Um casal de Veneza recorreu à Justiça para expulsar de casa o filho de 41 anos. A mãe queixa-se de stress com as exigências diárias dele: roupa lavada e refeições caseiras. “Não podemos agüentar mais”, diz o pai, explicando que ele e a mulher sofrem com a convivência com o filho adulto e intolerante. É o segundo caso do gênero ocorrido na Itália no último mês. O filho de um outro casal acabou por sair da casa dos pais, que trocaram todas as fechaduras da porta de entrada.
Se minha mãe fosse viva e eu contasse essa história a ela a coisa tomaria um rumo meio cômico. “Não pode ser”, ela diria. “Que mãe se arriscaria a perder o filho porque não pode lhe dar um prato de comida e lavar suas roupas?”, iria perguntar. Em seguida, aproveitaria esse momento para pigarrear ou tossir. Eu diria que o rapaz fica exigindo coisas, que lá ninguém tem empregados domésticos e ela, de olhos bem espertos, diria em tom de acusação: isso não importa, mãe faz sem se queixar para ter direito de fazer chantagem, não é isso que vocês pensam?
Eu teria de dizer que não, mesmo sem acreditar. E ela ficaria rindo um pouco por me ver atrapalhada. A verdade, porém, é que a história me lembrou minha mãe pelo lado oposto. Explico: assim que os filhos cresceram, ela passou a morar numa casa com moradias menores em volta para instalar, preferencialmente, filhos e netos. Seu filho Miguel passou a morar ali. Ele e ela pareciam não poder viver longe um do outro. Aliás, enquanto teve saúde minha mãe não deixou de dizer que era feliz tendo os filhos a seu lado.
Mesmo envelhecida, seus olhos eram brilhantes. E sempre me diziam alguma coisa. Ela era simples, usava o olhar para se comunicar com os filhos. De minha parte, sempre li nos seus olhos uma frase imperativa: “sou tua mãe, aconteça o que acontecer”. Hoje, sei o tanto que essa certeza significou para minha segurança na vida. E só me arrependo de não tê-la visitado mais vezes. Para rir um pouco das famílias italianas ou para lhe dizer, com simplicidade: sou tua filha. E agradeço muito por isso...
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