quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Final de Ano




O que devemos fazer no intervalo entre um ano que vai e outro que vem? Dar e pedir um tempo. Tempo para pararmos um pouco, olharmos à nossa volta e refletirmos sobre aquilo que fizemos, aquilo que deixamos de fazer, aquilo que não devíamos ter feito e aquilo que podíamos ter feito melhor.



quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Mais um aniversário...




Faço aniversário hoje, 26/12. Não sei se isso é bom ou ruim. Talvez pudesse ser pior...

Quando criança não entendia a razão de nunca ter festa, bolo ou comemoração. Na verdade, está todo o mundo de ressaca do Natal e querendo sossego para esperar o ano-novo.

Nascer nesse dia, espremido entre uma festa e outra, é meio sem graça, mas não adianta reclamar, então vamos comemorar com as pessoas queridas e agradecer por mais um ano de dever cumprido, do início ao fim, sem maiores atrasos e com quase todas as obrigações em dia.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Poema de Natal




Poema de Natal



Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos —

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos —

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:

Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez de amor

Uma prece por quem se vai —

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre

Para a participação da poesia

Para ver a face da morte —

De repente nunca mais esperaremos...

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas

Nascemos, imensamente.

Vinicius de Morais in "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Qual é o texto mais poético da Bíblia?




O texto mais poético da Bíblia é a Epístola de São Paulo aos Corínthios. Sei disso desde pequena. E conto a história: aos seis anos, quando fui matriculada na escola pública, já sabia ler "de carreirinha" e escrevia pequenos bilhetes ou recados. Era também capaz de resolver continhas de somar e subtrair o que me levou direto para a segunda série. Mesmo tendo um bando de filhos pequenos, e vivendo abarrotada de obrigações, minha mãe me ensinou o que eu sabia  no chão de cimento batido da cozinha da nossa casa. Ainda hoje fico emocionada quando lembro da paciência e da confiança que ela tinha em mim. Devo tudo a ela, a começar pela auto-estima que conquistei ali, naquele processo improvisado de alfabetização. 

Minhas professoras do primário foram me passando de ano e acabei fechando o curso nova demais para seguir em frente. Só me aceitariam no ginásio depois dos dez anos completos. Sem nada para fazer, fiquei esperando o tempo passar. Com oito graus de miopia,  não conseguia praticar esporte. Andar de bicleta, nadar ou brincar de pique-cega, sem trocadilho, eram atividades além das possibilidades. Não havia tv, dvd, computador, nada. O único livro disponível era a Bíblia. Então, comecei a ler as letras miúdas meio que de brincadeira, mas acabei lendo tudo. Resultado: sei, desde pequena, e com segurança, que o texto mais poético da Bíblia é a Epístola de São Paulo aos Corínthios:

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, eu nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. O Amor nunca falha... Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o Amor".

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Oscar Niemeyer e a grandeza das cortinas de concreto






Conheci Oscar Niemeyer em Juiz de Fora, no último ano da faculdade de Jornalismo. Ele aceitou convite dos alunos de Engenharia da UFJF para ser paraninfo, mas a reitoria exigiu que apresentasse um currículo. Claro que a exigência absurda virou um escândalo, que Niemeyer foi paraninfo do mesmo jeito e que a cidade inteira considerou a turma da reitoria equivocada e mesquinha, para dizer o mínimo.  

Oscar Niemeyer era solar e inspirado. “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein”. Com este belíssimo texto, ele abriu o discurso de uma hora que fez os alunos.

Eu era estagiária do jornal Diário Mercantil, o mais lido da cidade. Por sorte fui escalada para a cobertura do evento e fiquei na fila do gargarejo. Niemeyer falava e, ao mesmo tempo, desenhava. Ao final de cada desenho, deixava o papel escorregar para a platéia. As pessoas passaram a disputar com avidez e interesse os desenhos oferecidos de forma tão gentil e inesperada.

De todos os presentes naquele auditório devo ter sido a primeira a vir morar em Brasília. E a maioria que vem para Brasília parece ter, além de um mesmo destino, uma mesma atitude com a cidade: passa a amar a arte de Niemeyer sobre todas as coisas, mas fica procurando defeitos em tudo. Impliquei com o prédio do Congresso que me parecia (e parece até hoje) um navio encalhado com duas velas brancas implorando ajuda ao céu indiferente do cerrado. Navio encalhado, pensava toda a vez que descia a Esplanada.     

Morador de Brasília implica mesmo. E diz que tudo na cidade é muito bonito por fora, mas que a gente só sabe como é de verdade quando mora dentro, essas coisas. Pois é, ouvi muitas vezes esta frase e devo até tê-la repetido. Ledo engano, claro. Brasília é única e nada supera sua vasta linha de horizonte. Nada, igualmente, supera o traço do seu arquiteto.      

Proust escreveu que era preciso guardar um pouco de céu azul na nossa vida e sempre penso que até parece que ele conhecia Brasília. Já as linhas da arquitetura deixam qualquer um  maravilhado. Sem dúvida, trata-se da beleza construída mais moderna, ousada e despojada que foi feita no mundo. Então, chega o dia em que todos entendem: Niemeyer é um gênio.   

Eu já achava isso quando o vi pela segunda vez. Ele veio a Brasília orientar a reforma da catedral. Fui escalada para acompanhá-lo, como repórter do Correio Braziliense. Perguntei se ele estava pintando a Catedral de branco por religiosidade. Ele disse que religiosidade sempre esteve presente na vida dele e que seu avô jamais deixou de ir à missa aos domingos, apesar de ser ateu convicto.

Ele foi a pé da Catedral até o Congresso e o segui no meio da comitiva de políticos e jornalistas que se formou em torno dele. Em poucas ocasiões na vida me senti tão privilegiada. Aliás, sou realmente apaixonada por suas obras. Algumas têm detalhes impressionantes como as "persianas" verticais  de concreto aparente do Palácio da Justiça. Sim, cortinas de cimento tão leves que se movem com o vento, como se pudessem voar.

