quinta-feira, 25 de abril de 2013
Abençoados...
Abençoados os que acreditam em equipas multidisciplinares
nos programas de reinserção social
no sucesso das dietas de emagrecimento
nas aulas noturnas
no multiculturalismo
no reflorestamento
no código deontológico
na igualdade dos sexos
na prevenção da doença
no diálogo norte-sul
em Deus Alá Jeová
na unidade do espírito santo
ou no manipanso que ainda não foi revelado
nas energias
na meditação zen
nos cátaros a reincarnar
na ressurreição das almas
No orgasmo simultâneo
na comunhão dos corpos
na verdadeira orientação
no sexo salvífico
no casamento
na lista de prendas
na lua de mel
na união de facto
na guerra preventiva na guerra punitiva
na guerra defensiva
na paz
na guerra
Abençoados os que acreditam
no progresso moral
no amor na amizade
Abençoados os que acreditam
no ensino público ou privado
no ensino gratuito
nas propinas diferenciadas
na escola democrática
tu e eu muito iguais á saída
Abençoados
os que acreditam na
Comissão de Luta contra a Aids
na segurança das pontes
na Condição Feminina
no Instituto do Emprego
Abençoados os que acreditam
na emancipação dos explorados
na solidariedade
no salário justo
na revolução social
na revolução
Esses estão a salvar o mundo,
dizia o Borges.
(estavam as mães à procura dos desaparecidos
na Praça de Maio
À procura
e ele já não via).
Estão todos a salvar o mundo
mas eu estou cansado.
Muito cansado, desculpem.
Luiz Janúario in "A Natureza do Mal"
Razão para amar o inimigo
"Quando a obstinação
dos amigos
me deixa cansada
é a infâmia
dos inimigos
que por vezes ainda
me dá força nova."
Erich Fried
terça-feira, 23 de abril de 2013
O que será mesmo a felicidade?
O que será mesmo a felicidade? Para ser feliz qual será o peso dos hábitos do dia-a-dia, das coisas que nos vão dando alento, como ler um bom livro, ouvir uma boa música, tomar um sorvete, sentir o cheiro do cabelo da filha, ouvir as primeiras palavras da neta e considerar aquele o espetáculo mais grandioso da face da terra?
Felicidade seria apenas isso, a aceitação da vida que conseguimos ter? Hoje, tenho certeza que a resposta é sim, mas meu pensamento mudou muito ao longo da vida. Aos 18 anos tudo que eu queria era ser magra e ser livre. Aos 25, queria ser magra, queria ser livre, queria ter uma filha e lutava para firmar minha carreira no jornalismo.
Aos 30, trabalhava demais, continuava querendo ser magra e já tinha uma filha para criar. Aos 40, comecei a sonhar com uma conta bancária melhor e passei a ter medo de ficar velha e doente. É, aos 40 comecei a me aporrinhar com o medo da morte. Não conseguia nem imaginar minha vida depois dos 50 anos. Achava que seria velha, cansada e doente.
Só que os 50 chegaram e não me sinto velha, nem de meia idade; nem infeliz, muito menos cansada. Aliás, nunca estive tão saudável. Até o peso melhorou. E o resultado é que me sinto viva. E muito melhor do que antes. O mais importante é hoje sei o que me faz bem e sei, sobretudo, fugir do que me faz mal. Sim, a gente demora cinco décadas para descobrir a felicidade disponível, gratuita, à solta dentro de nós.
Felicidade pode existir na solidão e pode existir em um casamento pacífico, atravessado pelo companheirismo como a experiência que tenho vivido. Ninguém pode imaginar a felicidade que é saber que algumas coisas não mudam. Principalmente depois dos 50...
Pois é, não, não passei a ganhar mais dinheiro, nem fiz mais amigos, nem nada, mas sou mais feliz agora. Por que? A resposta me parece simples: limitei-me a aceitar que esta é a minha vida, e que é boa, que tive sorte. E acho, sinceramente, que a felicidade resulta dessa aceitação.
segunda-feira, 22 de abril de 2013
Eu e as celebridades...
Há algum tempo li entrevista na revista Caras e a celebridade em questão dizia que seu maior defeito era o “perfeccionismo”. Comecei a rir pensando que tem gente estranha demais nesse mundo. Afinal, de onde alguém tirou a idéia de que perfeccionismo é defeito?
Nem como defesa falar uma coisa desta é boa técnica. Então por que falam? Para ter um tom blasé, expondo aquela espécie de contrariedade típica dos bem nascidos e dos querem parecer mais inteligentes que os outros? Ora, ora, que coisa mais feia, ou melhor, que coisa mais “fake”!
