Requiem
Há mortos que demoram a morrer
é inútil sepultá-los, eles voltam.
Demoram-se por vezes numa sombra
num braço de cadeira ou
no rebordo partido de uma chávena.
Ou então escondem-se
em pequenas caixas sobre as mesas.
Há objetos que ficam cheios deles,
são como o rosto transmudado dos ausentes,
sua marca na casa e no efémero.
Por isso custa tanto retirar o prato e o talher,
arrumar os fatos, desfazer a cama.
Há mortosque nunca mais se vão embora.
Há mortos que não param de doer.
Manuel Alegre
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