quinta-feira, 7 de junho de 2012

Tempo, tempo, tempo...


Tenho muita alegria de dizer que jamais deixarei de ser fiel à única coisa que nunca acaba: o tempo. Nada nos pertence, só o tempo é mesmo nosso.A natureza concedeu-nos a posse desta coisa transitória e evanescente da qual quem quer que seja nos pode expulsar. É tão grande a insensatez dos homens que ninguém se julga na obrigação de justificar o tempo que recebeu, apesar de este ser o único bem que, por maior que seja a nossa gratidão, nunca podemos restituir. Por essa razão, publico a bela poesias que João Cabral de Melo Neto dedicou ao tempo.

A mão daquele martelo nunca muda de compasso.
Mas tão igual sem fadiga, mal deve ser de operário;
ela é por demais precisa para não ser mão de máquina,
a máquina independente de operação operária.
De máquina, mas movida por uma força qualquer
que a move passando nela, regular, sem decrescer:
quem sabe se algum monjolo ou antiga roda de água,
que vai rodando, passiva, graçar a um fluido que a passa;
que fluido é ninguém vê: da água não mostra os senões:
além de igual, é contínuo,sem marés, sem estações.
E porque tampouco cabe, por isso, pensar que é o vento,
há de ser um outro fluido que a move: quem sabe, o tempo.

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