Não sei que tempo faz, nem se é noite ou se é dia.
Não sinto onde é que estou, nem se estou.
Não sei de nada.Nem de ódio, nem amor.
Tédio? Melancolia.Existência parada. Existência acabada.
Nem se pode saber do que outrora existia.
A cegueira no olhar. Toda a noite calada no ouvido.
Presa a voz. Gesto vão. Boca fria.
A alma, um deserto branco: - o luar triste na geada...
Silêncio. Eternidade. Infinito. Segredo.
Onde, as almas irmãs? Onde, Deus? Que degredo!
Ninguém.... O ermo atrás do ermo: - é a paisagem daqui.
Tudo opaco... E sem luz... E sem treva...
O ar absorto...Tudo em paz... Tudo só... Tudo irreal... Tudo morto...
Por que foi que eu morri? Quando foi que eu morri?
Cecília Meireles
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