terça-feira, 1 de março de 2016

Quem escreve melhor? Quem escreve por símbolos!



“Antígona”, escrita por Sófocles provavelmente em 442 A.C, é a maior prova do valor dos símbolos. Trata-se da história de uma mulher contra um rei e um reino. A moça não tem exército, mas tem uma razão, um argumento. A partir disso, torna-se símbolo histórico da luta humana pelos direitos e garantias individuais. Não é por acaso que o livro é um dos mais importantes já escritos, sendo leitura obrigatória nos cursos de graduação em direitos humanos das melhores universidades do mundo.

Filha de Édipo e irmã de Ismênia, Antígona tem dois outros irmãos: Polinices e Etéocles. Eles morrem em combate. Polinices cai lutando para destuir Tebas, onde Creonte tinha se tornado rei e tirano. Etéocles morre defendendo Tebas. A história começa quando Antígona diz a Ismênia que, por determinação de Creonte, Etéocles seria enterrado, mas Polinices teria de apodrecer para servir de comida às aves sem direito sequer a prantos. Indignada, Antígona não aceita a ordem do Rei e enterra o irmão Polinices, mesmo indo contra a  lei que Creonte criara para retaliar Polinices, o soldado que não estava ao lado dele. 
 
Presa pelos soldados do rei, Antígona é levada à presença de Creonte, que indaga: "Sabias que uma lei proibia aquilo?" Antígona responde: "Sabia. Como ignoraria? Era notório." O rei insiste: "Como ousastes desobedecer às leis?" Antígona retruca: "Mas Zeus não foi o arauto delas para mim, nem essas leis são as ditadas entre os homens pela Justiça... e nem me pareceu que tuas determinações tivessem força para impor aos mortais até a obrigação de transgredir normas divinas, não escritas, inevitáveis; não é de hoje, não é de ontem, é desde os tempos mais remotos que elas vigem, sem que ninguém possa dizer quando surgiram..."
 
Creonte condena Antígona a ser enterrada numa gruta, onde não poderá mais ver o sol. Hémon, filho de Creonte e noivo de Antígona, tenta convencer o pai a soltar sua amada. Em vão. Tirésias, oráculo do reino, também aconselha o rei a libertar Antígona e enterrar Polinices, dizendo que pedaços do corpo dele estão espalhados por toda a cidade e a contaminam. Creonte segue irredutível. Tirésias, então, prevê mais sangue. Temeroso, o tirano pede conselho ao coro de anciãos que lhe manda enterrar Polidices e soltar Antígona. Ele tergiversa...Antígona opta pelo suicídio e se enforca. Agarrado ao seu corpo, Hémon também se mata. Eurídice, mulher de Creonte e mãe de Hémon, também se mata e a tragédia acaba com o coro aconselhando os homens a seguir a sabedoria, pois só ela traz a felicidade.

Antígona simboliza a luta de uma pessoa contra o Estado. Esse símbolo é tão forte que o texto é a base fundamental da teoria dos direitos individuais. Ao responder a Creonte ela questiona, de forma veemente, a ideia de que é direito tudo aquilo que é imposto pelo poder constituído. Antígona sustenta que as pessoas têm direitos que lhes são inerentes pelo simples fato de serem humanas. Esse é o principio que fez surgir o horizonte ético dos Direitos Humanos no mundo contemporâneo. Horizonte que inspirou e segue inspirando a maioria dos países..

A verdade é que a humanidade criou um consenso quase que universal em torno dos direitos humanos. Diferentemente das utopias e ideologias políticas, que costumam prever um fim fantástico para o homem desde que ele use quaisquer meios para atingir esse fim, os direitos humanos permitem a luta por uma sociedade melhor por intermédio do respeito aos direitos dos outros, da tolerância e da convivência com a diferença. É isso, os direitos humanos são a régua ética do nosso tempo.

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