A GERAÇÃO ENVERGONHADA
Os ganhos democráticos dos
últimos 40 anos são de saudar, mas, lastimavelmente, o resto é vergonha junta.
Acredito que esse é o sentimento que predomina entre as pessoas da minha
geração. Andávamos pelos 20/30 anos quando a democracia chegou e ficamos
eufóricos. Íamos finalmente mudar o Brasil no Estado democrático. Nossos filhos e os filhos dos pobres teriam água limpa.
A morte de Tancredo Neves e a
derrota da centro-esquerda em 1989 fez a esperança desaparecer, mas tinhámos
liberdade e juventude, logo cada um de nós tratou da própria vida, da carreira
e da carteira. Enquanto isso, os partidos tomaram conta da política, com
inacreditável irresponsabilidade e uma corrupção crescente, contra as quais o
cidadão comum era impotente.
À nossa volta, sucessivos
governos distribuíam cargos, favores, verbas e posições na máquina pública a
homens sem qualidades que passaram a formar a "elite" política
brasileira. Os efeitos dessa pestilência, dessa degradação do poder político por
incompetência, abuso, dolo e corrupção, estão aí na Lava-Jato. Os inquéritos
estão saindo pelo ladrão na Procuradoria Geral da República.
A julgar pelas pesquisas e as
notícias das revistas e dos jornais a reação da população pode ser resumida
numa frase: não devemos confiar em nada e contar com nada. O emprego e
“crescimento da economia” são fenômenos tão míticos como os unicórnios. Não
temos escola, formação, investigação ou cultura. O mundo das ideias caiu na absoluta irrelevância.
Ganharam os lobbies, a preguiça,
a corrupção, a esperteza. E não há fio de Ariadne para nos orientar. A política
jaz ao rés do chão. A corrupção pôs em risco a beatificação de Lula e roeu tudo
à sua volta. O movimento estudantil foi tomado por arrivistas, que não o
largaram mais. A cegueira ideológica afastou a esquerda pensante das
universidades.
Dispersos, os intelectuais não
realizam o debate. No vácuo, oportunistas e truculentos se organizam para
comandar a história sem preparo ou dimensão humana. Nessa altura, ante a
corrupção descortinada pela Lava-Jato, o que se impõe é dar sequência aos
processos para estabelecer as responsabilidades por meio de julgamentos
rigorosos. A propósito: na minha opinião, os escândalos da corrupção
dificilmente serão esclarecidos.
Acho que a população
dificilmente saberá se as acusações correspondem aos fatos. O complicado é
que, na dúvida, alguns políticos poderão se sentir
encorajados a seguir pelo mesmo caminho, como se a corrupção impune fosse “o
velho” e o “novo normal”. Se assim for, as dificuldades presentes vão
agravar-se no futuro próximo, mas, se formos capazes de continuar lutando e de
seguir em frente, vamos superar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário