Por
favor, não me venham com essa história de Constituinte. Se perguntam a qualquer
brasileiro letrado como devemos salvar a Pátria, ele não hesita em dar uma
solução que, na maioria das vezes, passa pela criação de uma qualquer lei, mais
perfeita e racional do que as leis em vigor.
Nós,
visivelmente, gostamos de leis. Chega a ser comovente a pureza de algumas
pessoas em relação ao assunto. Parece que acreditam realmente que uma nova
Constituição encantada, um conjunto de leis cheio de elevadas intenções, vai
extinguir nossas mazelas...
Lamento
dizer que isso não vai acontecer. E lembrar que se sair algum consenso por aí,
essa nova constituinte será negociada pelos atuais partidos políticos. Partidos
que há mais de dez anos passam por uma gravíssima crise moral e de confiança.
Talvez
fosse mais adequado um “mea culpa”, aliado a um esforço hercúleo das
instituições, para tentar reaver algumas réstias de confiança das pessoas.
Confiança em todas as instituições de poder – e não apenas poder
político.
Sem
uma reconciliação das instituições de poder com a sociedade não há saída. E
isso tem de ser tentado imediatamente porque a confiança das pessoas, que nunca
foi grandes coisas, piorou demais nos últimos dois anos pelas razões
que todos conhecemos.
A
verdade é que nunca foi tão ostensiva a ideia de que não podemos
confiar nos gestores, nos empresários, nos funcionários das estatais,
nos políticos, nos trabalhadores; nos jornais, nas televisões, na
política; no fisco, nas escolas, nas prisões...
E
por que não podemos confiar? Porque nenhum destes poderes, instituições ou
pessoas funciona como deveria funcionar. A verdade é que nenhum deles (ou a
esmagadora maioria) age sem uma qualquer obscura motivação ou interesse.
Por
isso, não vejo sentido em pensar numa nova Constituição. As reformas que o
sistema exige não dependem de alterações na Carta. Nossa Constituição não é um
mal, é um bem. Um dos poucos que temos.
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