quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Se a conoa não virar, olê, olê, olá...


As Olimpíadas conquistaram o Brasil e os brasileiros. Não é para menos. Nas notícias, saíram Dilma, Eduardo Cunha e a galera da política e no lugar entraram as meninas do vôlei e os meninos e meninas da ginástica olímpica. O resultado é todo o mundo feliz e maravilhado com as conquistas dos atletas e as medalhas.
Estou feliz, mas bem quieta no meu canto. No mundo do esporte, quem me conhece sabe que sou um notável fracasso. Desde pequena, sofro de miopia em grau elevado (no olho direito é pior do que no esquerdo) e tenho medo inexplicável de altura. Estou assistindo tudo pela televisão.Com a evolução dos aparelhos de tevê e as imagens cada vez mais nítidas, confesso que tenho receio de me distrair e acabar levando uma bolada nas costas ou mesmo no rosto, o que derrubaria meus óculos e tudo que resta da minha segurança.

Sem óculos, o míope vaga nas sombras. Na adolescência, ouvi o oftalmologista dizer à minha mãe que minhas retinas poderiam esgarçar o que comprometeria minha visão para sempre. Enquanto minhas amigas tinham medo de desconhecidos, estupros e outras violências, eu sofria com o tal esgarçamento. Nenhuma criança merece crescer com um pavor desses. Eu devia ir à ONU fazer queixa tardia daquele oculista. O infeliz era medalha de ouro em bulling infantil, modalidade meio fora de moda, mas que detém recordes históricos inacreditáveis. Mantive as retinas longe das bolas e boladas.

Jamais me arrisquei no vôlei, na natação ou na corrida. Como sou baixinha, podia ter tentado a ginástica, mas no meu tempo isso era coisa da Romênia. Hoje, pela tevê, vejo tudo o que passa, mas meu esporte favorito é a canoagem. A canoagem demonstra que remar para o mesmo lado de forma consistente, simultânea e ritmada é condição de triunfo. Um exemplo para todos, sobretudo educadores, líderes políticos e aqueles que estão no comando. Além disso, a imagem do atleta enfrentando as ondas e remando sem parar é a metáfora da vida de todos nós.

Caímos no meio do caos, temos de escolher um lado e avançar, no meio da incerteza. Sem temer as ondas, a turbulência e os imprevistos. Na infância e na adolescência remei contra a corrente. É difícil enfrentar vento ao contrário? Muito difícil, mas o gosto que dá é incomparável. Sei por tê-lo sentido muitas vezes na boca. Agora, não tenho mais coragem de "remar" quase nunca. Muito menos contra a correnteza. Envelheci. Meu tempo hoje é o da acomodação. Então, o que me resta é seguir na geleia geral em busca da insignificante glória de vencer um dia depois do outro. Pena que desse jeito eu não mereça medalha...




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