domingo, 25 de setembro de 2011

Touradas? Não...




Cerca de 20 mil espectadores assistiram neste dominfo, 25, a última apresentação dos toureiros na Catalunha, no nordeste da Espanha, em um adeus emotivo antes de uma polêmica proibição a essa tradição secular. No dia 13 de maio de 2009, uma quarta-feira, publiquei o seguinte post aqui no blog: Touradas? Sou contra... Acho que devo republicá-lo.

"Touradas? Lamento. Não sou cliente. Os meus amigos conservadores nunca me perdoaram a traição. E dizem, inteiramente a sério, que eu me deixei levar pelos "direitos dos animais". Absurdo. Os animais não têm direitos; a capacidade de formular e articular direitos é uma prerrogativa humana e apenas humana. Mas isso não significa que, precisamente pelo fato de sermos humanos, não tenhamos alguns deveres para com os animais. O mais básico de todos é não os torturar para gáudio das massas. A tourada pode ser uma tradição; mas nem todas as tradições são úteis, muito menos benignas. Isto faz de mim uma proibicionista militante? Não faz. Proibições culturais deste tipo nunca devem vir de cima. Devem começar por baixo: pela capacidade da maioria em olhar para as touradas como os espectáculos primitivos que, na verdade, são".




sábado, 24 de setembro de 2011

A decadência do Ocidente


«A decadência do Ocidente (ou seja, da Europa e da América) tem sido anunciada muitas vezes, mas a situação agora é inquietante. O retrato de um velho mundo, que progressivamente produz menos, gasta mais e, ainda por cima, se endividou sem peso nem medida para conforto e sossego de uma população indiferente, não é reconfortante e não autoriza uma visão muito otimista do futuro. Quando se olham as coisas de longe, os problemas parecem, como de resto são, parte de uma mudança histórica radical e fica o sentimento de que nada nos poupará a uma catástrofe inevitável e merecida. Não vale a pena discutir, ou "explicar", os números...Vale a pena pensar se, além dos números, não há outros sintomas das desgraças que eles nos profetizam.



O colapso do império soviético mudou um equilíbrio de 30 anos. Verdade que esse equilíbrio assentava no condomínio quase universal da América e da URSS. De qualquer maneira, a Guerra Fria, embora com um ou outro sobressalto, e milhões de vítimas "passivas", permitiu o estabelecimento de uma certa "ordem" e uma previsibilidade, que não existia desde o fim do século XVIII. A Inglaterra desaparecera como potência hegemónica e, excepto pela aventura napoleónica, a França também. A Alemanha, do princípio agressiva, tinha ambições para que não tinha meios. Quanto à Rússia, a fraqueza interna não lhe permitia uma intervenção externa decisiva. E a América, como se constatou, persistiu, de fato, no seu isolacionismo até 1941. Restava o "concerto das nações", como se dizia, um jogo frágil, sempre em risco de acabar mal, se um dos parceiros resolvesse não respeitar as regras.


A situação de hoje, a que se chama "globalização", é uma espécie de regresso ao "concerto das nações". Na ausência de um "centro" e de uma autoridade indiscutível (como, por exemplo, a América e a URSS, cada uma na sua "esfera"), o mundo está dividido em potências de vários portes e alcance, que tentam adquirir vantagens próprias, sem forma de restrição ou responsabilidade global. A Europa, com união ou sem união, deixou de contar. A América, crescentemente mais débil, tenta dissolver com mansidão o seu antigo papel de polícia ideológico e militar de uma democracia imaginária. Longe da sua velha superioridade, e da sua velha arrogância, o Ocidente, que se refugiou em palavras, está em decadência. Politicamente, em decadência. » Vasco Pulido Valente, O Público

Seu nome é seu talismã?


Minha filha se chama Júlia e minha neta Giovana. Acho os dois nomes bem escolhidos. A tradição de nomes bonitos é recente. Antes, eles eram copiados da lista dos santos católicos ou, pior ainda, resultavam da combinação de síladas dos nomes do pai e da mãe. Ou de alguma ideia maluca. Tive um professor de matemática no ginásio que se chamava Oicilef, vale dizer Felício, nome do pai dele, ao contrário. Hoje li este texto sobre nomes e resolvi publicar aqui:


"A descoberta do nome, começa para a criança com a aprendizagem da língua escrita. Saber escrever o próprio nome, significa estreitar laços familiares e sociais. Há quem diga que o nome é como um talismã, capaz de determinar a sorte de quem o carrega. O nome pode sugerir a origem, o contexto cultural, a época e até o lugar em que a criança nasceu. Davi e Sara são pistas de uma ascendência judaica, por exemplo.

