quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Cristianismo

O cristianismo é, quer queiramos ou não, a matriz fundamental da nossa cultura. Bem sei que a América do Sul e a Europa seriam outras se não tivessem sido evangelizados. Bem sei que a imposição do cristianismo foi uma revolução cultural autoritária que provocou a morte de milhares de índios aqui e na Europa de milhares de sacerdotes pagãos, queimou-lhes os templos, intimidou os crentes de Júpiter, de Saturno, do Sol Invicto, de Mitra e de Mani, abateu as árvores sagradas dos Saxões, levou à fogueira legiões de adivinhos,"bruxas e bruxos", queimou bibliotecas e provocou um recuo evidente do pensamento filosófico, científico e estético que se edificara desde o primeiro milénio a.C. até ao século III da nossa Era. Sei que a imposição do jugo de Cristo na Europa foi, em grande parte, obra da engenharia da imperatriz Helena, mãe de Constantino, que pela Terra Santa andou a recolher provas e relíquias para legitimar o poder absoluto e jus divinista do novo totalitarismo cesarista. Pesem as malfeitorias da génese, o Cristianismo deu provas de fortaleza e dedicação ao abeirar-se das grandes esperanças e sofrimentos dos fracos, dos doentes e desvalidos, promovendo uma nova antropologia fundada na caridade e na salvação. Intelectualmente, lançou as raízes das ideias de liberdade, igualdade e fraternidade entre todos os membros da espécie humana - que a Revolução usurparia - e deu à Europa a unidade de destinação que lhe permitiu expandir-se e sobreviver. Devemos-lhe muito. O laicismo - que compreendo - não transporta nenhuma fundamentação essencialista, pelo que as sociedades em que se impôs são menos estáveis, mais conflituosas e mais atreitas a cíclicas doenças coletivas da sede do sagrado. O século XX foi marcado pelo totalitarismo, que não teria sido possível numa Europa cristã. A necessidade do sagrado é consubstancial ao humano, pelo que, quando a religião é atacada, rompem-se todos os liames que unem o corpo social. Cresci no catolicismo e carrego um pequeno crucifixo no peito. Prefiro a Bíblia ao Corão. 

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