Estudei na Universidade Federal de Juiz de Fora e os formandos do curso de Jornalismo de 1979 convidaram Millôr Fernandes para ser paraninfo. Felizmente, ele aceitou a homenagem. Três décadas depois, ainda me lembro de trechos inteiros do discurso que, naquela noite inesquecível, Millôr fez no auditório da Escola de Música. “Como moribundo gentil, vendo que o hospital precisava do seu leito, serei breve”, disse, ao começar a falar. Todo o mundo caiu na gargalhada.
“Desejo a todos muita sorte e uma bela carreira nessa profissão sempre árdua e, agora, como em tantas vezes na história, até heróica. Com um grande abraço a todos, gostaria apenas que meus jovens colegas soubessem que, sejam quais forem as nossas dificuldades, a profissão de jornalista compensa, senão por outro, pelo simples fato de que a imprensa é uma dessas raras atividades em que o homem se sente vivo o tempo todo”.
Depois de outras afirmações igualmente inspiradoras, Millôr cunhou mais uma das suas grandes frases: “Jornal se faz na Oposição, o resto é armazém de secos e molhados”. Ao final, anunciou que nos daria um conselho e disse mais ou menos o seguinte: nenhum de vocês deve esquecer que toda e qualquer censura sempre será feroz e abominável, mas inócua. Tanto que nenhum censor, em tempo algum, conseguiu impedir que os meninos viessem ao mundo com o pirulito de fora...
Hoje, ao saber da morte de Millôr não pude deixar de ficar emocionada e de lembrar da genialidade e da generosidade do mais espetacular paraninfo da história da escola de jornalismo de Juiz de Fora. Ele iluminava o caminho dos que tinham a sorte de vê-lo pessoalmente, ainda que uma só vez na vida. Como escreveu lindamente Fernando Pessoa: “...a vida é pequena e rápida, mas vale o instante". Como aquele.
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