«A palavra senior vem do latim senex, que quer dizer idoso, velho, que passou de moda. O que nos acontece, atrizes dos 60, 70 e 80 anos, é que passámos de moda, causamos enfado. O tempo destrói tudo e também a beleza, a sagacidade, a agilidade e, como em todas as outras mulheres, a pele fica sem viço, a cintura aumenta, os lábios murcham. Mesmo que permaneçamos atentas, argutas, capazes, somos rejeitadas e as oportunidades são menores porque, obviamente, os contratadores não nos consideram lucrativas e, como é sabido, o valor maior do sistema vigente é o do negócio. O que nos acontece não difere em nada do que sucede aos outros cidadãos, homens e mulheres, com mais alguma idade: nada se lhes reserva, não somos respeitados e a vida é, por vezes, indigna. Nas peças de teatro, nos trabalhos televisivos, no cinema, as intervenções que nos são atribuídas servem de um modo geral para compor ou enquadrar enredos que sempre pertencem aos jovens, cada vez mais jovens, cada vez mais belos, cada vez mais concorrenciais e comerciais. Não penso que haja propriamente discriminação em relação ao gênero. O que sei é que nós, mulheres em especial, não fomos informadas de que para ser artista também era preciso saber gerir a vida e que isso era o mais difícil, porque era um território de sobrevivência atribulada. E assim ficamos vulneráveis e inseguras porque o nosso trabalho é, no fundo, considerado irrelevante e sem préstimo para esta sociedade».
O testemunho, que considero notável e verdadeiro, foi escrito pela atriz portuguesa Maria Emília Correia (que aparece na foto) para um jornal de Portugal. Acredito que está aí a principal explicação para a busca insana que muitas mulheres fazem pela juventude, mesmo ao custo de dietas doentias e de processos cirúrgicos de altíssimo risco e efeito duvidoso. Sinto na própria pele que a rejeição social a tudo que é velho tem sido inevitável, injusta e incompreensível.
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