sábado, 21 de outubro de 2017

Ser conservador é ...

A sucessão presidencial vem aí o que acentuará a má vontade, a desinformação e a  preguiça ideológica com os conservadores — apontados como autoritários, insensíveis, fascistas e até  neonazistas, entre outros equívocos de costume. João Pereira Coutinho, escritor e brilhante jornalista português, é autor da melhor definição/conceito sobre a palavra:
"Conservadorismo é, antes de tudo, uma «disposição» filosófica, para usar o termo feliz de Michael Oakeshott - o maior filósofo conservador do século XX e um dos maiores pensadores de toda a história das ideias políticas. É isso que o distingue do liberalismo, ou do socialismo, mais facilmente sistematizados num cardápio político e prático."
Um conservador é alguém que possui uma disposição conservadora baseada na fruição e na resistência à mudança. A fruição nasce diretamente do conceito temporal essencial para um conservador: não o passado (como para um reacionário), não o futuro (como para um revolucionário) - mas O PRESENTE.
O conservador estima o presente porque ele tende a desfrutar aquilo que existe e não necessariamente aquilo que ele desejaria que existisse. O conservador lida com a realidade, não com o desejo. Prefere o familiar ao desconhecido; o tentado ao nunca tentado; o fato ao mistério; o atual ao possível; o limitado ao ilimitado; o próximo ao distante; o conveniente ao perfeito; a gargalhada presente à promessa utópica.
Para um conservador, é preferível manter do que adquirir, cultivar do que alargar. Isto está diretamente ligado com o problema da mudança. Não que o conservador seja contrário à mudança. Como diria Burke, uma sociedade que não sabe mudar não se sabe conservar. Mas, ao contrário de um revolucionário - de esquerda ou de direita -, um conservador sabe que em cada mudança existe uma perda. Por vezes, uma perda brutal e irreparável. Tanto que só abraça entusiasticamente a mudança quem, no essencial, nada tem para preservar.
O conservador define-se pelo ceticismo racional. E pela prudência. Naturalmente que algumas mudanças são inevitáveis para a continuidade da aventura humana, mas o conservador prefere alterações graduais, lentas, cautelosas, capazes de respeitar os arranjos sociais que resistiram ao teste do tempo.  
Em termos estritamente políticos, esta «disposição» não tem nada que ver com a lei natural ou com uma ordem providencial; nada que ver com a moral ou a religião.
Politicamente, interessa a um conservador ter bem presente que o exercício do governo é uma atividade específica e limitada: ele sabe que é necessário prover a sociedade com regras gerais de conduta e não, nunca, jamais, com comandos diretos ou imposições abusivas.
As regras gerais de conduta são um instrumento para que as pessoas possam seguir os seus próprios caminhos com a mínima frustração possível.
Um governo conservador não impõe soluções: ele resolve conflitos. Não começa com a visão de um mundo melhor, um Outro mundo. Começa com este mundo e sabe que é aqui que vivemos, é aqui que temos de acreditar e, quando a altura chegar, agir também. Um governo conservador não está preocupado com pessoas concretas, com classes, com atividades.
Não é um governo «moralista», no sentido de que exige dos homens determinados comportamentos tidos por «corretos» - sancionando os «desviantes». A principal preocupação de um governo conservador é a manutenção da paz e da segurança. Porque é da paz e da segurança que nasce a liberdade, ou seja, a pretensão legítima dos seres humanos conduzirem as suas próprias vidas.
Sou filha de conservadores.  Aprendi desde pequena, no exercício diário da tolerância, que não há perfeição humana. Não há mundos com prados verdejantes e nem tudo se pode resolver com slogans de cartilhas. Existe o vício, existe o caos, existem limites às ideias, existe a falibilidade humana, existe a experiência, existem dúvidas cruciais que recomendam prudência e não ousadia; e existem ameaças, perpétuas ameaças, ao que construímos.
O mundo que pisamos é sempre um mundo frágil, é sempre um mundo que precisa de defesa. Um conservador acredita nisto: na dúvida, mantém; na dúvida, fica; na dúvida, conserva. Mas a dúvida não o impede de prosseguir, a dúvida não o impede de mudar, quando é essa a melhor alternativa, quando o que não temos seja literalmente melhor do que o que temos.
Mas um conservador saber que devemos ser nós a assumir essa mudança, que somos nós que escrevemos o nosso destino, somos nós os responsáveis. Não o partido, não a multidão que vemos nas ruas, não o Estado que faz sempre menos do que pode.

O que separa, politicamente, um conservador e um liberal? Sabendo que o conservadorismo acaba na defesa da liberdade e autonomia individuais e o liberalismo na preservação de uma ordem política imune ao poder do Estado, haverá diferenças entre liberais e conservadores?

Os conservadores defendem as liberdades (políticas, econômicas, nomeadamente). Mas temperam ou sobrepõem a essa defesa uma visão essencialmente cética e pessimista da natureza humana. Nós queremos segurança, queremos paz, queremos proteger direitos básicos, queremos continuar vivos.

PS: Não caia no conto de candidatos antidemocráticos que se dizem conservadores ou liberais. Um conservador, obrigatoriamente, é adepto da Democracia. Ponto.


 

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