Não o incomodo. Não lhe dou trabalho. Fica tudo igual, sempre. Penso que ele nem percebe que entrei. A sua vida fica lá, a minha cá. É assim todos os dias. Quando estou cansada e a solidão ameaça se aproximar, fico em silêncio, sento-me num sofá, começo a folhear os livros que já li e que estão na estante da sala. Nascer, crescer, morrer, ter um companheiro, esses passos são os que mais importam. Percorro toda a casa, gosto de ter uma casa, ter um quarto onde durmo acompanhada, onde ainda faço amor. É como vestir um casaco usado que aquece como nenhum outro. Um casaco que cobre os seios. Olho a casa, que cheira tão bem, tão a novo, casa tão bonita, tão leve, despretensiosa. Ele apreciou a arrumação. Será que ele é feliz? Será que ele poderia ser um pouco mais feliz se não preferisse sentir-se morto? Não sei, o que sei é que não vou perguntar. Não o incomodo. Não lhe dou trabalho. Fica tudo igual, sempre.
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