Vi Fidel Castro uma vez na vida. Foi no dia da posse de Fernando Collor. Eu era repórter do Jornal do Brasil e, depois do juramento à Constituição na Câmara, decidi atravessar a pé a curta distância que separa o Congresso das 24 colunas que sustentam o Palácio do Planalto. Muitos convidados seguiam a trilha, tanto que formou-se ali um cortejo bonito e agradável que se movia ao som do tafetá das saias de festa. Lembro que aquela manhã estava excepcionalmente clara.
De repente, veio na minha direção um leviatã de fotógrafos. Sempre soube o que fazer nesses momentos: sair da frente. Se perder a imagem, o fotógrafo não conseguirá recuperá-la. Só quando se abriu a clareira no leviatã, vi o motivo do tumulto: Fidel Castro estava bem do meu lado, a menos de dois metros de distância. Deus, como ele é alto, pensei, antes de apertar bem os olhos, como fazem os míopes, para ver Fidel de perto.
Confesso que a única coisa que me ocorreu foi a certeza que seu porte físico era compatível com sua estatura histórica. Sim, mesmo que a gente não concorde com suas idéias, não se pode negar que ele incluiu seu país minúsculo na história política das nações do nosso tempo, e que tem uma história de luta e de coragem. Digo isso sem problemas porque talvez eu tenha sido uma das pouquissímas jovens da minha geração da universidade que não era fanática por Fidel. E, no entanto...
No entanto, sempre consegui entender as razões que levavam jovens do mundo inteiro a admirar o líder marxista de Cuba. Fidel Castro simbolizou para gerações o "David" que enfrentou e venceu "Golias". Não há metáfora mais forte que essa no contexto de países pobres, submetidos a uma vida política fodida, e quase sem líderes para admirar e respeitar.
Fidel nasceu na maior e mais bela ilha do Caribe. Ninguém fica indiferente à beleza natural de Cuba. A linha de horizonte em Havana é tão ampla, que não consigo compreender porque ele abriu mão do ideal da liberdade. Também não sei com exatidão quando a história de Cuba desandou e todo o mundo lá passou a viver em condições difíceis de suportar. Sei que o embargo jogou Cuba no abismo econômico, mas sei também que o maior problema do país é político.
A verdade é que Fidel (que na foto acima aparece bebendo coca-cola) ficou tempo demais no poder, sem aceitar a rotatividade, e sem permitir contestação. Hoje, Cuba não passa de uma ditadura cruel e anacrônica. Lamentavelmente, a desolação e a falta de perspectiva predominam entre os cubanos, o que mostra que ninguém consegue viver sem o sentido da utopia e da esperança.
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