terça-feira, 21 de outubro de 2014

Querida Miriam Leitão



Querida Miriam Leitão!

Por que lhe escrever uma carta? Para lhe dizer que graças a pessoas corajosas como você, que lutam por democracia e liberdade, ninguém ainda se tornou dono do Brasil. Você faz da análise e da divulgação dos fatos a sua ação política. Uma ação realizada com grandeza, sentido público e sem ressentimentos. O trabalho é político porque se dirige ao público e onde há um coletivo há política.
Sua forma de ação, no entanto, vai muito além de qualquer militância partidária. Como disse Fernando Pessoa, “só há uma coisa que faz sentir ao governante que não pode abusar: é a presença sensível, quase corpórea, de uma opinião pública direta, imediata, espontânea (...), que todos os povos sãos possuem”.

Além de errada e ridícula, a ilusão de dominar um país é autoritária, antes de se tornar progressivamente criminosa. O discurso de um político, seja de que partido for, não pode ameaçar, intimidar ou sufocar as antenas sociais e humanas de um país. E você sempre será uma das nossas antenas mais sensíveis e mais brilhantes.

Por meio do jornalismo, você luta diariamente contra a falta de informação e de discernimento. Faz isso com firmeza. Nunca lhe interessou a fuga, interessa-lhe o confronto, o embate e a clareza, ainda que no escuro mais ameaçador.
Um político no poder pode achar que pode muito, mas não pode achar que o trabalho dele não é ouvir o que um cidadão, ou uma cidadã, tem a lhe dizer. É para ouvir o que as pessoas têm a dizer que os políticos são eleitos. 
Nossa história está em um momento penoso de dramatização populista, de insinuação. Por detrás disso está o medo. O medo da própria democracia e do jogo claro que ela devia impor e tornar necessário. O medo é sempre perigoso e reacionário.

Costumo dizer aos seus filhos queridos, e tão amados, os jornalistas Vladimir e Matheus, que pessoas como você vieram de outro planeta para nos mostrar que é possível viver com força, disposição e coragem.  Dá gosto dizer seu nome na frente deles e verificar, quase no mesmo instante, o brilho que surge nos olhos dos seus meninos.
Um grande e afetuoso abraço,

Vanda Célia

 

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