Eu resolvi ser jornalista porque
acreditava que seria melhor para mim do que ser professora, advogada, ou dona
de um restaurante. Tinha vocação para qualquer um desses nobres ofícios. Fiquei
com o jornalismo e não me arrependi. Pensei nisso hoje, ao lembrar a morte
de Elis Regina.
O Brasil deve muito a Elis mas
não foi para que o Brasil lhe devesse alguma coisa que ela se tonou a maior
cantora do país. Ela buscou sua vocação e, felizmente, fez (e faz) a felicidade de
todos que podem ouvir sua linda voz de mezzo-soprano
com um fundo levemente metálico e vagamente rouco.
Tenho me despedido de Elis há
mais de três décadas ouvindo seus discos e lembrando sua figura miúda e explosiva
no palco, exatamente como a vi uma vez em Brasília. Quatro anos antes, numa
tarde chuvosa em que fui pela primeira vez a São Paulo, foi sua voz que
me consolou da ausência de sol e da impossibilidade de qualquer passeio.
Sempre fui apaixonada por Elis. Gostava
tanto das suas qualidades como dos seus defeitos. Sinto enorme gratidão pelas
alegrias que tenho ao ouvir seu lindo canto e reconheço a absoluta importância
desta cantora que foi maior do que o seu país.
Só lamento não poder lembrar Elis
como uma mulher feliz e não apenas como cantora de sucesso. Sim, gostaria
muitíssimo de pensar nela brincando com suas crianças, acordando de uma soneca,
lendo um livro, vendo um filme ou rindo de alguma anedota. Não é o que acontece.
Só lembro de uma Elis sofrida, inquieta,
tensa e preocupada com o futuro. Alguém que se sacrificou pela própria carreira
e pela carreira dos jovens compositores que lançava. Uma cantora que insistia
em ser cidadã marcada pelo inconformismo, que estava sempre angustiada com
o Brasil. Vale dizer, uma pessoa, como tantos de nós, que não conseguia ser feliz
como podia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário