Vivi 25 anos para essa profissão, o jornalismo. Ainda que, por razões obrigatórias e pessoais, eu tenha sido obrigada a dizer adeus a este trabalho que tanto amava, em muitos aspectos continuo presa ao passado. Sei que o jornalismo é menos importante do que a música, arquitetura, pintura e outras artes, mas fiz essa opção por ter poucas habilidades, e por julgar que, como jornalista. eu poderia servir às pessoas. Julgava que tentar lhes dar toda a informação possível era serviço relevante que poderia, inclusive, mudar suas atitudes e até suas vidas.
Eu desejava, de forma sincera e verdadeira, apoiar as pessoas no sentido de alguma mudança na direção de uma vida melhor e mais consciente. Ao longo dos anos que estive no jornalismo fiz meu trabalho com rigor, de forma exigente e sem concessões. Era minha obrigação. E meu maior orgulho foi ter mantido a fé adolescente na suposta capacidade de mover para melhor o mundo das pessoas. Essa fé não me deixou. Todos precisamos de paixão, compromisso e de algumas ilusões. No meu caso com o jornalismo admito que eram muitas ilusões.
Grande parte dos jornalistas, pelo menos nos primeiros anos de carreira, vive da paixão pelo que faz. Sei disso porque existe uma família nessa profissão e faço parte dela. Família no sentido que definiu Proust: magnífica, o sal da terra, mas, ao mesmo tempo, o grupo mais lamentável da nossa existência por nos manter sob tensão, e sob medo permanente de errar por vaidade e arrogância. Sou muita grata ao jornalismo pelos amigos que tenho. Amigos que me ensinaram tudo. A começar por uma lição essencial: a entrevista mais importante que um jornalista pode fazer é com ele mesmo.
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