Teoria ...



«Ficamos sozinhos quando somos exigentes. Ficamos sozinhos quando não mentimos. Ficamos sozinhos quando defendemos as nossas convicções. É um preço que estou disposto a pagar.» 
Pedro Mexia 

sábado, 1 de dezembro de 2012

O MAR



O mar rolou as suas ondas negras
Sobre as praias tocadas de infinito.
A boca das espumas nas areias.
Deixa gravado o arco do seu beijo.
E eu que no vento caminho e me abandono
Vou colhendo a colheita abandonada.

(Sophia de Mello Breyner)

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Para saber a verdade é preciso ter coragem...


O filósofo Michel Foucault, em "Fearless Speech", uma compilação de seis conferências que ele fez na Universidade de Berkeley, analisa a importância da verdade desde a Grécia Antiga e assegura: a capacidade de acreditar, e de agir de acordo com os princípios da verdade e da sinceridade, pertence a um pequeno grupo de pessoas: as corajosas.

Segundo Foucault, acreditar no que é a verdade significa saber o que é a verdade. E, para saber o que é verdade, é preciso coragem para não aceitar certezas e crenças estabelecidas. De fato. Tomás de Aquino definiu a verdade como expressão da realidade. Chegar à verdade, contudo, é complexo, talvez mesmo impossível dentro da limitada capacidade humana de racionalização.

Em grego, a verdade (aletheia) significa aquilo que não está oculto, o não escondido, manifestando-se aos olhos e ao espírito, tal como é, ficando evidente à razão. Em latim, a verdade (veritas) é aquilo que pode ser demonstrado com precisão, referindo-se ao rigor e a exatidão. Assim, a verdade depende da veracidade, da memória e dos detalhes. Em hebraico, a verdade (emunah) significa confiança, é a esperança de que aquilo que é será revelado, irá aparecer por intervenção divina.




domingo, 25 de novembro de 2012

O que é importante?




Natal é a celebração do nascimento de Jesus. Celebrar Cristo é celebrar o amor, a generosidade e a bondade entre os homens. É importante reforçar a mensagem de Cristo, para que se faça chegar a ternura aos corações. Feliz Natal!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Não é esta a cidade dos meus sonhos...



Como se não bastasse estar encalhada na vida, comecei a ficar encalhada no trânsito. Não, não é brincadeira. Brasília vive dias estranhos com apagões, alagamentos, sensação de abandono e lentidão. A comprovada rapidez nos deslocamentos é coisa do passado. Agora, o normal é ficar dez, vinte, até quarenta minutos esperando para atravessar uma asa ou sair da Esplanada. Com a chuva e o temporal dos últimos dias a coisa ficou mais complicada. 

Sem contar que tudo isso acontece em Novembro, o mês mais azedo do calendário. É, novembro é terrível,  trata-se do único mês sem personalidade: ainda não é Natal, mas já temos de conviver com os cartazes que nos fazem lembrar as incontornáveis compras, os incontornáveis “amigos-ocultos”, os incontornáveis cartões de boas festas, os shopping lotados, os jantares de comemoração, etc, etc.

É difícil não ficar tenso.  Ainda por cima tenho outro motivo para queixas: meu aniversário coincide com o final do ano, então sou obrigada a conviver com os dissabores do envelhecimento, os dissabores do trânsito e os dissabores das chuvas tudo ao mesmo tempo. E a casa? Ai, ai, ai, ia me esquecendo que neste ano tenho de fazer árvore de Natal para a Giovana, minha neta. É, a bebezinha já tem dois anos e vai sentir falta se não puder contar com o presentinho dos avós.

Só me faltava esta agora, voltar a fazer árvore de Natal e ir escolher enfeites com esta chuva e nesta cidade estranha. Será que alguém pode me dizer se fora da natureza existe alguma árvore de bom gosto? Deus do Céu, é Natal, vou ter de me afundar no Frontal! É, definitivamente, não é esta a festa dos meus sonhos, não é esta a cidade dos meus sonhos e não é esta a vida dos meus sonhos.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Sentimento




Viver de um modo seguro - não dizer o que a gente pensa e falar sempre de coisas leves e  agradáveis -  é realmente um tédio.

domingo, 11 de novembro de 2012

Carga Genética




Choveu e fiquei deprimida no meu canto, pensando que minha vida daria uma história que Kafka poderia ter escrito. Exagero? Certamente. Sou dramática e exagerada, mas já tenho linha de defesa: deve ser defeito genético. Ninguém acredita? Posso provar. Certa vez, ao ver que minha irmã havia quebrado a unha do mindinho, abri a bolsa e lhe ofereci uma lixa. Mais derretida que manteiga esquecida no sol, ela disse:

 - Você acaba de salvar a minha vida, muito obrigada!

Olhei em volta buscando alguma testemunha porque não podia acreditar no que estava ouvindo, enquanto minha irmã começava a operação de lixar a unha, muito séria e concentrada. Pensei: exagero neste volume e nesta intensidade é doença e, como também sou exagerada, isso é carga genética. E carga genética sempre merece desculpa. Vencer, superar, procurar ajuda psicológica e mudar são coisas que, neste momento, eu não gostaria de discutir.  

  

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

E se você tivesse o anel de Giges?



A moral não existe para punir, para reprimir, para condenar. Para isso há tribunais e prisões. A moral se manifesta dentro de cada um de nós, onde nós somos livres. Se uma pessoa quer roubar algo numa loja, mas há um guarda observando, ou uma câmera filmando, a pessoa recua com medo de ser apanhado, de ser punido, de ser condenado? Ok, ela não recuou por honestidade, recuou por cálculo. Então, isso não é moral; é precaução. O medo da autoridade é o contrário da virtude, ou é apenas a virtude da prudência. Imagina, pelo contrário, que aquela pessoa, ou mesmo você, tem o anel de que fala Platão, o anel de Giges. É um anel mágico que torna você invisível. Giges, que era um homem honesto, encontrou o anel mas não soube resistir às tentações: aproveitou os poderes mágicos para entrar no Palácio, seduzir a rainha, assassinar o rei, tomar o poder e exercê-lo em seu exclusivo benefício...

