso. Outras estão deixando os funcionários trabalharem em casa, ligados pelo computador. E assim toda a idéia de trabalho vai se modificando.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Quem disse que ingleses não sabem cozinhar?


Um dia desses estava vendo um programa de culinária na televisão com uma linda chefe de cozinha inglesa que atende pelo nome de Nigella. Sei que a moça faz sucesso há um tempão, mas só nesse dia me dei conta que seu programa vai de encontro a um estereótipo: os ingleses não sabem cozinhar. Aí, aconteceu uma coisa engraçada porque começou o programa seguinte na tevê a cabo. Era de culinária também e o chefe era Jamie Oliver, outro inglês. E, mais um vez, o cara era um craque absoluto que sabia exatamente do que estava falando quando ensinava receitas e descrevia os ingredientes. Acabei concluindo que preciso atualizar meus conceitos e rever crenças do passado. Nigella e Jamie Oliver são ingleses mas, na cozinha, são tão bons quanto os franceses. Ou tão bons quanto os italianos, japoneses, peruanos e brasileiros... Felizmente há grandes chefes de cozinha em todos os cantos do mundo.

sábado, 21 de abril de 2012

Brasília tem a marca do choro...



Grave e cadenciado, o violão avança em oitavas. Gentil, a flauta chega de leve para garantir poesia e delicadeza, enquanto o cavaquinho acelera no compasso de três tempos marcados e um tempo de silêncio. São assim, segundo definição de um amigo que é músico, os acordes do samba-choro, o gênero musical criado no subúrbio do Rio e que traduz, como nenhum outro, a musicalidade do brasileiro. "Carinhoso", de Pixinguinha, o maior clássico do samba-choro, mostra a beleza do gênero. Não há quem não se emocione ouvindo essa música ou que não seja capaz de cantarolar algum dos seus versos. É bom falar deste gênero musical hoje, dia do aniversário de Brasília.

Brasília tem a marca do choro. Foi aqui que os músicos Pernambuco do Pandeiro, João Tomé, Chico Gil e Avena de Castro criaram o Clube do Choro e conquistaram o coração de todos. O primeiro presidente do Clube foi Avena de Castro. Depois dele, passaram pela presidência Lício da flauta, Six, Américo e Reco do Bandolim, amigo querido do meu marido Beto. Parabéns ao Reco do Bandolim e a todos os músicos do Clube do Choro por terem dado à nossa cidade uma marca cultural tão forte e tão bonita. E parabéns a todos nós que amamos Brasília, nossa capital do Choro.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Sabe os semideuses do "Poema em Linha Reta?"


Sabe aqueles semideuses de que fala Fernando Pessoa no “Poema em Linha Reta”? Temos alguns no Brasil. São pessoas que não tropeçam, não duvidam, não hesitam, que não realizam um só gesto que não a enobreçam. Algumas pensam até que seus vícios são virtudes. São pessoas carregadas de sentido. Se acham tão “santas” que fingem passar impolutas por este mundo indecente. Rezo todo dia para Deus não permitir que eu fique chata desse jeito. Dizem que esse mal ataca com muita força a tribo dos profissionais mais antigos. Será que velhice não basta? Tem de vir acompanhada de tantas certezas e de tantas chatices?

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Há grandes escritores desonestos...



Ficam discutindo por aí se jornalistas podem ou não podem ouvir determinadas fontes. Trata-se de debate tolo. Se o Ministério Público oferece delação premiada a bandidos em troca de informações por que os jornalistas não podem aceitar informações de pessoas suspeitas ou procuradas pela Justiça? Não cabe ao jornalista exigir atestado de honestidade das pessoas, não é esta a tarefa da imprensa. Tarefa da imprensa é relatar rigoramente a verdade dos fatos para dar ao leitor amplo conhecimento sobre a nossa história diária. Imaginar que um jornalista só pode trabalhar com informações de fontes moralmente limpas não faz sentido.

Há grandes fontes de informações e de conhecimento que não são exemplos de virtudes morais. E isso existe em todos os campos. Quer um exemplo? Há grandes escritores desonestos, prepotentes, traidores, racistas, soberbos, covardes, violentos, cruéis, ladrões, mentirosos, crápulas, o diabo a quatro. Lamento, mas nenhum grande escritor deixa de ser grande por causa dos seus defeitos e das suas insuficiências éticas. É isso, tanto a cultura, quanto o jornalismo, felizmente, não são fogueiras. Nada disso, contudo, quer dizer que o jornalismo pode se ancorar no crime. O limite das pessoas de bem é claro: elas rejeitam atos ilegais e, firmemente, descartam a idéia de que o jornalismo possa ser exercido por meio da manipulação dos fatos.

