segunda-feira, 20 de julho de 2015

Qual é o seu segredo?


Acordei no meio da noite - passa das duas da manhã - sentindo uma certa urgência para dizer que  a presunção da inocência é um princípio inatacável, irrevogável e absolutamente correto. Talvez a única coisa certa diante de tanta asneira, tanta poeira, tanta coisa mal dita, tanto exagero e tanta tinta nas letras que andamos lendo. Não devemos, contudo, esquecer as verdades essenciais que justificam a presunção da inocência. Todos temos direito a defesa. E todos erramos. Declarações de absoluta inocência merecem-nos todo o respeito mas valem o que valem. Noves fora zero. Afinal, as pessoas escondem coisas. A propósito, todos podemos esconder coisas. Coisas que nos desarrumam, que nos embaraçam, que nos comprometem, que anulam virtudes, que deixam à mostra os pelos encravados, os dentes implantados. Aliás, nunca pense que se pode conhecer absolutamente uma pessoa. Ninguém pode. Como disse Machado de Assis, "ninguém sabe o que eu sou quando rumino".   

5 comentários:


  1. Perfeito, Vanda.
    Até porque, a própria lei te permite não "produzir provas contra si". Claro!, ela pode simplesmente silenciar. Mas pode, sim, também, mentir.
    (Seu texto fez-me lembrar do "Poema em Linha Reta" de Fernando Pessoa.)
    Concordo com você. "As declarações de absoluta inocência valem o que valem" mas é preciso tirar a "prova dos nove".
    Seu texto me fez olhar para as mesas fora do ringue. O que dizer das pessoas por trás das instituições maiores? Que julgarão, afinal, aquelas outras? Não se achariam, elas mesmas, com direito à mentira? E assim sendo, não seria preciso passar, também, pela prova dos nove? Pois, se olho de forma parcial para os fatos, se tergiverso quase sempre, se, embora representando uma grande instituição, defino a estratégia das minhas ações considerando os ganhos que eu, como pessoa, terei, não estaria também mentindo, talvez de forma mais perversa?
    Como se ater ao formalismo puro e simples da lei, aquele que conhece os meandros das instituições, os interesses, as relações promíscuas, as vaidades que permeiam aqueles corredores e salões, de quase irrespirável ar? Não sabe ele que muitos dos pássaros que vivem nesse habitat, possuem a mesma plumagem daqueles que ora não podem voar?
    Como seria bom se pudéssemos aplicar a regra dos "noves fora zero" não somente para os números, mas para as palavras também!

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  2. Além de bem pensado e bem escrito, seu comentário é muito sofisticado. Coisa de quem sabe refletir, de quem é inteligente e sabe o que fazer com a inteligência. Fiquei pensando como você: quem passaria pela prova dos nove? Os dissimulados, aqueles que mentem de forma mais perversa? Não sei a resposta. É isso, amei ler seu comentário. Muitíssimo obrigada! Vanda

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  3. Obrigado, Vanda.
    Gosto também do que escreves. Textos curtos, mas cheios de significados, certeiros, mas delicados. Como uma flecha que acerta o alvo que ainda não foi visto.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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