Quem conta a história n'A República [uma das obras de Platão] conclui que o bom e o mau não se distinguem senão pela prudência ou pela hipocrisia. O que isto sugere? Que a moral pode ser apenas uma ilusão, um engano, um medo disfarçado de virtude. Bastaria ter a posse do anel para que qualquer interdição desaparecesse, e não houvesse senão a procura, por parte de cada um, do seu prazer ou do seus interesses egoístas. Será isto verdade? Claro que Platão está convencido do contrário. Mas ninguém é obrigado a ser adepto de Platão. O que pensar, então? Que a única resposta válida está em cada um de nós. E você, o que faria se tivesse o anel de Giges? Qual seria a sua moral? Aquilo que você exige de você, não em função do olhar dos outros ou desta ou daquela ameaça exterior, mas em nome do seu entendimento do bem e do mal, do admissível e do inadmissível.

Concretamente: sua moral é o conjunto das regras que você obedece de forma livre, mesmo que fosse invisível e invencível. Você não tem o anel? Isso não dispensa ninguém da necessidade de refletir, de julgar, de agir. Se há uma diferença mais do que aparente entre um homem mau e um homem bom é porque o olhar dos outros não é tudo, porque a prudência não é tudo. Tal é a aposta da moral e a sua solidão derradeira: toda a moral é em relação ao outro, mas é pessoal e intransferível. Claro que agir moralmente é tomar em consideração os interesses do outro, mas «às ocultas dos deuses e dos homens», como diz Platão, ou, dito de outro modo, sem recompensa nem castigo possíveis e sem ter necessidade, para isso, de outro olhar que não o próprio.

E não é a religião que fundamenta a moral; pelo contrário, é a moral que fundamenta ou justifica a religião. Não é porque Deus existe que devo agir bem; é por agir bem que posso ter esperança — não para ser virtuoso, mas para escapar ao desespero — de crer em Deus. Não é porque Deus me ordena qualquer coisa que isso é bom; é por um mandamento ser moralmente bom que posso acreditar que vem de Deus. Deste modo, a moral não impede a crença, até conduz, segundo Kant, à religião. Mas não depende desta nem pode ser reduzida a ela. Mesmo que Deus não exista, mesmo que não haja nada depois da morte, isso não dispensa você, ou ninguém, de agir de forma humana. 


sábado, 3 de novembro de 2012

Política na imprensa

Todos os projetos de comunicação social são projetos políticos. Desde sempre: na origem da imprensa não estão fofocas da corte, matérias educativas ou de prestação de serviço. Na origem da imprensa está a propaganda jacobina dos panfletos contra Luis XVI. Não há nada errado com projetos políticos. Errado é negar a política. Sem intermediação política não há vida em sociedade, tampouco vida civilizada. Aliás, é à política que devemos recorrer para construir, de forma democrática, as regras que temos de obedecer.  



segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Aos vencedores, as batatas... quentes!


Prezados prefeitos eleitos,
Prezadas prefeitas eleitas,

Não se esqueçam que o Brasil tem carência de engenheiros, cientistas e pesquisadores. Não gera tecnologia própria em quase nenhum setor. Na verdade, o trabalhador brasileiro tem a escolaridade média dos países mais pobres do planeta. Parcela significativa de adolescentes brasileiros de 15 anos não consegue escrever um bilhete nem fazer um cálculo que não seja adição.

A vida das pessoas não está nada fácil. O trânsito anda infernal e a espera  exaspera. Melhoramos em muitos aspectos sim, mas há muito a fazer. Metade dos domicílios está sem acesso a esgoto e a violência cresceu demais nos últimos anos. Prefeitos devem participar sim, por meio da organização e do treinamento de guardas municipais, da luta contra o aumento da criminalidade e no combate às drogas.

Acredito que ninguém está dispensado de participar da guerra contra a violência. O caminho é investir em Educação e fazer reformas para combater o desperdício e a corrupção? Certamente. Máquina pública pode e deve prestar bons serviços de Saúde e Educação, além de investir em programas que gerem emprego e renda. Um bom ambiente nas cidades pode melhorar o futuro de todos no país.

Muita coisa vem sendo feita, conforme atestam os resultados das pesquisas do IBGE, mas há muito trabalho a fazer. Coisa boa de comemorar, por exemplo, é a queda da desigualdade. O índice de Gini vem continuamente caindo no Brasil, mas o ritmo é muito lento. Tomara que prefeitos e prefeitas  acelerem esta queda com força e perseverança.

É isso. Uma pessoa pode mover para melhor o mundo de outras pessoas, se souber mover direito. E, por fim, uma palavra sobre a imprensa: informem as pessoas.  O exercício da vida pública exige transparência e implica tolerância com a liberdade de imprensa, uma das condições da vida democrática. 


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Os livros são tudo, o resto é nada



Estava certo o poeta Jorge Luis Borges ao imaginar o Paraíso como uma espécie de biblioteca. Os livros são tudo. Só os livros alcançam a eternidade. Nas sociedades, tudo passa, – até mesmo as coisas que pensamos ser importantes. Quem mandava no tempo de Gustave Flaubert? Não importa, importa saber que Madame Bovary, com seu tédio e sua cadelinha, sobreviveu e segue conosco.

E quem foram as celebridades e os magnatas do tempo de Shakespeare? Ninguém sabe. Só Shakespeare está vivo até hoje. Julieta é eterna e sempre será assim. No Brasil, temos Capitu, com seus "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" ou "olhos de ressaca". A seu lado, o inseguro Bentinho. Será que ele também amava Escobar? Sempre penso nessa possibilidade. Afinal, são insondáveis os mistérios da alma humana.