Na infância, o nome próprio assume um papel extremamente importante no crescimento. É o primeiro bilhete de identidade da criança e uma característica que a acompanhará para o resto da vida. Segundo afirma Regina Obata, autora da obra “ O livro dos nomes”, os pais devem mesmo ter atenção aos nomes que escolhem. “É um atributo involuntário imposto pelos pais aos filhos e que pode abrir e fechar portas durante a sua caminhada.”

Na cultura oriental, acredita-se que todas as pessoas possuem uma certa "função" na vida. A função é algo mais simples que uma "missão". Somente os líderes é que nascem com missões que devem realizar. A função de uma pessoa é o papel que ela vai desempenhar na vida comunitária. Quando nasce uma criança, o grande desafio dos pais é descobrir logo a "função" que esse recém nascido vai desempenhar na vida, pois a escolha do nome deve ser feito em coerência com isso.

O costume é que um monge antigo e respeitado ajude a família a descobrir a função das crianças. O monge vai até a casa do recém nascido, percorre os cômodos e diz aos pais que precisa consultar o oráculo. Dizendo isso retira-se para uma capela nas montanhas. Passam-se dias e o povo daquela aldeia está com a ansiedade crescente e todos se perguntam: "Quem é ele? (o recém nascido)". Será que ele é "Aquele que vai promover uma Boa Colheita"?, ou será "Aquele que vai reatar a amizade com a aldeia vizinha"? E assim, todos ficam especulando sobre as possíveis funções do recém nascido.

Finalmente, após alguns dias, ressurge o monge e dirige-se, a passos firmes, em direção da casa do recém nascido. O povo da aldeia larga o trabalho e todos seguem o monge, até chegar o dia em que é conhecido o nome da criança diante de todos. Esse ritual é conhecido como Cerimônia do Anúncio do Nome e é praticado em quase todos os países do leste asiático.



Na simbologia bíblica, o nome é a intimidade de cada pessoa e não deve escrevê-lo no chão, porque isso seria sinônimo de vergonha. Todas as coisas têm nome, casa, janela e jardim. Coisas não têm sobrenome, mas a gente, sim."


Comentário de Pio Barbosa Neto na coluna http://migre.me/5M9G6 de Eliane Brum

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Ter mãe é ter tudo...



Um casal de Veneza recorreu à Justiça para expulsar de casa o filho de 41 anos. A mãe queixa-se de stress com as exigências diárias dele: roupa lavada e refeições caseiras. “Não podemos agüentar mais”, diz o pai, explicando que ele e a mulher sofrem com a convivência com o filho adulto e intolerante. É o segundo caso do gênero ocorrido na Itália no último mês. O filho de um outro casal acabou por sair da casa dos pais, que trocaram todas as fechaduras da porta de entrada.


Se minha mãe fosse viva e eu contasse essa história a ela a coisa tomaria um rumo meio cômico. “Não pode ser”, ela diria. “Que mãe se arriscaria a perder o filho porque não pode lhe dar um prato de comida e lavar suas roupas?”, iria perguntar. Em seguida, aproveitaria esse momento para pigarrear ou tossir. Eu diria que o rapaz fica exigindo coisas, que lá ninguém tem empregados domésticos e ela, de olhos bem espertos, diria em tom de acusação: isso não importa, mãe faz sem se queixar para ter direito de fazer chantagem, não é isso que vocês pensam?


Eu teria de dizer que não, mesmo sem acreditar. E ela ficaria rindo um pouco por me ver atrapalhada. A verdade, porém, é que a história me lembrou minha mãe pelo lado oposto. Explico: assim que os filhos cresceram, ela passou a morar numa casa com moradias menores em volta para instalar, preferencialmente, filhos e netos. Seu filho Miguel passou a morar ali. Ele e ela pareciam não poder viver longe um do outro. Aliás, enquanto teve saúde minha mãe não deixou de dizer que era feliz tendo os filhos a seu lado.


Mesmo envelhecida, seus olhos eram brilhantes. E sempre me diziam alguma coisa. Ela era simples, usava o olhar para se comunicar com os filhos. De minha parte, sempre li nos seus olhos uma frase imperativa: “sou tua mãe, aconteça o que acontecer”. Hoje, sei o tanto que essa certeza significou para minha segurança na vida. E só me arrependo de não tê-la visitado mais vezes. Para rir um pouco das famílias italianas ou para lhe dizer, com simplicidade: sou tua filha. E agradeço muito por isso...

