quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Parabéns São Paulo!

São Paulo é uma cidade de verdade. Disfarces ali são o que são porque as pessoas teimam em existir na forma natural e se tornam maiores que tudo na vida. O sol eventual não chega para aquecer a alma, mesmo quando a gente busca as ruas, os jardins, os centros comerciais e os restaurantes.

Durante seis meses de 2010, morei em São Paulo. Foram dias intensos e angustiantes. Tentava ler e escrever, mas quando estou longe de casa arrependimentos e perdas pesam na memória e me deixam paralisada.

Fugir à angústia em São Paulo só com uma "angústia maior do que a vida", como a que se encontra na sutileza e no desencanto das poesias de Drummond.

Mundo, mundo, vasto mundo, tu não serias mais vasto se eu fosse parte do pasto? Não, nada de brincadeiras macabras. Melhor ler o belíssimo texto do poeta brasileiro que tem, na minha opinião, alma de paulista:

Poema de Sete Faces
"Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo".
Carlos Drummond de Andrade

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