Dizem que Machado de Assis desejava formar parte da alta sociedade do Rio de Janeiro. Hoje, ninguém sabe o nome de um só banqueiro ou de um grande comerciante daquele tempo. Só Machado está entre nós com Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba. Também seguem conosco Guimarães Rosa, Lima Barreto, Autran Dourado, Graciliano Ramos, Érico Verissimo e tantos outros autores de livros notáveis.

Quem, neste século, e no século passado, não deve alguma coisa ao romance russo Os Irmãos Karamazov? Paulo Francis dizia que Dostoievski inaugurou a psicanálise antes de Freud, não como método terapêutico, mas como investigação da psique. Ele seria o equivalente russo de Shakespeare, "reinventando" o humano. Cabe tudo nos seus livros: o real e o transcendente.

Não há quem não fique maravilhado com Os Miseráveis, de Victor Hugo. Também são pontos máximos da literatura obras como Cem Anos de Solidão, O Apanhador no Campo de Centeio e A Sangue Frio. E Dom Quixote, um dos livros mais extraordinários de todos os tempos? Como esquecer um herói que navega entre a perplexidade e a desorientação em sua quase infinita aventura?

Meu lívro favorito, Antígona, de Sófocles (496–406 a.C.), descreve uma das guerreiras heróicas mais fortes de todos os tempos. Ousada e indomovável, ela foi capaz de assumir os valores éticos mais elevados, mesmo sabendo que perderia a vida. Seu legado: nenhum poder é absoluto. É isso, Borges tem razão. Se há paraíso ele é uma espécie de biblioteca. Os livros são tudo. O resto é lágrima na chuva...

domingo, 21 de outubro de 2012

Dois poetas geniais e dois poemas fantásicos...




















Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens

que correm atrás das mulheres.

A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas pretas amarelas.

Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém meus olhos

não perguntam nada.

O homem atrás do bigode

é sério, simples e forte.

Quase não conversa.

Tem poucos, raros amigos

o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meus Deus, por que me abandonaste

se sabias que eu não era Deus

se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,

se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer

mas essa lua

mas esse conhaque

botam a gente comovido como o diabo.

Carlos Drummond de Andrade



Com Licença Poética

Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado para mulher,

essa espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,

sem precisar mentir.

Não sou tão feia que não possa casar,

acho o Rio de Janeiro uma beleza e

ora sim, ora não, creio em parto sem dor.

Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.

Inauguro linhagens, fundo reinos

- dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade de alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida é maldição para homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Estratégia...

Os anos ensinam muitas coisas que os dias desconhecem. É errado jogar no ataque o tempo todo. Não dá para ganhar só com paus e espadas. Nem no baralho e nem na vida.

sábado, 6 de outubro de 2012

Sobre acreditar...



Hemingway, um dia, inquirido sobre se acreditava em Deus, respondeu: «À noite, às vezes».


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Machado de Assis, um brasileiro genial


Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis,  é uma obra-prima. Se Machado tivesse nascido na Europa ou nos Estados Unidos seria incluído, sem favor algum, na lista dos dez escritores mais geniais de todos os tempos. Abaixo, o primeiro capítulo deste livro escrito com aquele desencanto atemporal que parece ser caracteristica de todos os genios da literatura:  

Capítulo Primeiro

Óbito do Autor

"Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.

Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos!

Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia — peneirava — uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferi. à beira de minha cova: — «Vós, que o conhecestes, meus senhores vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.»

Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o undiscovered country de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego como quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido. Viram-me ir umas nove ou dez pessoas, entre elas três senhoras, ; minha irmã Sabina, casada com o Cotrim, a filha — um lírio do vale, — e. . . Tenham paciência! daqui a pouco lhes direi quem era a terceira senhora. Contentem-se de saber que essa anônima, ainda que não parenta, padeceu mais do que as parentas. É verdade padeceu mais. Não digo que se carpisse, não digo que se deixasse rolar pelo chão, convulsa. Nem o meu óbito era cousa altamente dramática... Um solteirão que expira aos sessenta e quatro anos, não parece que reúna em si todos os elementos de uma tragédia. E dado que sim, o que menos convinha a essa anônima era aparentá-lo. De pé, à cabeceira da cama, com os olhos estúpidos, a boca entreaberta, a triste senhora mal podia crer na minha extinção.

«Morto! morto!» dizia consigo.

E a imaginação dela, como as cegonhas que um ilustre viajante viu desferirem o vôo desde o Ilisso às ribas africanas, sem embargo das ruínas e dos tempos, — a imaginação dessa senhora também voou por sobre os destroços presentes até às ribas de uma África juvenil... Deixá-la ir; lá iremos mais tarde; lá iremos quando e me restituir aos primeiros anos. Agora, quero morrer tranqüilamente, metodicamente, ouvindo os soluços das damas, as falas baixas dos homens, a chuva que tamborila nas folhas de tinhorão da chácara, e o som estrídulo de uma navalha que um amolador está afiando lá fora, à porta de um correeiro. Juro-lhes que essa orquestra da morte foi muito menos triste do que podia parecer. De certo ponto em diante chegou a ser deliciosa. A vida estrebuchava-me no peito, com uns ímpetos de vaga marinha, esvaíase-me a consciência, eu descia à imobilidade física e moral, e o corpo fazia-se-me planta, e pedra e lodo, e cousa nenhuma.

Morri de uma pneumonia; mas se lhe disser que foi menos a pneumonia, do que uma idéia grandiosa e útil, a causa da minha morte, é possível que o leitor me não creia, e todavia é verdade. Vou expor-lhe sumariamente o caso. Julgue-o por si mesmo".


domingo, 30 de setembro de 2012

Ser brasileiro é ...


