quinta-feira, 29 de março de 2012

Nossa noção de tempo...


Tenho tanto medo da morte que a idéia do tempo passando me dá um certo pânico. Então, comecei a ler sobre o tempo e nossa forma de perceber sua passagem. Descobri algumas coisas que repasso a vocês:

1)Nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento dos objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr do sol. O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos. Se alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma mobília, sem portas ou janelas, sem relógio… você começará a perder a noção do tempo.

2) Nosso cérebro é extremamente otimizado. Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho. Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia. Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar conscientemente tal quantidade. Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do dia.

3) Só quando você vive uma experiência pela primeira vez, seu cérebro dedica recursos para compreender o que está acontecendo. É quando você se sente mais vivo. Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e “apagando” as experiências duplicadas.

4) Se você entendeu os pontos anteriores vai compreender porque parece que o tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada vez mais rapidamente. Pense quando você começa a dirigir um automóvel e tudo parece muito complicado, nossa atenção parece ser requisitada ao máximo. Então, um dia dirigimos trocando de marcha, olhando os semáforos, lendo os sinais ou até falando ao celular ao mesmo tempo.

5) Como passamos a dirigir de forma automática? Como isso acontece? Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas (você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na mente) O cérebro já sabe qual marcha trocar (ele simplesmente pega suas experiências passadas e usa, no lugar de repetir realmente a experiência).

6) Isso significa que você não vivencia muitas das experiências que vive, pelo menos para a mente. Aqueles críticos segundos de troca de marcha, leitura de placa…são apagados de sua noção de passagem do tempo. Quando você começa a repetir algo exatamente igual, a mente apaga a experiência repetida.

7) Conforme envelhecemos, as coisas começam a se repetir, as mesmas ruas, pessoas, problemas, desafios, programas de televisão, reclamações…enfim… as experiências novas (aquelas que fazem a mente parar e pensar de verdade, fazendo com que seu dia pareça ter sido longo e cheio de novidades), vão diminuindo. Até que tanta coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos de novidade na semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década.

8) Em outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera, que os anos voam é a… rotina. A rotina é essencial para a vida e otimiza muita coisa, mas a maioria das pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo um livro de um só capítulo, repetido todos os anos.

9) O antídoto para a passagem automática do tempo é mudar, fazer algo diferente. Mudar de paisagem, tirar férias com a família...mandar cartões postais. Comemore aniversários e estabeleça rituais para criar momentos especiais. Quebre a rotina, visite parentes distantes, entre na universidade com 60 anos, troque a cor do cabelo, deixe a barba, tire a barba, compre enfeites diferentes no Natal, vá a shows, cozinhe uma receita nova, tirada de um livro novo. Tenha mais paixão e viva momentos diferentes.

10) Cerque-se de amigos. Amigos com gostos diferentes, vindos de lugares diferentes, com religiões diferentes e que gostam de comidas diferentes. É vivendo experiências diferentes que o tempo vai parecer mais longo. E, seguramente, muito mais divertido.

Texto: Airton Luiz Mendonça do jornal O Estado de São Paulo)

Nenhum comentário:

Postar um comentário