terça-feira, 14 de março de 2017

A GERAÇÃO ENVERGONHADA


A GERAÇÃO ENVERGONHADA

Os ganhos democráticos dos últimos 40 anos são de saudar, mas, lastimavelmente, o resto é vergonha junta. Acredito que esse é o sentimento que predomina entre as pessoas da minha geração. Andávamos pelos 20/30 anos quando a democracia chegou e ficamos eufóricos. Íamos finalmente mudar o Brasil no Estado democrático. Nossos filhos e os filhos dos pobres teriam água limpa.
A morte de Tancredo Neves e a derrota da centro-esquerda em 1989 fez a esperança desaparecer, mas tinhámos liberdade e juventude, logo cada um de nós tratou da própria vida, da carreira e da carteira. Enquanto isso, os partidos tomaram conta da política, com inacreditável irresponsabilidade e uma corrupção crescente, contra as quais o cidadão comum era impotente.
À nossa volta, sucessivos governos distribuíam cargos, favores, verbas e posições na máquina pública a homens sem qualidades que passaram a formar a "elite" política brasileira. Os efeitos dessa pestilência, dessa degradação do poder político por incompetência, abuso, dolo e corrupção, estão aí na Lava-Jato. Os inquéritos estão saindo pelo ladrão na Procuradoria Geral da República.
A julgar pelas pesquisas e as notícias das revistas e dos jornais a reação da população pode ser resumida numa frase: não devemos confiar em nada e contar com nada. O emprego e “crescimento da economia” são fenômenos tão míticos como os unicórnios. Não temos escola, formação, investigação ou cultura. O  mundo das ideias caiu na absoluta irrelevância.
Ganharam os lobbies, a preguiça, a corrupção, a esperteza. E não há fio de Ariadne para nos orientar. A política jaz ao rés do chão. A corrupção pôs em risco a beatificação de Lula e roeu tudo à sua volta. O movimento estudantil foi tomado por arrivistas, que não o largaram mais. A cegueira ideológica afastou a esquerda pensante das universidades.
Dispersos, os intelectuais não realizam o debate. No vácuo, oportunistas e truculentos se organizam para comandar a história sem preparo ou dimensão humana. Nessa altura, ante a corrupção descortinada pela Lava-Jato, o que se impõe é dar sequência aos processos para estabelecer as responsabilidades por meio de julgamentos rigorosos. A propósito: na minha opinião, os escândalos da corrupção dificilmente serão esclarecidos.
Acho que a população dificilmente saberá se as acusações correspondem aos fatos. O complicado é que, na dúvida, alguns políticos poderão se sentir encorajados a seguir pelo mesmo caminho, como se a corrupção impune fosse “o velho” e o “novo normal”. Se assim for, as dificuldades presentes vão agravar-se no futuro próximo, mas, se formos capazes de continuar lutando e de seguir em frente, vamos superar.  

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