Ando pensando na responsabilidade que devíamos ter com a construção da autoestima do nosso povo. Ser brasileiro é gostar de samba, de futebol e de dança, mas não é só isso. Temos um destino especial em razão do nosso compromisso com a leveza, a liberdade e a alegria de viver? Acredito que sim. Não é fácil superar a dor da morte e levar a vida de forma alegre. No Brasil, porém, mesmo com todas as dificuldades, somos fortes e capazes de agir dessa maneira como povo. Esse é o nosso jeito.  

Somos assim porque contamos com a qualidade dos nossos músicos e dos nossos poetas. Além do Carnaval, que nos associou para sempre ao destino de povo feliz, temos dívida com músicos como Tom Jobim, João Gilberto, os baianos do tropicalismo e, claro, Dodô e Osmar. Foram eles que criaram na Bahia os trios elétricos que espalham música e dança pelas ruas de nossas cidades. O resultado dessa mobilização popular é visível: a alegria tornou-se  marca da nossa gente.

Ser alegre combina com a alma brasileira. Afinal, que mulher pode ser triste quando é herdeira direta de Leila Diniz? E que menino resiste a um sorriso se lhe dizem que é herdeiro de Zumbi dos Palmares? É isso, ser brasileiro é ter essa grande herança e saber carregá-la com estilo, beleza e charme. Como disse Vinicius de Moraes, "é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe; é assim como a luz no coração"...

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A festa da minha vida

Rápido e rasteiro


Vai ter uma festa,

que eu vou dançar

até o sapato pedir pra parar...

Aí eu paro,

tiro o sapato

e danço o resto da vida...
 
Chacal

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Poesia é...

"Poesia é voar fora da asa"

Manoel de Barros

Embriague-se, texto de Charles Baudelaire

"Embriague-se. É preciso estar sempre embriagado. Isso é tudo: é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que lhe quebra os ombros e o curva para o chão, é preciso embriagar-se sem perdão. Mas de que? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser. Mas embriague-se.E se às vezes, nos degraus de um palácio, na grama verde de um fosso, na solidão triste do seu quarto, você acorda, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunte que horas são e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio lhe responderão: "É hora de embriagar-se! Para não ser o escravo mártir do Tempo, embriague-se; embriague-se sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser". 
Charles Baudelaire

domingo, 23 de setembro de 2012

Morre Freud a 23 de Setembro de 1939

Freud é um dos seres humanos mais geniais que existiram. Abaixo, alguns dos seus textos.

"O meu pai deu-se um dia ao luxo desta brincadeira: abandonou à destruição, confiando-o a mim e à mais velha das minhas irmãs, um livro com estampas a cores (descrição de uma viagem pela Pérsia). No plano pedagógico, era difícil de justificar. Eu tinha então cinco anos, a minha irmã tinha menos três que eu e a imagem de nós os dois, crianças, no cúmulo da alegria, desfolhando esse livro folha a folha (como uma alcachofra) (devo dizer) é quase a única que me ficou como recordação plástica deste período da minha vida. Depois, quando me tornei estudante, desenvolveu-se em mim uma predilecção manifesta por coleccionar e possuir (análoga à inclinação para estudar a partir de monografias, uma paixão favorita, tal como aquela que aparece já nos pensamentos do sonho no que se refere a cíclame e a alcachofra). Tornei-me um rato de biblioteca [Bucherwurm]...

"Desde que reflito sobre mim, sempre reconduzi este primeiro capricho da minha vida a esta impressão de criança, ou antes, reconheci que esta cena infantil é uma «recordação-encobridora» da minha bibliofilia ulterior. Naturalmente, aprendi cedo que as paixões nos arrastam facilmente aos sofrimentos".[Freud, in A Auto análise de Freud e a Descoberta da Psicanálise, vol I, Edições 70, 1990]

Anotações várias:"... fala, o canto, os movimentos da língua e da pena estão investidos de um simbolismo genital: a palavra representa o pénis e o movimento da língua ou da pena, o coito. Este investimento articula-se com o prazer de ouvir, que tem a sua origem numa cena primitiva apercebida segundo o modo sonoro e que estaria na origem do interesse pela música ..." [Didier Anzieu, in Psicanálise e Linguagem, Moraes, 1979.

– "Não concordo quando dizem que sou sábio ou um "iniciado" na sabedoria. Certo dia um homem encheu o chapéu com água tirada de um rio. O que significa isso? Eu não sou esse rio, estou à sua margem, mas não faço parte do rio. Outros homens estão à beira do mesmo rio e em geral pensam que deveriam fazer as coisas por iniciativa própria. Eu nada faço. Nunca imaginei ser «aquele que cuida para que as cerejas tenham haste». Fico lá, de pé, admirando os recursos da natureza...

"Há uma velha lenda, muito bela, de um rabino a quem um aluno, em visita, pergunta: «Rabbi, outrora havia homens que viam Deus face a face; por que não acontece mais isso?» O Rabino respondeu: «Porque ninguém mais, hoje em dia, é capaz de inclinar-se suficientemente». É preciso, com efeito, curvar-se muito para beber no rio”...

"É pela importância que a alquimia teve para mim [Yung diz que o estudo da alquimia o absorveu por mais de 10 anos. Para o efeito seguiu uma metodologia bem curiosa] que percebi minha ligação interior com Goethe. O segredo de Goethe foi o de ter sido tomado pelo lento movimento de elaboração de metamorfoses arquetípicas que se processam através dos séculos; ele sentiu seu Fausto como uma opus magnum ou divinum - uma grande obra ou obra divina. Tinha razão, portanto, quando dizia que Fausto era sua «obra-prima»; por isso sua vida foi enquadrada por esse drama. Percebe-se de modo impressionante que se tratava de uma substância viva que agia e vivia nele, a de um processo supra-pessoal, o grande sonho do mundus archetypus. ][C. G. Yung, Memorias Sonhos Reflexões, Rio de Janeiro, 1975]

sábado, 22 de setembro de 2012

Momento cultural


A preguiça me conduzirá direitinho ao inferno. Nos últimos tempos não li nenhum livro decente, não fui a bons filmes e não assisti a peças de teatro elogiadas pela crítica. Na verdade, sequer ouvi algum disco recente. Dediquei-me a ver televisão aberta e a tentar descobrir, nos canais fechados, alguma produção genial como House ou Lost. Não é fácil, mas estou adorando “Girls”, uma série que aborda, com muita graça e bastante realismo, a caótica rotina de quatro garotas norte-americanas na casa dos vinte, vinte e poucos anos. A autora é uma das garotas e falar dela e do seu tempo com muita sinceridade e alguma genialidade. Não é por acaso que a série foi indicada a prêmios importantes e deve, inclusive, ganhar vários deles.  

