sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Democracia sempre...

No momento em que todos os olhares se voltam para o Supremo Tribunal Federal, STF, com posições apaixonadas de dois lados, gostaria de assinalar que a divergência, em questões essenciais, entre diferentes partidos, diferentes políticos e diferentes cidadãos, não é apenas normal em democracia. Não é apenas saudável. Não é apenas importante. É a justificação para considerarmos a democracia a melhor forma de organizarmos a nossa convivência política.
 
A democracia só é necessária porque as coisas são assim. E as coisas são assim porque o ser humano é dotado de inteligência e liberdade de pensamento.
 
A democracia resolve estas divergências com a liberdade de expressão, organização e reunião, com a organização do conflito social e com eleições. Fora dela, estas divergências resolvem-se com armas e prisões. Quem olha para estas divergências como um problema, e não como uma enorme vantagem, não se limita a não compreender a democracia. É, no essencial, antidemocrático. Porque é nesta incompreensão que se baseiam todas as ditaduras.
 
Dão-se nomes diferentes ao que deve prevalecer à divergência: os nacionalistas chamam-lhe Pátria, os teocratas chamam-lhe Deus, os comunistas chamam-lhe vanguarda, alguns outros chamam-lhe "salvação nacional". Mas todos acreditam no mesmo: que a sua posição é indiscutível. E que quem dela discorda apenas se pode mover por interesses mesquinhos, sejam eles pessoais ou partidários.
 
Sim, a política é, como a vida, o território do conflito. A democracia apenas cria as condições para que ele seja resolvido. Por meio de concessões, claro. Com diálogo, muitas vezes. Com negociações, sempre que necessário. Mas aceitando sempre, no fim, que a ausência de acordo, quando os pontos de vista são mais distantes, é natural. E que a democracia tem, para resolver a impossibilidade de compromisso, os instrumentos necessários. Prevalece, no respeito por regras instituídas, por patrimonio comum e pela tolerância e pluralismo, a posição da maioria.
 
A expressão democrática do conflito, mesmo quando vem de uma minoria, não pode, em nenhuma circunstância, ser tratada como "ruído". E muito menos se pode exigir "silêncio" a quem cumpre a obrigação democrática de expressar as suas discordâncias.
 

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Um dia sem ano...



Como todas as datas que mudaram o mundo, o 11 de Setembro não tem ano. É o 11 de Setembro,  dia que se assinala por ser conhecido, estar incluído na nossa história, na nossa linha do tempo. É um marco e todo o mundo entende que naquele dia a contagem do tempo mudou. . Vi a cena toda ao vivo e lembro direitinho. Eu havia chegado cedo ao Senado e olhava o noticiário na tevê  quando apareceram as primeiras imagens de um dos edifícios com aquela fumaça negra. O locutor não sabia dizer com exatidão o que tinha ocorrido, parecia acreditar em um incêndio e repetia que aguardava mais unformações. De repente, um avião de grande porte entrou no cenário voando rápido. O locutor parecia espantado e só conseguiu dar um grito quando o avião atingiu em cheio o segundo edifício das torres gêmeas.  Não podia acreditar no que via e tive certeza que o mundo estava entrando em guerra. Uma guerra sem fim que causa danos a todos nós. Não é por acaso que nossos e-mails podem ser lidos por bisbilhoteiros. Tudo virou pretexto para combate ao terrorismo. Um terror....Pois é, aquele 11 de setembro está marcado para sempre na nossa história, na nossa linha do tempo. Um dia terrível. Um dia sem ano. 

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Uma vida sem memória não seria vida...



Meus amigos me conhecem como sendo uma pessoa que tem boa memória. É verdade. Me apego a detalhes incríveis e consigo mostrar a todos que conservo lembranças detalhadas do passado mais remoto. Tento me lembrar de tudo que posso. Uma vida sem memória não seria vida.

A nossa memória é a nossa coerência, a nossa razão, a nossa ação, o nosso sentimento. Sem ela, não somos nada. Mas o que é mesmo a memória? Em “O Meu Último Suspiro”, livro semibiográfico, Luis Buñuel, logo de ínicio, antes de começar a evocar o passado, adverte o leitor: ele pode se deparar com falsas recordações nas páginas seguintes. O cineasta tem razão.

Indispensável e onipotente, a memória é também frágil e ameaçada. Ameaçada não só pelo esquecimento, o seu eterno inimigo, mas também pelas falsas recordações que a invadem dia após dia. A memória é constantemente invadida pela imaginação e pelo devaneio.

Temos a tentação de acreditar na realidade do imaginário, tanto que podemos fazer da nossa mentira uma verdade. O que é, aliás, de uma importância relativa, já que uma e outra são igualmente vividas e pessoais.

Quem não faz uma seleção do que deseja realmente lembrar e do que deseja esquecer? Quantas vezes a gente não assume, no passado, uma coragem que nunca teve e que nunca vai ter?

Como diz, lindamente por sinal, o cineasta e escritor Luiz Buñuel na abertura do seu magnífico livro: (…) "Sou composto pelos meus erros e dúvidas, a par das minhas certezas. Não sendo historiador, não recorro a quaisquer apontamentos ou a qualquer livro. O retrato que aqui proponho será sempre o meu, com as minhas afirmações, hesitações, repetições a lacunas, com as minhas verdades e as minhas mentiras, numa palavra: a minha memória.”