quarta-feira, 22 de abril de 2015

Os livros são tudo



Estava certo o poeta Jorge Luis Borges ao imaginar o Paraíso como uma espécie de biblioteca. Os livros são tudo. Só os livros alcançam a eternidade. Nas sociedades, tudo passa, – até mesmo as coisas que pensamos ser importantes. Quem mandava no tempo de Gustave Flaubert? Não importa, importa saber que Madame Bovary, com seu tédio e sua cadelinha, sobreviveu e segue conosco.
 
E quem foram as celebridades e os magnatas do tempo de Shakespeare? Ninguém sabe. Só Shakespeare está vivo até hoje. Julieta é eterna e sempre será assim. No Brasil, temos Capitu, com seus "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" ou "olhos de ressaca". A seu lado, o inseguro Bentinho. Será que ele amava Escobar? Sempre penso nessa possibilidade. Afinal, são insondáveis os mistérios da alma humana.
 
Dizem que Machado de Assis, mulato e filho de pobres, desejava ser incluído na alta sociedade do Rio de Janeiro. Hoje, ninguém sabe o nome de um só banqueiro ou de um grande comerciante daquele tempo. Só Machado está entre nós com Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba. Também seguem conosco Guimarães Rosa, Lima Barreto, Autran Dourado, Graciliano Ramos, Érico Verissimo e tantos outros autores de livros notáveis.
 
Quem, neste século, e no século passado, não deve alguma coisa ao romance russo Os Irmãos Karamazov? Paulo Francis dizia que Dostoievski inaugurou a psicanálise antes de Freud, não como método terapêutico, mas como investigação da psique. Ele seria o equivalente russo de Shakespeare, "reinventando" o humano. Cabe tudo nos seus livros: o real e o transcendente.
 
Não há quem não fique maravilhado com Os Miseráveis, de Victor Hugo. Também são pontos máximos da literatura obras como Cem Anos de Solidão, O Apanhador no Campo de Centeio e A Sangue Frio. E Dom Quixote, um dos livros mais extraordinários de todos os tempos? Como esquecer um herói que navega entre a perplexidade e a desorientação em sua infinita aventura?
 
Meu livro favorito, Antígona, de Sófocles (496–406 a.C.), descreve uma das guerreiras mais destemidas de todos os tempos. Ousada e indomável, ela foi em frente e lutou sozinha contra um Rei e seu reinado. Perdeu a vida, derrubou tudo à sua volta mas deixou um grande legado: nenhum poder é absoluto. Borges, outro autor maravilhoso, tem razão: se há paraíso ele é, seguramente, uma espécie de biblioteca. Os livros são tudo. O resto é nada...

Texto escrito a propósito do 23 de abril, Dia Mundial do Livro.

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