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O que é importante?

O mais importante nos tempos que correm é não perder o sentido de humor e ir andando...

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A propósito das eleições ...


De dois em dois anos temos eleições, então resolvi dizer algumas palavras sobre o assunto. Lido com a política e os políticos há mais de 30 anos, não falo com arrogância, apenas registro que tenho alguma proximidade com o assunto.

A primeira coisa a assinalar é óbvia: campanha eleitoral é, por natureza, um jogo duríssimo. Se alguém conquista um voto, tal significa que alguém perdeu um voto. Muito simples.

Inevitavelmente, o objetivo de uma campanha eleitoral consiste em obter o maior número de votos possível e tal faz-se em detrimento de terceiros.

Logo, como facilmente se percebe, qualquer pacto de não agressão entre partidos e candidatos adversários é feito para ser quebrado. Será apenas uma questão de tempo. E acontece com todas as campanhas e com todos os candidatos. Ou alguém acredita em pactos que vão contra a própria lógica de uma campanha eleitoral? Aliás, esses pactos costumam ser tão fajutos que não têm sequer mecanismos de penalização em caso de violação.

Um dos piores erros dos derrotados é desvalorizar a vitória dos que ganham. Pode até ser uma espécie de bálsamo para atenuar a frustração da derrota, mas a regra é clara: na corrida eleitoral ganha quem tem mais votos! 

Espelho, espelho meu

 O reflexo que cada um vê de si no espelho não corresponde exatamente ao que efetivamente somos.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Mania de reescrever...




É muito engraçado assistir aos esforços das pessoas para recordar o passado como elas gostariam que o passado tivesse acontecido. Editar o que se passou, principalmente nas ocasiões em que metemos os pés pelas mãos, sempre me pareceu uma idéia fantástica. Tanto que tenho até uma lista de acontecimentos que gostaria de lembrar de outra maneira. Sei que fazer isso não está totalmente certo, mas sei, igualmente, que não é mesmo possível passar pela vida com a honra intata. Vamos então cumprir aquilo que assinamos. Quanto ao resto, bem, acho que, desde que a gente não machuque ninguém, não faz mal dar uma ajeitadinha aqui e outra ali nas memórias.

domingo, 16 de setembro de 2012

Mais de 50 tons de cinza...



Existe uma tonalidade moral nas opções que faço. Trata-se de escolhas que implicam cada vez mais uma posição de indiferença em relação ao que se passa. Sim, adoto a indiferença mas sei que ela não é moralmente neutra. Quem é "indiferente", escolheu essa "indiferença". E arca com as consequências.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Falta pai...



Falta pai nos lares brasileiros. Nas favelas do Rio, 70% dos jovens entre 12 e 17 anos não têm pai, 25% declaram não saber nada sobre sua mãe e 20% dizem que foram criados por tios ou avós. Assim, quem joga papel central na rotina diária dessas favelas são as gangues do tráfico de drogas. Da seguinte maneira: “elas são as que organizam a vida cotidiana das favelas, que estabelecem leis e códigos de condutas, enquanto as polícias são vistas como perseguidoras e agressivas”, sustenta o documento. O estudo, que está no Clarín, foi noticiado hoje pelo ex-blog do Cesar Maia.
Link: http://www.clarin.com/mundo/estudio-echa-luz-narcos-favelas_0_773922679.html

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Eleições: o que todo candidato vende...


Sonhos de padaria

Ingredientes:
500 gr de farinha de trigo
50 gr de fermento para pão (biológico)
100 gr de margarina
100 gr de açúcar
3 gemas (peneirada)
Algumas gotas de essência de baunilha
Uma pitada leve de sal
150 ml de leite (morno)
Preparo:
No liquidificador coloque o fermento, o leite morno, o açúcar e umas 2 colheres de farinha, e bata. Deixe crescer(agir) um pouco, e depois despeje em cima da farinha, já colocada numa batedeira, com o batedor em forma de gancho. No cantinho longe da mistura do fermento coloque o restante dos ingredientes e ligue a batedeira. Deixando bater até formar uma massa homogenia, macia e maleável.
Faça bolinhas no tamanho desejado. E vá dispondo em uma forma untada. Deixe crescer até dobrar de volume. E coloque para assar, em forno baixo, por mais ou menos por 20 minutos. (se for fritar, deixar a massa crescer normal, e quando estiver no ponto colocar no óleo quente a 160°)
Corte os sonhos ao meio e recheie com o que desejar: creme de baunilha, doce de leite, geléia, brigadeiro etc…




sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O patriotismo que nos une ....

De vez em quando, os brasileiros descobrem que o seu país não está onde às vezes o futebol o coloca. Muito menos onde está a sua economia. Só de vez em quando, mas de vez em quando mesmo, alguns brasileiros conseguem olhar o espelho da verdade. Ali, em vez da imagem inflada do gigantesco ego nacional, podem ver a desigualdade e o atraso do país na educação, na segurança, na cultura e na tecnologia. E só então percebem que falta muito para a construção de um país justo e decente. Caminhamos muito nas últimas quatro décadas, mas temos de seguir adiante para edificar um Brasil melhor para nossos filhos e netos. Em nosso favor, é bom que se diga neste dia 7 de setembro, sempre tivessemos o patriotismo, sentimento que nos une e que nos assegura uma reserva de coragem que nos faz vencer todas as crises que ameaça nos atingir.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Mais uma diferença?