Celebridades são graciosas, respeitáveis, bem arrumadas, nos divertem nas novelas, provocam nossas emoções e parecem ter compromisso sincero com a cidadania mas, a boa verdade é que pouco acrescentam ao debate das ideias e suas opiniões políticas são, como todas as demais opiniões, parciais e pessoais. Nada contra, todas as opiniões são assim, inclusive as minhas.
O que acho curioso, porém, é o que dizem sobre intimidade e privacidade. Sempre que termino de ler as entrevistas fico pensando: para o leitor, que diferença é essa, afinal, entre íntimo e privado, vocábulos sinônimos para designar realidades só nossas, pouco mais ou menos secretas, que não desejamos ver conhecidas? Não é tudo a mesma coisa?
Por sobreviver do que escrevo aprendi depressa que o leitor capta tudo o que acontece a léguas, que ele não é bobo. Portanto, quer a celebridade fale sobre o fungo no seu pé, sobre herpes labial ou sobre o tesouro escondido da rainha da Dinamarca, estará, em última análise, sempre, a descrever-se intimamente. Portanto, nada de justificações. Para quê explicações? Não vale a pena e não interessa ao leitor.
E o que o leitor quer, afinal? Desconfio que as pessoas querem, muito naturalmente, é identificar-se com as experiências alheias para tentar entender melhor o que acontece com elas. "Ah, que bom, eu não sou o único!"... "Ah, olha, a artista tal é tal e qual como eu!" Ela também passa aperto com essas coisas que acontecem na minha vida...É isso, ou, pelo menos, acho que é isso.
De todo modo, fiz esse texto comprido para dizer que fico realmente brava com essas histórias de “perfeccionismo” e as sutis diferenças entre íntimo e privado. O que é verdade e o que é mentira?! Aqui neste blogue é tudo verdade! É tudo íntimo, é tudo privado, é tudo secreto e as referências são todas verdadeiras! Eu me esforço para isso. Sem muito perfeccionismo, mas um esforço real e humano.
domingo, 21 de abril de 2013
Rotina
Não o incomodo. Não lhe dou trabalho. Fica tudo igual, sempre. Penso que ele nem percebe que entrei. A sua vida fica lá, a minha cá. É assim todos os dias. Quando estou cansada e a solidão ameaça se aproximar, fico em silêncio, sento-me num sofá, começo a folhear os livros que já li e que estão na estante da sala. Nascer, crescer, morrer, ter um companheiro, esses passos são os que mais importam. Percorro toda a casa, gosto de ter uma casa, ter um quarto onde durmo acompanhada, onde ainda faço amor. É como vestir um casaco usado que aquece como nenhum outro. Um casaco que cobre os seios. Olho a casa, que cheira tão bem, tão a novo, casa tão bonita, tão leve, despretensiosa. Ele apreciou a arrumação. Será que ele é feliz? Será que ele poderia ser um pouco mais feliz se não preferisse sentir-se morto? Não sei, o que sei é que não vou perguntar. Não o incomodo. Não lhe dou trabalho. Fica tudo igual, sempre.
quinta-feira, 18 de abril de 2013
O Sujeito da Esquina faz 4 anos
Este blogue completa 4 anos hoje, 18 de abril. Pensei em fazer uma pequena retrospectiva desde a primeira postagem, no dia 18 de abril de 2009, mas olhar para trás realmente não é o meu forte. Prefiro pensar no presente.
O blogue sempre foi um espaço de liberdade, desde o início. Procuro vir aqui quando estou bem leve, sem raiva, mágoas ou ressentimentos.
Aqui, fiz amigos inesperados, como uma leitora de Coimbra, Portugal, que me mandou mensagem muito malcriada dizendo que eu era bem preguiçosa porque não escrevia diariamente como todos os demais jornalistas.
Respondi, de forma educada, que o blogue era só diveretimento e que ganhava a vida trabalhando como assessora de imprensa, mas, confesso que até hoje acho engraçado lembrar da forma divertida daquela abordagem de uma leitora tão distante e completamente desconhecida.
O blogue trouxe-me muito mais coisas boas do que dissabores e parte disso é minha responsabilidade. Afinal, o Sujeito da Esquina sou eu, com as minhas escolhas e as minhas decisões relativamente aos registros que vou fazendo.
Muito obrigada a quem passa por aqui. Sou grata a todos.
sábado, 13 de abril de 2013
Uma garota inspiradora...
A garota que criou o Diário de Classe em Santa Catarina aparece (na foto acima) segurando o livro "A Revolta de Atlas". Como se não bastasse o barulho que essa guria fez questionando a péssima qualidade do ensino público que recebe, é muito animador vê-la numa foto com um livro na mão. Na verdade, pensando bem sobre a importância do livro, é de tirar o chapéu. Mais: talvez fosse o caso de ficar de pé e entoar a Marselhesa...
