sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

O Estrangeiro, Camus

Em O Estrangeiro, Meursault manifesta uma total indiferença em relação àqueles com quem convive e ao mundo que o cerca. Leva uma vida de apatia, em estado de permanente entorpecimento, reagindo apenas, muito espaçadamente, a estímulos imediatos.
 
Liga-se aos outros apenas na medida em que estes lhe agradam ou servem os seus interesses, logo os abandonando quando nessa medida deixam de ser úteis. Para ele, a vida é uma sucessão de episódios sem outro sentido que não seja a de serem o cenário da sua existência sombria.
 

Camus, o autor, foi rigorosamente o oposto. Era solar, sempre comprometido, atento aos outros e capaz da suprema bravura de contrariar até os fatos quando estes questionaram a perspectiva ética que foi a sua forma de humanidade.
 
Todos conhecemos pessoas parecidas com Meursault, pobres de espírito. Talvez menos extremas na sua indiferença, mas igualmente capazes de se desinteressar por tudo aquilo que não tenha a ver com a pulsão egocêntrica que vão gerindo. Ainda que disfarcem essa insensibilidade com algumas palavras de ocasião.
 
O tipo Meursault é o que lamenta, que discorda, que formalmente toma esta ou aquela posição em relação aos males da sociedade e do mundo, mas que emudece logo que tal exija esforço, compromisso e risco. São os omissos.
 

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