"Quando Deus distribuiu as tarefas, as mulheres ficaram com fingir o orgasmo e os homens com fingir o amor".

Pedro Mexia

domingo, 2 de setembro de 2012

Por favor, qual é o caminho?



- Podia me dizer, por favor, qual é o caminho?, pergunta Alice
- Isso depende muito do lugar para onde queres ir, diz o Gato.
- Não me importa muito onde...
- Nesse caso não importa por onde vais...
- ...contanto que eu chegue a algum lugar, respira Alice.
- É claro que isso acontecerá. Desde que andes durante muito tempo, diz o Gato.

Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll

sábado, 1 de setembro de 2012

Democracia, sempre...


Escândalos de corrupção são particularmente nocivos quando desqualificam a política e a democracia. Por uma razão: a média de várias pesquisas feitas nos últimos dez anos mostram que parcela significa dos brasileiros, o equivalente a 40% da população, não valoriza a democracia. Felizmente, 52% dos brasileiros, ou seja, a maioria, segue acreditando que a Democracia é o melhor sistema de governo.

Nas perguntas sobre a classe política, 78% dos entrevistados acham que "os políticos se preocupam apenas com os seus próprios interesses". Isso quer dizer que uma fatia de quase 80% da população vê a política de forma negativa. E o pior é que quase ninguém parece preocupado com isso. É uma pena.

A Democracia é um conjunto de regras e convenções formidáveis. Envolve o Governo e a Oposição, assim como o sindicato que entra e o que não entra em greve. O sindicato do empregado e o sindicato do patrão. Trata-se de um conceito amplo mas pode ser definido com simplicidade: Democracia, acima de tudo, é a liberdade de cada um conduzir a vida no sentido que bem entender.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O que vejo da janela




Muita gente por aí...
nem pobre, nem endinheirado,
nem feliz, nem angustiado,
nem feio, nem apessoado,
nem de esquerda, nem do outro lado,
nem esquecido, nem lembrado,
nem perdido, nem achado...

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O mês de agosto acabou? O ano também...


Há algum tempo li uma pesquisa informando que as pessoas sentem muita angústia quando acaba o mês de agosto porque é nessa altura que ocorre a pressão para definir o que foi e o que não foi feito ao longo do ano. E o que não aconteceu até 31 de agosto não vai acontecer mais. Agosto seria então o “intervalo” para balanço entre um ano e o outro. Se a gente não conseguiu algum dinheiro até agosto, dificilmente sairá do atoleiro até o Natal, dizia a pesquisa. Claro que existem exceções, mas essa seria a regra geral ditada pelo bom senso e a realidade do dia-a-dia das pessoas. Eu concordo com isso, para mim agosto é o mês que sela a nossa sorte com o ano em curso: o que não deu para fazer até aqui, adeus...já foi. Podemos correr para recuperar uma ou outra coisa aqui e ali, mas a definição mesmo já aconteceu.

sábado, 25 de agosto de 2012

Mulher não vence apenas por não ser homem...



Se conselho fosse bom não era de graça, mas, como as eleições estão chegando gostaria de dar um recadinho sobre essa questão de gênero. Não vote em ninguém só pelo gênero. A não ser mãe, avó, bisavó, tia, ou nora, ninguém deve chegar a lugar algum só por ser mulher.

As mulheres que estudam, trabalham e avançam não usam a condição feminina como motor do seu progresso. Nenhuma mulher se torna juíza, ou presidente de uma empresa, apenas por não ser homem.

As mulheres também não sobem na carreira por necessidade das corporações de diversificar o quadro ou de combater o machismo. Elas sobem por méritos que são medidos por padrões que valem tanto para homens quanto para mulheres.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Eliane Cantanhêde:"Amizade é amor que não morre!"

Amizade
Significado de Amizade: Afeição, estima, dedicação recíproca entre pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferente: laços de amizade. Amor.Acordo: tratado de amizade, favor, serviço.
Sinônimos de Amizade: afeto, amor, apego, benevolência, fraternidade, simpatia e ternura
Classe gramatical de amizade: Substantivo feminino
Separação das sílabas de amizade: a-mi-za-de
Plural de amizade: amizades
Outras informações sobre a palavra Amizade
Possui 7 letras
Possui as vogais: a e i
Possui as consoantes: d m z
Rimas com amizade: bondade. verdade, familiaridade e sinceridade.
Frases com a palavra amizade:
"Para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolvermos em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos".-- Sócrates
"A amizade é um amor que nunca morre."-- Mário Quintana


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Olha o passarinho!



No 1º dia do horário eleitoral os candidatos normalmente aparecem com a mulher e os filhos, naquela pose familiar tão medieval... Sinceramente? Essa mania de copiar o estilo eleitoral dos EUA não faz sentido, é muito falsa e demonstra um conservadorismo que não combina com o nosso tempo, muito menos com o espírito de leveza que é característica brasileira.

A pose da família da propaganda de margarina cheira a mofo. Mesmo assim, em todas as eleições na América lá estão os candidatos se apresentando ao lado dos parceiros e dos filhos, como se isso fosse condição para governar. E olha que, no caso de Obama, eles parecem formar uma família de verdade. De todo modo, acho que no Brasil não precisamos repetir esse gesto tão simbólico do conservadorismo extremo que é marca dos EUA.

Família é essencial, todo o mundo sabe disso, mas, falando francamente, não é exigência para ninguém receber votos. O que deve ser exigência é história de vida, competência política, capacidade de realização e disposição para o exercício da vida pública. Isso sim faz sentido de civilização e expressa modernidade.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Newsweek: Obama deve ir passear?