Na mitologia grega, o titã Atlas recebe de Zeus o castigo eterno de carregar nos ombros o peso dos céus. Neste clássico romance de Ayn Rand, os pensadores, os inovadores e os indivíduos criativos suportam o peso de um mundo decadente enquanto são explorados por parasitas que não reconhecem o valor do trabalho e da produtividade e que se valem da corrupção, da mediocridade e da burocracia para impedir o progresso individual e da sociedade.
Na mitologia grega, o titã Atlas recebe de Zeus o castigo eterno de carregar nos ombros o peso dos céus. Neste clássico romance de Ayn Rand, os pensadores, os inovadores e os indivíduos criativos suportam o peso de um mundo decadente enquanto são explorados por parasitas que não reconhecem o valor do trabalho e da produtividade e que se valem da corrupção, da mediocridade e da burocracia para impedir o progresso individual e da sociedade.
Considerado o livro mais influente nos Estados Unidos depois da Bíblia, segundo a Biblioteca do Congresso americano, "A revolta de Atlas" é um romance monumental. Ayn Rand traça um panorama estarrecedor de uma realidade em que o desaparecimento das mentes criativas põe em xeque toda a existência. Os princípios de sua filosofia: a defesa da razão, do individualismo, do livre mercado e da liberdade de expressão, bem como os valores segundo os quais o homem deve viver - a racionalidade, a honestidade, a justiça, a independência, a integridade, a produtividade e o orgulho.
Best-seller há mais de 50 anos, com 11 milhões de exemplares vendidos no mundo inteiro, "A revolta de Atlas" desafia algumas das crenças mais arraigadas da sociedade atual por meio de uma trama muito bem elaborada e recheada de filosofia. Não é por acaso que trata-se de um dos best-sellers mais inspirados de todos os tempos. Um manual para o individuo racional. Um livro para a vida inteira.
PS: Ângelo da Cia viu primeiro a foto da menina de Santa Catarina com o livro "A revolta de Atlas" e deu o alarme. Ele fez bem de chamar a atenção para coisa tão rara e bonita. Não é todo dia que uma jovem consegue ser tão inspiradora. Valeu Dom Ângelo! Valeu menina de Santa Catarina!
domingo, 7 de abril de 2013
De onde vem a legitimidade da imprensa?
Em boa verdade, a imprensa não pode alegar uma legitimidade eleitoral (como os políticos) nem uma legitimidade técnica (como a opinião pública [através das sondagens]. Nessas circunstâncias, a fonte da legitimidade jornalística pode parecer opaca: ela vem de onde, representa quem, responde perante o quê?
Essas são boas perguntas de respostas complexas, mas considero oportuno escrever isso hoje, quando se comemora o dia do Jornalista. A imprensa teria uma legitimidade “de referência"? É isso? Mas isso se traduz em quê?
A legitimidade de referência se baseia no princípio de que a imprensa é que sabe (e sempre melhor do que os que foram eleitos, por exemplo,) o que realmente o povo sente e quer?
É com base nessa legitimdade que os jornalistas arrogam-se o direito - marcado às vezes por um jeito ora policial, ora justiceiro e sempre moralista - de passar do registo dos confrontos de opinião para o das avaliações subjetivas?
Informar e ser infomado são direitos constitucionais que vão existir sempre, mas cabe ao jornalista pensar que a legitimidade de referência exige rigor absoluto na apuração dos fatos e no confronto de opiniões.
Sem enorme responsabilidade não é possível exercer a profissão de jornalista, sempre associada pela população aos valores mais nobres como verdade e justiça.
quarta-feira, 3 de abril de 2013
Minha vida de gorila..
Alguma imaginação, um pouco de charme e, naturalmente, a indispensável qualidade gramatical. Esses são os requesitos de um bom texto. É sempre desejável que tenha também um toque de grandeza obtido, em algumas vezes, com u,a frase de impacto que possa sintetizar o conteúdo. Penso nessas coisas todos os dias. Ter uma prosa clara e instruída é obrigação de quem, como eu, trabalha no ramo da comunicação. Depois de exercer jornalismo por três décadas, passei a fazer assessoria de imprensa, trabalho que implica dar sugestões de textos para pronunciamentos e entrevistas coletivas. Assim, vou garantindo o almoço que, como todos sabem, não sai de graça. É um trabalho difícil? Não. Em boa verdade, qualquer macaco seria capaz de fazer o que faço. A sorte é que eles são mais espertos e preferem pagar mico na floresta.
terça-feira, 2 de abril de 2013
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