Não custa lembrar, a propósito, que as pessoas associam ao mundo do jornalismo as melhores qualidades humanas citando explicitamente conceitos como justiça, liberdade e democracia quando se referem aos jornalistas. Profissionais da imprensa são bem avaliados pela opinião pública em todos os países do mundo. A média dos resultados das pesquisas indica que as pessoas acreditam, sinceramente, que jornalistas ajudam a combater a corrupção, condenam injustiças, defendem os mais fracos e lutam por um mundo melhor.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

"O Sujeito da Esquina" faz 3 anos hoje


Hoje, 18 de abril de 2012, este blog está completando 3 anos. O primeiro texto que publiquei aqui foi sobre assessoria de imprensa. O que disse antes segue valendo: o bom assessor aprende a entender o chefe sem necessidade de explicações. O texto era o seguinte: “Ser assessor de imprensa de líderes políticos implica conhecimentos de psicologia comportamental, além de intimidade com o mundo da mídia. Uma regra básica é esta: nenhum líder político gosta de dar ordens, mas todos só dão valor aos auxiliares que descobrem e cumprem tudo o que eles gostariam de ordenar. De algum modo, o assessor precisa "perceber" o que o líder quer por meio dos seus silêncios, do seu jeito de olhar, do movimento das suas mãos e da entonação da sua voz. Sem essa "leitura" dos sinais, o assessor de imprensa vagará cego e sem luz pelo mundo da política.”

Três anos depois o que eu gostaria de acrescentar são razões que me levaram a fazer o blog. Na verdade, eu queria escrever sobre o que me desse na telha sem pressão de espécie alguma. Durante anos, trabalhando como jornalista, eu escrevia sob intensa pressão dos chefes, das pautas, do horário do fechamento e, naturalmente, dos fatos que acompanhava como repórter. Isso sem contar a dose de pressão pessoal para fazer bem feito, fazer a diferença e buscar algum destaque nessa vida. No trabalho de assessoria era a mesma coisa. No blog não há demandas alheias. Escrevo, coisa que realmente gosto de fazer, de forma livre. Claro que há assuntos que faço questão de não abordar, mas a lista de limitações é mínima.

O nome - "O Sujeito da Esquina" - retirei de uma manifestação, que considerei meio arrogante, do ministro Gilmar Mendes do Supremo Tribunal Federal, STF. Ele disse o seguinte: “Vamos ouvir as ruas para saber o que o povo pensa saber? O que o povo pensa sobre a concessão do habeas corpus? Isso é um problema. Não se dá independência a um juiz para ele ficar consultando um sujeito na esquina”... Por que a pessoa diz uma coisa dispensável dessas em voz alta, pensei. E meu pensamento seguinte foi: "Achei, o Sujeito da Esquina é o nome do blog que vou fazer. E assim tem sido desde o dia 18 de abril de 2009.Ao longo de 2010 quase não escrevi, mas agora, em 2012 estou mais assídua. Agradeço os amigos que fazem a gentileza de passar aqui e ler algumas coisas que escrevo. Obrigada a todos.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Jornais e Poder


Como os jornais se comportam em relação ao Poder? Algumas pistas podem ser encontradas no episódio histórico sobre a volta de Napoleão ao poder, em fevereiro de 1815, depois de ter abandonado a ilha de Elba para onde fora desterrado.

As manchetes das edições consecutivas do jornal oficial, o Monitor, dão uma imagem fiel do ritmo do desmoronamento da autoridade do reino de Luís XVIII. As forças enviadas pela monarquia para confrontar Napoleão juntaram-se a ele.

A sucessão de nove títulos parece ser anedota, mas aconteceu de fato. Sempre achei essa inversão espetacular por várias razões: foi feita em ritmo alucinante e sem disfarces. O que mais impressiona, contudo, é a ausência de qualquer vestígio de dignidade. Confiram:

1) O ogro da Córsega acaba de desembarcar no golfo Juan;

2)O tigre chegou a Gap;

3)O monstro dormiu em Grenoble;

4) O tirano atravessou Lyon;

5) O usurpador está a quarenta léguas da capital;

6) Bonaparte avança a grandes passos, mas nunca entrará em Paris;

7) Napoleão estará amanhã em frente das nossas muralhas;

8)O imperador chegou a Fontainebleau;

9)Sua Majestade Imperial entrou ontem no Castelo das Tulherias, no meio dos seus súditos fiéis.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O que os jovens querem aprender?


O que os jovens querem aprender? Pesquisa Jovem Gallup apurou que 97% deles gostariam que as escolas ensinassem sobre honestidade. Em segundo lugar, com 93%, a pesquisa apontou democracia. Preocupação com amigos e familiares, amor à pátria e patriotismo foram escolhas de 91%. Na quinta colocação, com 87%, apareceu o tema da aceitação de pessoas que possuem diferentes credos religiosos. Abstinência sexual fora do casamento foi assunto escolhido por 66% dos entrevistados.

Um seguidor do twitter me enviou as informações da pesquisa. Mesmo sem maiores detalhes sobre o levantamento fiquei feliz em saber que honestidade e democracia ainda são preocupações dos jovens, apesar do desleixo da maioria dos políticos e, lastimavelmente, de parcela das instituições, em relação a esses valores tão essenciais à convivência democrática. O interesse dos jovens, na minha opinião, significa esperança de recuperação da imagem dos partidos e dos políticos que, para dizer a verdade, está no chão.

Existem caminhos para sair do atoleiro? Sim. Além de determinação no rumo da honestidade, comportamento conhecido antigamente como vergonha na cara, o fortalecimento dos partidos no Brasil, e do sistema político de modo geral, implica uma reforma política estrutural com mudanças nas regras do financiamento das campanhas eleitorais. Com isso, poderíamos melhorar bastante.

domingo, 15 de abril de 2012

Como manter a crença dos jovens na política?

Sei que ninguém morre, decreta falência, cai em desgraça, fica gripado ou sequer contrai herpes labial por causa dos escândalos envolvendo os partidos e os políticos, mas fico pensando se não seria o caso de pagar meia dúzia de carpideiras para prantear a democracia.

Sem partidos políticos não há democracia, não há Estado de Direito e não há liberdade. A democracia que adotamos é partidária, vale dizer: a vontade do povo se manifesta por meio dos partidos, que são as instituições de acesso ao mandato e ao poder.

Sim, temos de pensar seriamente na necessidade de fazer alguma coisa, qualquer coisa, para que as novas gerações acreditem no rumo democrático, a despeito da total vulnerabilidade do sistema político brasileiro. Sei que a tarefa de definir os rumos não é pessoal e sim responsabilidade das instituições, mas estou cada vez mais decepcionada com as instituições.

Mesmo recolhendo do bolso dos contribuintes os instrumentos necessários (pessoal qualificado e recursos financeiros) as instituições não contribuem, como deveriam, para fortalecer a idéia democrática. Para dizer a verdade, muitas não conseguem nem dar exemplo.

Penso nisso todos os dias: que legado essas instituições, a começar pelo Congresso desmoralizado que temos, vão deixar às futuras gerações? E o que nós podemos fazer para seguir sustentando a crença na democracia?

Conheço pessoas que lutaram pela democracia a vida inteira e que continuarão investindo nisso o tempo que lhes resta. Não tiveram medo antes e não estão com medo agora, só não sabem o que fazer para manter a crença dos jovens na democracia, apesar da cachoeira de escândalos que se tornou rotina da vida política.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Uma história exemplar: o que é mais importante?


Certa vez, um jovem recebeu de um Rei, conhecido pela sabedoria, a tarefa de levar uma mensagem e alguns diamantes a outro Rei de uma terra distante. Para isso, recebeu o melhor cavalo do reino.
— Cuida do mais importante e cumprirás a missão! disse o soberano.

O jovem escondeu a mensagem na bainha da calça, colocou as pedras numa bolsa de couro amarrada à cintura, sob as vestes, e, logo cedo, sumiu no horizonte, sem cogitar a hipótese de falhar. Queria que todo o reino soubesse que era um nobre e valente rapaz, pronto para desposar a princesa. Para cumprir rapidamente a tarefa, abandonava a estrada, pegava atalhos que sacrificavam sua montaria, exigindo-a ao máximo.Quando parava em uma estalagem, deixava o cavalo ao relento, não lhe aliviava da sela nem da carga e não se preocupava em dar-lhe de beber ou providenciar alguma ração.

— Assim, meu jovem, acabará perdendo o animal — disse-lhe alguém.
— Não me importo — respondeu ele. Tenho dinheiro. Se este morrer, compro outro. Nenhuma falta fará.

