terça-feira, 29 de março de 2016

Direita ou esquerda?

 
Tenho amigos de direita, de esquerda, de centro, anarquistas, que desistiram de qualquer adesão política e amigos que nunca se sentiram confortáveis com qualquer proximidade política. Gosto das pessoas pelas suas qualidades e pelos seus méritos. Amizade para mim sempre passou longe da política. Não acredito em "superioridade moral" desta ou daquela ideologia, muito menos em diferença entre esquerda e direita em termos pessoais. Não acho que meus amigos de esquerda tenham mais generosidade, solidariedade, simpatia ou decência que meus outros amigos de centro ou de direita.
A tese da «superioridade moral» da esquerda nunca me convenceu. A propósito: essa tese não se sustenta nem perante Marx, uma vez que os marxistas não reconhecem a existência da moral no formato que ela é definida nos manuais da filosofia tradicional. E quem não cabulou as aulas de graduação sabe que direita e esquerda são ideologias, ou conjuntos de ideologias, que valem como ideias, e como ideias devem ser avaliadas. Não há ligação entre as ideias que uma pessoa tem e as suas virtudes e suas qualidades.
Podemos aceitar que ser de esquerda é positivo, mas ainda assim não podemos garantir que uma pessoa de esquerda não vá afundar o canudinho do todinho de uma criança no parque. E quem disse que alguém de esquerda não vai infernizar o colega de trabalho, não poderá espancar a mulher ou mesmo quebrar o sigilo bancário de alguém ilegalmente? O mesmo se pode dizer de alguém de direita, alguém de centro, ou de alguém que se diz neutro. 
As pessoas são complexas e contraditórias, independentemente de suas convicções políticas. Podem não fazer nada e podem fazer o diabo. São capazes de atos horríveis e são capazes de atos da maior grandeza. E isso não tem nada a ver com opções políticas. Todos temos pais, tios, avós ou bisavós que podem servir de exemplos. Meus avós não eram de direita ou de esquerda. Nem sabiam direito o que era isso, mas eram corretos, generosos, incapazes de maltratar pessoas ou animais. Sabiam amar e respeitar o outro.
A maioria conhece e até viveu história semelhante. Cresci no interior. Meus avós ensinaram a uma fieira de netos as orações, os mandamentos e as belíssimas obrigações de misericórdia espiritual: amar a Deus; amar ao próximo; dar de comer a quem tem fome; dar de beber a quem tem sede; vestir os nus; dar bom conselho; consolar os aflitos; sofrer com paciência; perdoar as injúrias; rogar a Deus pelos vivos e os mortos.
Meus avós, como eu disse, não eram de direita ou de esquerda. Não alegavam superioridade moral alguma, não se julgavam superiores a ninguém, mas tinham valores e clareza moral. Foi um privilégio ter por perto pessoas como eles que ensinaram uma lição essencial de vida: ninguém é capaz de sobreviver sozinho.

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