Falta transparência aos comandos das televisões, rádios e jornais
do Brasil. A exemplo do que exigem dos políticos, os meios de informação
deveriam prestar contas de suas ações e decisões. Os políticos, pelo
menos, prestam contas através de eleições regulares. É quem vota que
decide a continuidade deste ou daquele grupo no poder.
No caso da mídia, apesar da sua enorme relevância na nossa vida
coletiva, os mecanismos de accountability são totalmente opacos. Temos
televisões, rádios e jornais que se mantêm com recursos públicos. Outros
vendem espaços para igrejas e existe canal de igreja
para exercer poder político. É constitucional? Acho que não.
Aliás, político pode explorar rádio e tevê? Se a resposta for sim,
como fica o conceito da igualdade na disputa eleitoral
democrática? E por qual razão o Legislativo, Executivo e
Judiciário não fiscalizam nada neste ramo? A resposta parece clara: mais de 300
parlamentares dispõem de concessões. Não quero fazer pré-julgamentos, mas
acho que isso devia ser auditado e fiscalizado.
Naturalmente, não estou em campanha por controle da mídia ou
fazendo crítica aos excelentes profissionais do jornalismo que têm
resultados para apresentar. Estou dizendo, porquê é verdade, que
falta transparência aos meios de informação. Ao longo dos anos, coube aos
próprios meios de informação a tarefa de fiscalizar e exercer controle
sobre seus excessos. Não estou dizendo que isso é certo ou errado. Estou
dizendo que é assim.
Também não estou dizendo porque quero leis para mexer nisso. Não quero
lei, quero debate, fiscalização, ajuste às determinações constitucionais e
transparência. Sei que a defesa de leis neste campo pode atingir
no peito o direito de opinião e a liberdade de expressão. Sou jornalista, dou
valor à boa Constituição que temos com seus direitos e garantias individuais
modernas e justas. E estou careca de saber que opiniões contrárias às
minhas não são criminalizáveis. Ainda que o teor das críticas possa
ser visto por mim como injusto ou de má fé.
Sim, sou radicalmente contra qualquer medida para limitar a
liberdade de expressão, mas não posso deixar de dizer que acho insuportável a
arrogância de alguns meios de informação. Quase todos os dias, vejo
que os noticiários olham o mundo de cima para baixo e
despejam críticas a granel, como se por trás dos textos
existissem deuses, moral e intelectualmente superiores
aos demais humanos.
É isso: a verdade é que o país permitiu que a própria mídia definisse as regras pelas quais a comunicação social se deveria governar. E estabelecesse o que é aceitável e reprovável eticamente. O que é bom e mau jornalismo, por exemplo. Verdade e consequência: os maiores prejudicados são os cidadãos, que recebem uma cobertura infantil, benigna, inexpressiva e sem dimensão humana da história que vivemos.
E tome novela entre um intervalo comercial e outro. Não gosta?
Então veja no outro canal o culto de um pastor que
vende indulgências no Paraíso em troca da sua senha do cartão de
débito. Ou, quem sabe, você prefere o pastor que tira -
ou será que põe? - demônios na mente dos crentes e
dos inocentes. Pobre gente...Parece até que voltamos à Idade
Média, no período anterior a Lutero.
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