Com o passar dos dias e sob tamanho esforço, o cavalo, não suportando os maus tratos, caiu morto. O jovem o amaldiçoou e seguiu o caminho a pé. Passadas algumas horas, se deu conta da falta que lhe fazia o animal, pois nessa parte do país havia poucas fazendas, muito distantes umas das outras. Exausto e sedento, já havia deixado pelo caminho toda a tralha, exceto as pedras, fiel à recomendação do rei: "Cuida do mais importante!". Seu passo tornava-se curto e lento. As paradas eram freqüentes e longas.

Como sabia que poderia cair a qualquer momento e temendo ser assaltado, escondeu as pedras no salto de sua bota. Mais tarde, caiu exausto no pó da estrada, onde ficou desacordado. Para sua sorte, uma caravana de mercadores que seguia viagem para o seu reino, encontrou-o e cuidou dele.Ao recobrar os sentidos, encontrou-se de volta em sua cidade. Imediatamente foi encontrar o rei para contar o que havia acontecido. Com desfaçatez, pôs culpa do insucesso nas costas do cavalo que recebera.

— "Porém, Majestade, conforme sua recomendação de cuidar do mais importante, aqui estão as pedras que me confiaste. Não perdi uma sequer!".

O rei as recebeu com tristeza e se despediu friamente. Abatido, o jovem deixou o palácio arrasado. Em casa, ao tirar a roupa, encontrou na bainha da calça a mensagem do rei, que dizia:

"Ao meu irmão, rei da terra do Norte! O jovem que te envio é candidato a casar-se com minha filha. Esta jornada é uma prova. Dei a ele alguns diamantes e o melhor cavalo do reino. Recomendei que cuidasse do mais Importante. Faze-me, portanto, um grande favor. Verifica o estado do cavalo. Se estiver forte e viçoso, saberei que o jovem aprecia a fidelidade e a força de quem o auxilia na jornada. Se, porém, perder o animal e apenas guardar as pedras, não será um bom marido, nem rei, pois terá olhos apenas para o tesouro do reino e não dará importância à rainha e nem àqueles que o servem".

domingo, 8 de abril de 2012

A "cola" é corrupção?



Mais dia menos dia, uma mãe brasileira se vê na contingência de explicar ao filho que ele não deve, em hipótese alguma, contar à professora que viu o coleguinha de classe colando. No meu caso, lembro que fiz minha filha Júlia prometer que nunca faria uma coisa dessas. Se colar é errado por que fiz isso? Porque nossa cultura pune muito mais quem conta, quem “entrega”, do que quem cola.

Nasci no Brasil, essa é minha circunstância. Diferente da realidade do Canadá, por exemplo. Há alguns anos, durante temporada em um SPA no Rio, conheci Jenna Porta, promotora de Justiça e professora de ética no Canadá. Casada com um embaixador português e fluente na nossa língua, ela tinha informações sobre a história do país e curiosidade sobre a influência do discurso em defesa da ética nas eleições do Brasil. Conversamos bastante sobre isso.

O rigor das opiniões sobre ética e cidadania daquela especialista canadense me impressionou. Além de considerar até a "cola” um ato de corrupção, ela desfiou outras exigências: 1) o favorecimento dos conhecidos e o desprezo pelos anônimos nas mesmas circunstâncias dos conhecidos é corrupção, disse. 2) O não-cumprimento de prazos e a não satisfação de pretensões legítimas por causa da exibição gratuita de poder é corrupção, acrescentou. E 3) andar com os amigos ao colo do favor é corrupção, completou.

Para a canadense, a debilidade de caráter de parte dos políticos, de parte dos empresários e de parcela significativa das pessoas, em todos os países do mundo, é que alimenta e realimenta a corrupção. O que acontece, disse, é que a maioria das pessoas, mesmo sendo honesta, acaba silenciando. No silêncio generalizado, a desonestidade prospera.

Sempre que releio as diretrizes daquela canadense, que anotei cuidadosamente, sinto uma ponta de tristeza ao pensar no que ensinei à minha filha. Sei que cumpri minha obrigação de protegê-la, mas fico meio sem graça por não ter enfrentado a situação de um jeito mais corajoso e inovador. Pois é, a verdade é eu queria ter mais coragem do que tenho.

sábado, 7 de abril de 2012

No Dia do Jornalista, algumas citações


Edward Eggleston: «O jornalismo é coscuvilhice organizada»

Ellen Goodman: «No jornalismo, existiu sempre tensão entre falar primeiro e falar verdade»

Mark Twain: «Não sou editor de jornal, e tentarei sempre ser bom e portar-me bem para que Deus nunca me transforme em um»

