segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Quem escreve melhor? Quem escreve por símbolos...

Quem escreve melhor? Escreve melhor quem escreve por símbolos. Sempre penso nisso quando releio “Antígona”, meu livro favorito, disponível no e-book no seguinte endereço: http://bit.ly/yPrTjO. Escrita por Sófocles, provavelmente no ano de 442 A.C, essa tragédia conta que Antígona, filha de Édipo, e irmã de Ismênia, tem dois outros irmãos: Polinices e Etéocles. Os dois morrem em combate. Polinices cai lutando para destuir Tebas, onde Creonte tinha se tornado rei e tirano. Etéocles morre defendendo Tebas.

A história começa quando Antígona diz a Ismênia que, por determinação de Creonte, Etéocles seria enterrado, mas Polinices teria de apodrecer para servir de comida às aves sem direito sequer a prantos. Revoltada, Antígona enterra o irmão Polinices, mesmo indo contra a lei de Creonte. Presa pelos soldados do rei, é levada a sua presença, que indaga: "Sabias que um édito proibia aquilo?" Antígona responde: "Sabia. Como ignoraria? Era notório."

O rei insiste: "Como ousastes desobedecer às leis?", ao que Antígona retruca: "Mas Zeus não foi o arauto delas para mim, nem essas leis são as ditadas entre os homens pela Justiça... e nem me pareceu que tuas determinações tivessem força para impor aos mortais até a obrigação de transgredir normas divinas, não escritas, inevitáveis; não é de hoje, não é de ontem, é desde os tempos mais remotos que elas vigem, sem que ninguém possa dizer quando surgiram..."

Creonte condena Antígona a ser enterrada numa gruta, onde não poderá mais ver o sol. Hémon, filho de Creonte e noivo de Antígona, tenta convencer o pai a soltar sua amada. Em vão. Tirésias, oráculo do reino, também aconselha o rei a libertar Antígona e enterrar Polinices, dizendo que pedaços do corpo dele estão espalhados por toda a cidade e a contaminam. Creonte segue irredutível. Tirésias, entãom, prevê mais sangue.

Temeroso, o tirano pede conselho ao coro de anciãos que lhe manda enterrar Polidices e soltar Antígona. A decisão vem tarde. Antígona optou pelo suicídio e se enforcou. Agarrado ao seu corpo, Hémon também se mata. Eurídice, mulher de Creonte e mãe de Hémon, também se mata e a tragédia acaba com o coro aconselhando os homens a seguir a sabedoria, pois só ela traz a felicidade.

Antigona simboliza a luta de uma pessoa contra o Estado. Esse símbolo é tão forte que o texto é a base fundamental da teoria dos direitos individuais. Ao responder a Creonte ela questiona, de forma veemente, a idéia de que é direito tudo aquilo que é imposto pelo poder constituído. Antígona sustenta que as pessoas têm direitos que lhe são inerentes pelo simples fato de serem humanas. Esse é o principio que fez surgir o horizonte ético dos Direitos Humanos no mundo contemporâneo. Horizonte que inspirou a maioria dos países.

A Constituição brasileira de 1988, por exemplo, foi generosa e criativa ao elaborar o marco de defesa dos direitos individuais. A verdade é que a humanidade criou um consenso quase que universal em torno dos direitos humanos. Ainda bem...Diferentemente das utopias e ideologias políticas, que costumam prever um fim fantástico para o homem desde que ele use quaisquer meios para atingir esse fim, os direitos humanos permitem a luta por uma sociedade melhor por intermédio do respeito ao direito dos outros, da tolerância e da convivência com a diferença. É isso, os direitos humanos são a régua ética do nosso tempo.

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