quarta-feira, 15 de julho de 2009

HOJE ACORDEI ASSIM*




Não sei que tempo faz, nem se é noite ou se é dia.

Não sinto onde é que estou, nem se estou.

Não sei de nada.Nem de ódio, nem amor.

Tédio? Melancolia.Existência parada. Existência acabada.

Nem se pode saber do que outrora existia.

A cegueira no olhar. Toda a noite calada no ouvido.

Presa a voz. Gesto vão. Boca fria.

A alma, um deserto branco: - o luar triste na geada...

Silêncio. Eternidade. Infinito. Segredo.

Onde, as almas irmãs? Onde, Deus? Que degredo!

Ninguém.... O ermo atrás do ermo: - é a paisagem daqui.

Tudo opaco... E sem luz... E sem treva...

O ar absorto...Tudo em paz... Tudo só... Tudo irreal... Tudo morto...

Por que foi que eu morri? Quando foi que eu morri?


Cecília Meireles

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