sábado, 13 de agosto de 2016

Você sabe o que Fidel disse a Sartre?


“Todos os homens têm direito a tudo que pedem”, disse Fidel a Sartre.

—“E se eles pedem a Lua?” — quis saber Sartre.

—“Se eles pedem a Lua” — respondeu Fidel — “é porque dela necessitam”.

Sartre confessou, mais tarde, que Fidel era um político único, uma espécie de ilha. Como Cuba. Vi Fidel uma vez na vida, no dia da posse de Fernando Collor. Estava na equipe do Jornal do Brasil e atravessava a pé a distância que separa o Congresso das 24 colunas que sustentam o Palácio do Planalto. Era uma manhã excepcionalmente clara.

De repente, veio na minha direção um leviatã de fotógrafos. Saí rapidamente da frente. Se perder a imagem, o fotógrafo não conseguirá recuperá-la. Só quando se abriu uma clareira no leviatã, vi o motivo do tumulto: Fidel Castro estava bem do meu lado, a menos de dois metros de distância. Apertei bem os olhos, como fazem os míopes, para ver Fidel de perto.

Seu porte é compatível com sua grandeza histórica. Parece um gigante. Reconheço isso, mesmo discordando dele. Aliás, apesar da pressão da minha geração na universidade, nunca fui fanática por Fidel. E, no entanto...No entanto, sempre consegui entender as razões que levavam jovens do mundo inteiro a admirá-lo. Ele simbolizou o "David" que enfrentou e venceu "Golias".

Não há metáfora mais forte que essa no contexto de países pobres, submetidos a uma vida política fodida e quase sem líderes para respeitar. Não ignoro (e também considero imperdoável) que o embargo dos Estados Unidos tenha lançado Cuba no abismo econômico durante tantos e tantos anos. Acredito, contudo, que o maior de todos os problemas do país sempre foi político.

Fidel ficou tempo demais no poder, sem aceitar a rotatividade, e sem permitir contestação. Não há futuro político sem liberdade, sem respeito à Oposição, sem eleição e sem liberdade de imprensa. Sem isso, vale dizer o pacote da democracia, a história de Cuba desandou e todo o mundo lá passou a viver em condições difíceis de suportar. E o país tornou-se uma ditadura cruel, triste e anacrônica.

Ninguém fica indiferente à beleza natural de Cuba. A linha de horizonte em Havana é tão ampla, que não consigo compreender porque Fidel abriu mão do ideal da liberdade. Ainda bem que agora, com a virada na política internacional de Obama e o fim do embargo, os cubanos voltam a ter o sentido da utopia e da esperança. Aos 90 anos, Fidel acompanha tudo. Ele  jamais deixará de ser o guerreiro do seu povo, aquele que buscou o impossível para mudar a vida do seu país e a história do seu tempo. 

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