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Tolerância e respeito...


Para além do egoísmo e da arrogância que carregamos e que parecem ser, infelizmente, marcas da espécie humana, acredito que a vida nos ensina que o mais importante é lutar por uma verdadeira atitude de tolerância e de respeito pela diferença.

Sei que estou longe disso e sei, igualmente, que tenho de me esforçar em todos os momentos da vida. Uma atitude de tolerância e respeito pela diferença, que ultrapasse a formulação teórica, e que não se aplique apenas aos nossos desejos e interesses, exige desprendimento e amor ao próximo.

Não é fácil; muito menos simples.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Ipi, o primeiro em tupi-guarani


A imprensa escrita queixa-se de crise e perde leitores quase todos os meses. O problema é grave em todos os segmentos e não se pode subestimar os dados, uma vez que a quebra nas vendas afeta a publicidade e atinge a qualidade dos jornais e revistas de informação.

A redução do número de exemplares vendidos não significa, no entanto, desinteresse pela informação por uma razão óbvia: a procura por notícias na internet cresce de forma assustadora nos últimos anos. O acesso gratuito ao conteúdo dos jornais e revistas é uma das razões que atrai o público.

E a tendência é que mais eleitores buscem refúgio nas redes com a popularização dos tablets no Brasil. O tablet permite a quem quer que seja saber o quiser sobre o que se passa em qualquer ponto do mundo. E o país se prepara para ter produtos nacionais competitivos neste mercado.

O grupo Positivo já está com tudo pronto para vender o Ipi, o 1º tablet brasileiro. Do nome escolhido - Ipi significa "primeiro" em tupi-guarani - até os aplicativos oferecidos no aparelho, tudo no produto é de primeiríssima qualidade. Com o Ipi ao alcance do bolso, a fuga dos leitores para a internet pode se acentuar de forma completa. A menos que os veículos de informação se antecipem e façam acordo com fabricantes de tablets para vender assinaturas junto com o produto. A Veja e o Positivo fecharam um acordo desses.

Jornais e revistas do mundo inteiro seguem a trilha dos tablets. É conveniente. No Brasil, além do Positivo, cinco outras empresas estão produzindo tablets: Samsung, Motorola, Semp Toshiba, Aix e Apple. No caso da Apple, a fabrica de Jundiaí (SP) é sua 1ª unidade de produção fora da China. Com tanta produção, devemos ter o Natal do Tablet no Brasil. É que o produto brasileiro chegará até o final deste mês com 20% de componentes nacionais e preços até 40% menores.

Vamos rir do tédio?



Juro que é verdade: universidades inglesas e norte-americanas incluíram o estudo da tediologia em seus currículos. Então, sejam bem-vindos à nova disciplina de tediologia, ou melhor "boringology", como se diz no país da rainha com muito charme e estilo. O pai da tediologia é o médico norte-americano William Bean, "especialista" no crescimento das unhas dos pés.

Em 1980, esse estudioso publicou um trabalho nos "Archives of Internal Medicine" sobre 35 anos de observação do crescimento das unhas dos pés. Tudo começou quando ele, aos 32 anos de idade, desenhou uma linha na cutícula da unha esquerda do dedo grande e foi medindo, a partir daí, todas as mudanças ocorridas.

Ele verificou que a unha crescia 0,123 mm por dia, ou seja, 1,4 nanômetro por segundo. Também verificou que infecções fúngicas e envelhecimento reduziam a velocidade desse crescimento. Aos 61 anos, o crescimento caiu para 0,100 mm por dia. Seis anos depois, sofreu nova redução de 0,005 mm/dia.

Na tediologia há muitas formas de passar o tempo tais como: medir o crescimento da grama do jardim, contar o número de cocô de cachorro por metro quadrado durante sua caminhada matinal e correlacionar esse fato com as épocas do ano.


É possível também registar a frequência com que o vizinho do andar de cima vai ao banheiro durante a noite, ou número de vezes que determinado jornal fala mal de algum político por 100 caracteres e a sua evolução, à medida que se aproxima o dia das eleições. Pois é, tudo nesse mundo é possível, até praticar tediologia…

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O Estado tem de mentir?



O pensador Don DeLillo, no livro "Ponto Ômega", sustenta que um dos objetivos da vida da gente é "criar realidades". Segundo ele, “a percepção humana é a saga da criação de realidades”. Diz ainda que "não há nenhuma mentira na guerra ou na preparação na guerra que não seja defensável”. Motivo: mentir seria tão "necessário" ao Estado que só por meio da criação de realidades um Estado conseguiria sobreviver como Estado”. Li e reli o capítulo.


