sábado, 19 de abril de 2014

"A única coisa que ficou foi uma rua com seu nome"...



«O Coronel Aureliano Buendía promoveu trinta e duas revoluções armadas e perdeu todas. Teve dezessete filhos varões de dezessete mulheres diferentes, que foram exterminados, um após outro, numa única noite antes de o mais velho fazer trinta e cinco anos. Escapou de quatorze atentados, a setenta e três emboscadas e a um pelotão de fuzilamento. Sobreviveu a uma dose de estricnina no café que teria chegado para matar um cavalo. Recusou a Ordem do Mérito que lhe foi conferida pelo Presidente da República. Chegou a ser comandante geral das forças revolucionárias, com jurisdição e poder de uma fronteira à outra, e o homem mais temido pelo governo, mas nunca permitiu que lhe tirassem uma fotografia. Declinou a pensão vitalícia que lhe propuseram e viveu até a velhice dos peixinhos de ouro que fabricava na sua oficina em Macondo. Ainda que tenha sempre lutado à frente dos seus homens, a única ferida que recebeu foi a que fez a si mesmo depois de assinar a capitulação da Neerlândia que pôs fim a quase vinte anos de guerras civis. Disparou um tiro de pistola no peito e a bala saiu-lhe pelas costas sem atingir nenhum centro vital. A única coisa que ficou de tudo isso foi uma rua com o seu nome em Macondo. No entanto, segundo declarou poucos anos antes de morrer de velho, nem sequer isso esperava na madrugada em que partiu com os seus vinte e um homens para se ir reunir às forças do general Victorio Medina. - Aqui te deixamos Macondo - foi tudo quanto disse a Arcadio antes de partir. - Deixamos-ta bem. Faz com que a encontremos melhor.»

G.G. Márquez, Cem Anos de Solidão

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