quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Elis Regina, para sempre


Eu resolvi ser jornalista porque acreditava que seria melhor para mim do que ser professora, advogada, ou dona de um restaurante. Tinha vocação para qualquer um desses nobres ofícios. Fiquei com o jornalismo e não me arrependi. Pensei nisso hoje, ao lembrar a morte de Elis Regina.
O Brasil deve muito a Elis mas não foi para que o Brasil lhe devesse alguma coisa que ela se tonou a maior cantora do país. Ela buscou sua vocação e, felizmente, fez (e faz) a felicidade de todos que podem ouvir sua linda voz de mezzo-soprano com um fundo levemente metálico e vagamente rouco.

Tenho me despedido de Elis há mais de três décadas ouvindo seus discos e lembrando sua figura miúda e explosiva no palco, exatamente como a vi uma vez em Brasília. Quatro anos antes, numa tarde chuvosa em que fui pela primeira vez a São Paulo, foi sua voz que me consolou da ausência de sol e da impossibilidade de qualquer passeio.

Sempre fui apaixonada por Elis. Gostava tanto das suas qualidades como dos seus defeitos. Sinto enorme gratidão pelas alegrias que tenho ao ouvir seu lindo canto e reconheço a absoluta importância desta cantora que foi maior do que o seu país.

Só lamento não poder lembrar Elis como uma mulher feliz e não apenas como cantora de sucesso. Sim, gostaria muitíssimo de pensar nela brincando com suas crianças, acordando de uma soneca, lendo um livro, vendo um filme ou rindo de alguma anedota. Não é o que acontece.

Só lembro de uma Elis sofrida, inquieta, tensa e preocupada com o futuro. Alguém que se sacrificou pela própria carreira e pela carreira dos jovens compositores que lançava. Uma cantora que insistia em ser cidadã marcada pelo inconformismo, que estava sempre angustiada com o Brasil. Vale dizer, uma pessoa, como tantos de nós, que não conseguia ser feliz como podia.

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