sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Política é para ficar rico?




A ideia de que a política serve para enriquecer os políticos é herança portuguesa e sempre esteve presente na cultura brasileira. Roubar no exercício da função pública parece tradição desde a República Velha, quando toda a gente roubava disciplinadamente, com método e com ordem. Não há um só registro da época que não faça menção à gatunagem.

Tudo indica que Getulio Vargas não roubou (virtude pela qual é louvado), mas deixou a vassalagem roubar a rodo. No governo JK contam que um político roubava edifícios inteiros, hábito que fez dos seus descendentes um dos clãs mais ricos do país até a eternidade. Detalhe: o clã segue na política.

O hábito de roubar edifícios inteiros, infelizmente, resiste à corrente do tempo. Vale lembrar, a propósito, a cassação do ex-senador Luiz Estevão. Ele teria mentido a seus pares, depois de receber milhões do Orçamento para construir um edifício em São Paulo. Acontece que teria embolsado o dinheiro, deixando a obra no papel.

Quando comecei no jornalismo em Brasília, há muitos anos, pude constatar que determinados políticos têm uma visão realmente societária do Estado. E agem com desenvoltura a respeito. Não me esqueci de episódio bizarro com o então senador Alexandre Costa (MA). Ele havia empregado os filhos no Senado e fui ouvi-lo para fechar a matéria que seria publicada no JB.

"Dei emprego aos meus filhos sim, e você queria o quê? Que eu empregasse os seus?", reagiu ele, muito seguro de si. Em seguida, citou a Bíblia: "Mateus, Mateus, primeiro os teus, esta frase é bíblica, está na Bíblia, entendeu mocinha?". A "mocinha" entender ou não entender dava no mesmo, uma vez que nepotismo, desvios na administração pública e distorções que geram atos de corrupção dependem do bom funcionamento das instituições.

A despeito das corretas intenções das mocinhas e dos mocinhos que ficam indignados, com toda as razões do mundo, com falta de lisura na gestão pública, os erros não são e nem serão corrigidos por atos isolados. Sempre fico brava quando ouço alguém dizendo que o brasileiro tem que fiscalizar os políticos que elege e outras besteiras do gênero. Ninguém tem essa obrigação não. O brasileiro faz muito, trabalha e paga impostos. Não é sua a obrigação de vigiar a mão grande de ninguém.

A verdade é que as instituições é que têm de funcionar até por uma razão elementar: elas é que têm esta missão constitucional. Mais: elas recebem recursos orçamentários com essa finalidade. Cabe lembrar, aliás, que o emprego de parentes na administração pública só foi golpeado com intervenção do Poder Judiciário. Então é isso: ninguém tem o direito de cobrar ou delegar a este ou aquele brasileiro a tarefa de endireitar o país no que diz respeito aos valores éticos. Esse dever é das instituições, elas é que precisam funcionar.

Também acho errado quando vejo alguém criticando as pessoas, principalmente as que não tiveram oportunidade alguma na vida, porque elas teriam escolhido este ou aquele candidato em troca de alguma vantagem material. Ora essa... Na verdade todos os eleitores, escolarizados ou não, votam em troca de alguma coisa. Não é de graça (literalmente) que pessoas de todas as camadas sociais elegem e reelegem criaturas denunciadas por corrupção em todos os estados do país.

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