Com sinceridade, acho exagero, sob qualquer circunstância, dizer que é necessário mentir. É, igualmente, exagero ignorar que a mentira faz parte da natureza humana. E creio que temos de entender que existem graduações nessa questão de verdades e mentiras. Exemplo: quem mente o tempo todo não tem caráter.

Isso posto, temos de convir que há mentiras aceitáveis para garantir o convívio social. Não acho aceitável, contudo, tantas mentiras no âmbito da política, da publicidade e dos negócios. O mais correto seria um esforço de todos para não mentir.

Sei que mostrar ao povo toda a verdade sobre os acontecimentos e os processos que levam às decisões não é fácil. Sei também que a maioria sequer quer saber a verdade. Pior: a grande maioria nem aguentaria saber toda a verdade dos fatos. De todo modo, continuo acreditando que uma hora muitas verdades acabam aparecendo. Está aí o WikiLeaks que não me deixa mentir...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Fazer política não é fácil...


Quais são as qualidades e virtudes que um líder político deve ter? Gosto de pensar que líder político é aquele que se expõe quando todos se omitem. Isso significa que coragem é qualidade essencial. Um líder político precisa também gostar de política e ter humor em relação a ele mesmo e ao próximo.

Precisa também ser frontal e defender, de forma obsessiva, uma vida melhor para todos. Isso implica ir um pouco além da competência tecnocrática, implica ter senso de justiça, informação e disposição para estudar os problemas e propor soluções em benefício das pessoas.

No meu tempo, FHC, Lula, Sarney, Ulysses Guimarães, Pedro Simon, Itamar e José Serra são alguns dos principais líderes políticos do país. Deles, Sarney é o mais longevo. Acompanhei o governo dele e quero destacar o convívio amigável de Sarney com aliados e adversários políticos que o hostilizavam.

Na diplomacia, Sarney foi bem ativando o Mercosul, mas em economia foi mal por causa da inflação. Mesmo com má vontade, contudo, é possível constatar que ele conquistou média pela transição democrática, vale dizer a consolidação do poder civil.

Ulisses Guimarães, Pedro Simon, Tancredo, Marco Maciel, Jarbas Vasconcelos, Mário Covas, José Richa, Franco Montoro e tantos outros sabiam, desde sempre, o valor incalculável da redemocratização que acabou sendo feita por Sarney.

Itamar Franco governou pouco tempo, mas criou as condições para aprovar o Plano Real e dar fim à inflação. FHC veio a seguir e garantiu avanços em todos os fundamentos da administração pública. Não se pode, porém, omitir que aprovou a reeleição em seu próprio benefício.

Se as gerações passadas tiveram Getúlio e JK, a geração atual e, possivelmente, as gerações futuras, vão ter muito o que falar de Lula da Silva, o grande líder popular da história do país.

Depois de encerrar dois mandatos com índices de popularidade tão estratosféricos que até parecem irreais, Lula elegeu Dilma Rousseff sua sucessora e as pesquisas indicam que sua popularidade tende a aumentar ainda mais. Vamos acompanhar...

domingo, 11 de setembro de 2011

Cabelos brancos da mãe e da vovó



- Mãe, estou vendo um fio de cabelo branco na sua cabeça - diz a menininha, toda preocupada...
- Este cabelo apareceu aí depois que você me desobedeceu de manhã, recusando-se a tomar seu copo de café com leite. Quando o filho desobedece acontece isso: os cabelos da cabeça da mamãe ficam brancos.
- Nossa, estou impressionada mãe, você desobedeceu demais, a cabeça da vovó está toda branca...

PS: Adoro esta historinha que me faz pensar na maternidade e no tempo que não pára. E a imagem que me ocorre é a da lindíssima boneca russa que representa o lado feminino da maternidade de forma completa: bisavó, avó, mãe, filha, neta e bisneta.

sábado, 10 de setembro de 2011

O mundo em 140 toques





Quase todas as crianças e grande número de adultos acabarão pensando e falando apenas as 140 palavras do twitter, caso se acentue, como tudo indica, o domínio da internet. Em um mundo quase sem palavras, pode ser escassa a percepção dos conceitos que forjam nosso carater e que conhecemos como "valores". É quase certo também que a maioria esmagadora dos jovens acabe deixando, de uma vez por todas, os livros de lado.

