sexta-feira, 13 de maio de 2016

BELEZA E CULTURA

"Eu digo-vos que a beleza culta existe...A mulher, toda a mulher, bela, feia, mediana, celestial, é, como dizia Pavese, um «homem de ação». E o problema é que o «homem de ação», simplesmente, não morre de amores por uma vida intelectual ativa. Pavese teve uma paixão funérea e disse que as mulheres são «homens de ação».
 
É certo: Pavese estava preso a uma necessidade maior. Queria analisar a natureza da americana Constance Dowling por quem se apaixonou tragicamente. O diário de Pavese está cheio dessa necessidade obsessiva, não sem um ressentimento difícil e embaraçoso. Mas o que importa é essa ideia realista das mulheres: as mulheres como criaturas menos falíveis, menos patéticas, menos lunáticas que os homens, as mulheres dotadas de um pragmatismo inabalável e de uma rara lucidez.
 
Para as mulheres, não existem abstrações. Por exemplo, não existe o Homem mas homens concretos e mulheres concretas. Existe o pai, o irmão ou, desculpem o termo, o companheiro; nunca o membro insípido e distante de um gênero humano. Depois, reparem que as mulheres, que nunca fizeram muitas revoluções, nunca fizeram, sobretudo, revoluções inúteis.
 
O sufragismo foi uma revolução útil. As feministas mais radicais sabem que não estão a contemplar a mefítica exploração masculina para ocupar o tempo. Querem uma nova revolução para ganhar alguma coisa. Quando os soldados portugueses partiram para a Flandres na primeira guerra mundial, as mulheres portuguesas organizaram peditórios públicos. Não era generosidade. Não era ocupação de tempos livres. Era o imenso pragmatismo feminino a funcionar.
 
Pensem num dos casais mais célebres de todos os tempos, Xantipa e Sócrates. Conhecem o que Sócrates pensava. E Xantipa? Quem era Xantipa? Discutia Parménides com o marido? Lavava o sovaco? Nada disso importa. Porque Xantipa sabia mais do que Sócrates, é o que vos digo. E talvez olhasse para o pobre com algum compassivo desprezo.
 
As mulheres não querem saber o que as coisas são. Querem saber como as coisas se apresentam, como foram ontem, como são hoje. Querem saber como fazer. A estratosfera que fique para os leitores de Heidegger. Arendt? Passo. A Sartreuse? Passo duas vezes. Doutorandas em Adorno? Give me a break.
 
Procurem uma terna beleza culta, com passagens de "Os Maias" na cabeça e o teatro de Nelson Rodrigues. Eu sei que isto existe. Eu acredito no acaso".
 
Trechos de artigo assinado pelo português Pedro Lomba
 

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