domingo, 6 de dezembro de 2015

Isso é tudo que tenho...

Faça chuva ou faça sol, em qualquer dia da semana há brasileiros discutindo sobre o impeachment, sobre o PMDB, o PT, a crise e Eduardo Cunha. Pessoas que se interessam por política. E que dizem coisas interessantes como este pensamento que li (não lembro onde) hoje: o pressuposto da democracia é a legitimidade daquele que discorda de mim.

 
Se estou sendo investigado por ilegalidades no trato da coisa pública, como posso exigir ética dos outros? Como posso apontar o dedo em direção a alguém? Se não tenho princípios, se acredito que o fim justifica os meios, como posso alegar padrões éticos para tentar condenar alguém? Posso ser moralista se recebi dinheiro de caixa dois?   
O pressuposto da democracia é a legitimidade daquele que discorda de mim. E a credibilidade de quem se acha no direito de discordar, contestar e exigir honestidade dos outros. Isso é o que ensinam as pessoas que se interessam pela política com espírito público e consciência. Eu conheço muitas pessoas assim.
São pessoas que nos fazem pensar porque participam, procuram ler e analisar as notícias e prestam muita atenção nos discursos transmitidos pela TV Câmara, TV Senado e pela TV Justiça. Elas acreditam, têm plano, ideias e certezas. Têm uma «consciência política», uma «visão do mundo».
Eu não possuo um plano, uma ideia ou sequer uma certeza. E, muito menos, uma «visão». Sou míope desde pequena, vejo tudo embaçado. Na verdade não possuo quase nada. E meu estilo de vida levou muito da minha fé. Além disso, sei muito menos do que gostaria.
As pessoas do mundo do poder de Brasília, onde moro há três décadas e meia, sabem quase tudo do poder. Argumentam que precisamos mudar a política porque a política se converteu num pântano de irregularidades, distorções, intrigas e desvios do dinheiro público.
Estas pessoas sabem tanto que enxergam a política quase como uma entidade que existe fora do coração dos homens. Isso me espanta. Elas acreditam que podem mudar a política porque seguem acreditando nos homens, confiam na espécie, no esforço humano e sonham com um futuro melhor para seus filhos e os filhos dos seus filhos.
Para elas, há sempre alguma coisa por trás do erro ou do fracasso, uma explicação última para a falha ou para o insucesso, uma verdade essencial que tudo explica e tudo redime. Eu invejo esta firmeza e decisão. Sou tão insegura e confusa que chego a pensar que há remédios piores do que algumas doenças, mas não queria ser assim.
Queria ter fé, confiança e certezas. E queria muito uma “consciência política”. Quem sabe assim eu conquistaria o direito de viver sem tantas indecisões, dores e tantos tormentos. Quem sabe assim eu deixaria de ser esta apática e apolítica criatura em que me transformei. Acreditem em mim. Não quero mais ser como sou.
Não quero mais suspeitar de Rosseau. Não posso continuar achando que o homem não é uma criatura em que se possa confiar. Vou mudar. Sei que careço de otimismo, fé e esperança, mas tenho o resoluto desejo de seguir carregando o estandarte das pessoas de boa vontade. Além do desejo de seguir navegando. É só isso que tenho.
 

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