Soube que Drica Moraes afastou-se da novela “Império” por
questões de saúde. Vou rezar e pedir a meus santos de devoção sua rápida recuperação. Conheci
Drica Moraes em 2002, quando fazia assessoria de imprensa para espetáculos do CCBB em Brasília. Ela veio apresentar-se
na cidade e coube-me a prazerosa tarefa de acompanhá-la nas entrevistas aos
veículos de informação para atrair o público da cidade.
Na véspera da estreia, quando voltávamos para o CCBB, depois de uma entrevista ao vivo no DF TV, 1ª edição, ela perguntou se eu não gostaria de morar em uma cidade que tivesse praia "por ser mais divertido". Respondi que quando chegasse a
aposentadoria, eu iria morar em Vila Velha, no Espírito Santo. Ela
perguntou se era legal, eu disse que não sabia. "Só sei que tem praia". Ela riu e ficou calada até o fim do
trajeto.
Na noite seguinte, o teatro lotou. Drica brilhou no palco, fazendo coisas do arco da velha. Lembro uma cena fantástica: ela simulando o desespero
de uma patricinha para falar no celular mesmo com sinal ruim. Drica andava pelo palco
inteiro agachando-se de um jeito sensacional, como se estivesse desesperada para buscar o sinal no espaço.
O público caiu na risada. Ela lutava pelo sinal do celular e, ao mesmo tempo, mostrava o ridículo de fazer aquilo, de agir daquela maneira. Quase todo o mundo ali já tinha se abaixado daquela maneira, procurando uma posição
melhor para manter a linha e seguir falando. A Drica repetindo alô, alô, com o corpo dobrado, quase caindo à beira do
palco, era o retrato de todos nós. Diante de tamanho ridículo, só nos restava uma vingança: o riso frouxo e livre.
Rimos muito naquela noite, e nas noites seguintes. Drica foi aplaudida inúmeras vezes em cena aberta. A casa lotou durante toda a temporada, mesmo com dezenas de cadeiras extras. Sucesso. Numa das noites, ela incluiu um texto na cena do celular que era dirigido exclusivamente a mim. E só nós duas sabíamos disso.
Ela disse mais ou menos o seguinte: “quando chegar a aposentadoria vou para Vila Velha no Espírito Santo. Se a linha do telefone
lá é melhor? Deve ser igual, mas lá tem praia. Praia!!! Alô, Alô, Alô, vou ver a linha do horizonte na praia...Linha? Ca..iu, ca ca caiu! Por um momento, em meio a centenas de pessoas, me senti única. Foi como se ela estivesse falando comigo apenas, uma sensação boa e inesquecível. Quando terminou o espetáculo, fui agradecer, mas ela fez de conta que não era nada.
Voltamos a conversar no dia seguinte, véspera de sua partida. Ela havia terminado de
fazer Bossa Nova, filme de Bruno Barreto. Drica perguntou se eu havia visto filme. Sim, eu disse. Ela ficou me
olhando, sem dizer nada, mas seu rosto dizia tudo: esperava que eu falasse mais
alguma coisa para conferir se eu havia visto o filme de verdade. Falei de Nadine, sua personagem, uma fanática por computadores. Seu rosto suavizou em sinal de aprovação
e assentimento. Comentamos também sobre a brilhante trilha sonora do filme.
Não voltei a vê-la ao vivo, só no cinema e na
televisão. No filme Bruna Surfistinha, ela fez uma cafetina inesquecível. Como
a inesquecível Cora de Império, a inesquecível Nadine de Bossa Nova mas, sobretudo, como a inesquecível patricinha do celular que tive a alegria de ver no CCBB de
Brasília há mais de uma década. E que jamais vai sair da minha memória. Saúde Drica Moraes!
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