Graham Greene: «Uma das razões que, cada vez mais, leva os romancistas a distanciarem-se dos jornalistas é que os romancistas andam a tentar escrever a verdade e os jornalistas andam a tentar escrever ficção»

Karl Kraus: «Jornalista: uma pessoa sem ideias mas com habilidade para expressá-las; um escritor cujo talento melhora com o prazo de entrega do texto: quanto mais tempo tem, pior escreve»

G. K. Chesterton: «O jornalismo consiste, em larga medida, em dizer que "Lorde Jones faleceu" a pessoas que não sabiam sequer que Lorde Jones alguma vez estivera vivo»

Frank Zappa: «Os jornalistas do Rock são pessoas que não sabem escrever entrevistando pessoas que não sabem falar para pessoas que não sabem ler»

Carl Sandburg: «Os jornais dizem por antecipação o que vai acontecer? — Talvez!»

Stuart Paddock: «O que nos guia é dizer a verdade, temer a Deus e fazer dinheiro»

Charles Tatum (aliás, Kirk Douglas, em Ace in the Hole, filme de Billy Wilder de 1951): «Consigo lidar com grandes notícias e com pequenas notícias. E, se não houver notícia nenhuma, saio à rua e mordo um cão».

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Deus...

O jornalismo é um mundo de ateus? Não sei, mas, às vezes, perguntam-me se tenho certeza de que Deus existe. Respondo sempre que a fé, embora não seja inabalável nem esteja isenta de dúvidas, é uma forma de certeza. E que tenho fé, certeza e confiança na existência de Deus.

Minha mãe foi fundamental no processo de me tornar crente. Um crente é alguém que acredita e, se acredita, tem fé e tem certeza. Minha mãe achava que negar a existência de Deus e não aceitar os mistérios da vida e do universo, eram sinais de arrogância e de soberba. Não vejo motivos para discordar dela, mesmo respeitando quem pensa de forma diferente.

Claro que a certeza de que Deus existe não é igual à certeza com que, ao descer a Esplanada dos Ministérios em Brasília, sei que vou sair em frente à Praça dos Três Poderes. A crença em Deus não é uma certeza empírica evidente que não admite contradição. A certeza na existência de Deus tem base na fé, além de representar, ao menos para mim, respeito aos mistérios e gratidão pelo dom da vida...

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Querida Giovana!

Desde o dia especial em que você rasgou o ventre de sua Mãe e chegou ao mundo, não canso de pensar que, mesmo sendo um bebê, você renovou a esperança e a confiança no futuro de todos da família. Seus gritinhos exigentes (ou seriam insistentes?) já mudaram nossa vida e fizeram com que nossos corações passassem a bater com mais força e mais coragem.

Seus olhos são azuis, seu cabelo escorre pela testa. É como se Deus nos tivesse enviado um anjo que engole a escuridão e fabrica a luz. Tanto a vida, como o tempo, são atravessados pelos ciclos, uns de sombra, outros de luz e muitos de escuridão. Ao chegar na família, você inaugurou um ciclo de luz.

Lembro o momento que te vi pela primeira vez. Sua mãe estava na maca, saindo da sala de cirurgia do Hospital Santa Lúcia. Ela segurava você nos braços e, com todo o cuidado, cobria seus olhos com uma das mãos para impedir que a claridade te assustasse. Ao lado da maca, protegendo você e sua mãe, vinha seu pai, com um sorriso enorme espalhado no rosto.

Você nasceu no dia do aniversário do seu avô, Alberto. Desde então, ele voltou a ter mais fé em tudo neste mundo. De ateu degenerado, seu avô passou a acreditar em astrologia, numerologia, ligações interplanetárias e até em vidas passadas, mesmo sabendo que elas não contam para a aposentadoria.

“Minha neta e eu nascemos em um mesmo dia e somos de um mesmo signo, isso é um sinal”, ele disse. “Sinal de que você, tolinho, nunca mais terá festa de aniversário”, pensei. Ainda bem que seu avô não lê pensamento. Digo “ainda” porque desde o teu nascimento ele está cada vez mais animado e confiante. E sorridente. A pessoa ficou insuportavelmente feliz...

Nunca vi seu avô tão metido, como se o tempo não tivesse passado e ele ainda fosse o jovem que conheci há mais de 30 anos. Se continuar animado assim, ele acabará acreditando que pode tudo, até ler pensamentos. Deus me livre e guarde...Sim, sua avó tem alguns segredos, todos inocentes. Não há mal nisso. Um adulto tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia, não tem problema guardar uma parte deles só para a gente.

Seríamos todos loucos se nosso cérebro tivesse de processar todos os pensamentos conscientemente. Por essa razão, a maior parte deles funciona automaticamente e nem aparece no índice de eventos do nosso dia. Esse assunto, porém, exige muitos cuidados.... Nunca, mas nunca mesmo, devemos deixar os outros conhecerem os nossos pensamentos. As coisas que a gente pensa, ou mesmo as que a gente pensou um dia, não devem ser assunto de conversa com ninguém.

Esse processo de pensar e de proteger o nosso pensamento, faz parte do que chamamos de nossa personalidade, nosso ser interior. Daqui a pouco você entenderá um pouco mais sobre a dádiva divina de ser uma pessoa única em todo o universo. Agora, dorme e brinca. Você acabou de completar um ano outro dia. Haverá tempo para tudo.

Sei que seu futuro será brilhante, como o da sua Mãe e do seu Pai, de quem certamente você receberá os traços de caráter, caso da teimosia, da lucidez e da força de vontade. De sua mãe desejo que você receba o senso de justiça e o compromisso com a verdade. De seu pai, o legado da bondade, da capacidade de perdoar, de amar e de acreditar. E quer saber, minha neta amada? Ninguem precisa de nada, além do que você já tem, para ser feliz.

Um grande beijo da sua avó.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Quem escreve quer alguma coisa...



Quem escreve quer alguma coisa. Ainda que seja um twitter de vez em quando, o que se busca é a exposição, a visibilidade. E quando acabamos de escrever ficamos pensando na quantidade de pessoas que estão lendo e na qualidade delas. Seria errado negar ou dizer que isso não é importante. Tão importante quanto saber que um amigo perguntou «o que é feito de nossa vida, onde estamos trabalhando e o que estamos fazendo»...

O problema aí é a consciência de que nunca vamos conseguir voltar ao tom que tivemos quando estávamos no auge da vida profissional e da exposição pessoal e social. Nunca se consegue voltar ao topo de nós mesmos. Tem-se impacto enquanto se é novo, a partir dos 50 já não nos ligam para coisa nenhuma. Verdade. Todas as coisas em que participei na juventude tiveram êxito. Com o passar dos anos tudo mudou e algumas das empreitadas em que me meti fracassaram terrivelmente.

De vez em quando, penso que o impacto só se consegue quando não nos conhecem. Penso, igualmente, que quando somos jovens e não nos conhecem, temos coragem. Lembro que gostava de dizer que a única coisa que eu havia escrito na vida sem falar mal de ninguém era uma lista de compras no supermercado. E que a experiência tinha sido muito desagradável.

Pois é, bons tempos... Os textos que escrevo agora são muito menos polêmicos. Digamos que são mais maduros e mais chatos. Sim, não posso negar a realidade, estou mais velha mas ainda não fiquei cega. Bem e o que posso fazer a respeito? Ainda não sei, mas tenho um plano de reforma pessoal que inclui muito veneno. Como diz aquela música antiga: estou guardando o que há de bom em mim...

domingo, 1 de abril de 2012

Meios mais violentos???


Hoje, no chamado "Dia da Mentira", vou repetir um texto do poeta português Pedro Mexia. Ele escreveu o seguinte: "Outro dia li que a função da mentira é «substituir meios mais violentos». A ideia de que a mentira tem uma «função», e logo uma função positiva, é um bocado repugnante. É como dizer que os genocídios regulam a demografia. Mas além disso, não percebo o que seja um «meio mais violento». A violência física, por exemplo, é uma agressão, tal como a mentira, mas pelo menos opera dentro da realidade. A mentira distorce a realidade. Não conheço nada mais violento do que distorcer a realidade".

Em alguns momentos preciso de escrever...



Em alguns momentos preciso de escrever. Em outros, gosto de escrever, mas há momentos em que não sei escrever. Não saber fazer o que se fez a vida toda quer dizer cansaço. Sim, o cansaço que se instala em nós quando a morte começa a nos rondar tão perigosamente que chega a nos parecer familiar. Não estou falando da idéia da morte, ou mesmo do medo da morte: estou falando da realidade dela. Uma realidade que acontece quando começamos a receber notícias do desaparecimento de pessoas de quem gostamos e que fazem parte da nossa vida. Nossa defesa é o silêncio e o isolamento porque o futuro de antes resume-se a um presente acanhado.