A Newsweek desta semana dá destaque a um artigo de Niall Fergusson, historiador britânico radicado nos Estados Unidos, sobre o mandato de Obama. O texto é duro com o presidente dos Estados Unidos. Segundo o historiador, Obama não está à altura do cargo que ocupa e Mitt Romney merece ser eleito. Fergusson mostra-se entusiasmado com Paul Ryan, o vice da linha dura que foi escolhido pelos republicanos. Sei muito pouco da política norte-americana, mas se a chapa Romney/Paul Ryan ganhar, acredito que a América colocará em evidência, mais uma vez, o caráter conservador do seu povo.

domingo, 19 de agosto de 2012

Pobre Ceará, condenado aos coronéis...


Conheci um pouco do Ceará em 1986 quando fui morar lá durante uns oito meses para cobrir, como repórter do Jornal do Brasil, a “queda dos coronéis” que mandavam na política cearense desde o tempo do regime militar. No decorrer destes últimos 25 anos, voltei lá em algumas ocasiões e a sensação que tenho é que algo deu muito errado ali porque surgiram novos coronéis que seguem mandando e desmandando no Estado.

Agora mesmo, achei que a contratação, por RS 3 milhões, de um show do tenor Plácido Domingos para um evento em Fortaleza foi um ato de coronelismo que não faz o menor sentido. Feita pelo governador Cid Gomes, que comanda o Ceará em sociedade com o irmão, Ciro Gomes, a contratação é um absurdo total. Foi feito um enorme gasto de dinheiro público sem atender qualquer prioridade ou necessidade dos cearenses.

Não sei quase nada sobre o governador Cid, mas conheci Ciro Gomes e fico imaginando o que ele diria se este show fosse contratado por seus adversários. Ciro tem “fala fácil” e,certamente, usaria termos fortes, como é seu estilo. Aliás, sobre Ciro Gomes gostaria de dizer o seguinte: reconheço que possui características que, isoladamente, são estimáveis. É corajoso e frontal. Pena que exerça o protagonismo de forma meio insuportável, com sua linguagem barroca e sua arrogância justiceira. Arrogância de coronel, não há como negar.

sábado, 18 de agosto de 2012

Deus nos livre de ambições!


A escola no Brasil ensina mal. No ensino médio, a média do país é de 3,7. Isso quer dizer que o êxito de brasileiros lá fora continuará sendo resultado do talento individual de nossos músicos, nossos atletas do futebol e das nossas bonitas modelos das passarelas da moda. Assim tem sido ao longo dos anos e todos estamos contentes e satisfeitos com nossos talentos. Sim, trocamos olhares cúmplices e satisfeitos. Somos até capazes de dizer que temos motivos para comemorar porque há brasileiros amados no mundo inteiro.

Darcy Ribeiro dizia, com grande propriedade, que a maior prova do fracasso da escola no Brasil era este: o brasileiro só se destaca no mundo pelo futebol, a música e a beleza, que são dons que têm muito a ver com a genética e, a rigor, nada a ver com a escola. A tristeza disso é que não aprendemos nada na linha do tempo. Nem vamos aprender.

Estamos administrando a educação de forma sofrível e do mesmo modo que administramos a saúde. Tanto que nossa nota média é 3,7, segundo o Indice de Desenvolvimento da Educação Básica. Nessa batida, dificilmente vamos formar, via nossas escolas, os produtores de tecnologia ou os doutores nas demais áreas do conhecimento que vamos precisar ter no futuro.

O pior é que ninguém parece se chatear com isso. E é tão bom quando ninguém tem que se chatear! Sim, se há coisa que os brasileiros não gostam é de chateação. Deus nos livre de ambições, exigências ou responsabilidades. Temos Pelé, temos Gisele. Duas pessoas que se destacam e que são amadas no resto do mundo. Que bom. Estamos todos de parabéns.

domingo, 12 de agosto de 2012

Não devemos censurar o riso de ninguém...


Um amigo querido anda queixando-se, com toda a razão, da convivência nas redes sociais. Depois de curtir e compartilhar uma reportagem sobre comida, ele foi criticado com muita agressividade. Com tantos problemas a nos atazanar por que você perde tempo com essas coisas, perguntaram-lhe?

Ele tentava explicar que só estava agindo de forma leve e divertida, mas as tréplicas subiram de tom. Alguns chegaram a lhe dirigir palavrões. Ao final de um dia inteiro de peleja, meu amigo se deu por vencido e largou o computador espantado com o mau humor das redes sociais.

Fiquei muito solidária a ele. Para fazer um “post” de blog ou um twitter, ninguém precisa ter rigor histórico e só discutir assuntos de política e economia. Deus nos livre de tanta seriedade. A internet pode sim ser um espaço divertido, onde não prevaleca só as pautas mais pesadas. Todos temos o direito de brincar com a história de uma forma suave e descontraída.

E quanto a entrar na página do outro para agredir? Aí é diferente. Isso me parece coisa de quem não consegue estar satisfeito com a vida e quer estragar tudo à sua volta, a começar pela alegria dos outros. Sei que não adianta quase nada tentar explicar o ressentimento aos ressentidos, mas não custa enviar a eles uma mensagem positiva. Relaxar é preciso.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Não mereço medalha...


Estou vendo mais tevê do que o costume por causa das Olimpíadas. Numa noite dessas fiquei na frente da tevê assistindo até a final olímpica da prova K2 1000 metros da canoagem.

Os vencedores (a prata ficou com Portugal e fiquei feliz por eles) demonstraram, mais uma vez, que remar para o mesmo lado de forma consistente, simultânea e ritmada é condição de triunfo. Um exemplo para todos, sobretudo para os educadores, líderes políticos e todos que estão no comando.

A prova me fez pensar sobre a vida. Na infância e na adolescência remei contra a corrente. É difícil seguir em frente assim? Muito difícil, mas o gosto que dá é incomparável. Sei por tê-lo sentido muitas vezes na boca.

Hoje, não tenho mais coragem de remar quase nunca. Muito menos com vento contrário. Afinal, sou adulta e os tempos são de acomodação. E sei que devo seguir na geléia geral em busca da insignificante glória de vencer um dia depois do outro. Pena que desse jeito eu não faça por merecer medalha alguma.