Mesmo sabendo que a fração de jovens que lê é mínima, as mudanças promovidas pela internet causam alguns receios. Como serão as discussões sobre eleições nas redes sociais? E o papel dos partidos? O Parlamento vai ao Facebook? A interação dos filiados, militantes e simpatizantes vai avançar e servir como mecanismo da chamada democracia direta? Esse mundo da internet será mesmo mais democrático, mais igualitário e mais livre por não ter peias e leis?

O mundo dos blogues com seus comentaristas anônimos dá vazão a um coro de insultos que os libertários consideram a vox populi deste início de século. A linguagem inclui, na maioria das vezes, a destruição verbal do outro, o que tem obrigado autores de blogues a fazer uma espécie de censura prévia em cima das contribuições que recebem. Confesso que a falta de coragem cívica do anonimato às vezes incomoda. O que mais incomoda, no entanto, é saber que direitos, deveres, procedimentos e regras, cada dia tem menos valor.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Política é para ficar rico?




A ideia de que a política serve para enriquecer os políticos é herança portuguesa e sempre esteve presente na cultura brasileira. Roubar no exercício da função pública parece tradição desde a República Velha, quando toda a gente roubava disciplinadamente, com método e com ordem. Não há um só registro da época que não faça menção à gatunagem.

Tudo indica que Getulio Vargas não roubou (virtude pela qual é louvado), mas deixou a vassalagem roubar a rodo. No governo JK contam que um político roubava edifícios inteiros, hábito que fez dos seus descendentes um dos clãs mais ricos do país até a eternidade. Detalhe: o clã segue na política.

O hábito de roubar edifícios inteiros, infelizmente, resiste à corrente do tempo. Vale lembrar, a propósito, a cassação do ex-senador Luiz Estevão. Ele teria mentido a seus pares, depois de receber milhões do Orçamento para construir um edifício em São Paulo. Acontece que teria embolsado o dinheiro, deixando a obra no papel.

Quando comecei no jornalismo em Brasília, há muitos anos, pude constatar que determinados políticos têm uma visão realmente societária do Estado. E agem com desenvoltura a respeito. Não me esqueci de episódio bizarro com o então senador Alexandre Costa (MA). Ele havia empregado os filhos no Senado e fui ouvi-lo para fechar a matéria que seria publicada no JB.

"Dei emprego aos meus filhos sim, e você queria o quê? Que eu empregasse os seus?", reagiu ele, muito seguro de si. Em seguida, citou a Bíblia: "Mateus, Mateus, primeiro os teus, esta frase é bíblica, está na Bíblia, entendeu mocinha?". A "mocinha" entender ou não entender dava no mesmo, uma vez que nepotismo, desvios na administração pública e distorções que geram atos de corrupção dependem do bom funcionamento das instituições.

A despeito das corretas intenções das mocinhas e dos mocinhos que ficam indignados, com toda as razões do mundo, com falta de lisura na gestão pública, os erros não são e nem serão corrigidos por atos isolados. Sempre fico brava quando ouço alguém dizendo que o brasileiro tem que fiscalizar os políticos que elege e outras besteiras do gênero. Ninguém tem essa obrigação não. O brasileiro faz muito, trabalha e paga impostos. Não é sua a obrigação de vigiar a mão grande de ninguém.

A verdade é que as instituições é que têm de funcionar até por uma razão elementar: elas é que têm esta missão constitucional. Mais: elas recebem recursos orçamentários com essa finalidade. Cabe lembrar, aliás, que o emprego de parentes na administração pública só foi golpeado com intervenção do Poder Judiciário. Então é isso: ninguém tem o direito de cobrar ou delegar a este ou aquele brasileiro a tarefa de endireitar o país no que diz respeito aos valores éticos. Esse dever é das instituições, elas é que precisam funcionar.

Também acho errado quando vejo alguém criticando as pessoas, principalmente as que não tiveram oportunidade alguma na vida, porque elas teriam escolhido este ou aquele candidato em troca de alguma vantagem material. Ora essa... Na verdade todos os eleitores, escolarizados ou não, votam em troca de alguma coisa. Não é de graça (literalmente) que pessoas de todas as camadas sociais elegem e reelegem criaturas denunciadas por corrupção em todos os estados do país.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Seja cético, mas não seja cínico



Não acredite em nada porque o crente é geralmente intransigente.


Não acredite em nada só porque está escrito em livros antigos.


Não acredite em nada porque dizem que é de origem divina.


Não acredite em nada porque um suposto sábio disse.


Não acredite em nada porque alguém acredita.


Acredite somente no que você mesmo julgar ser verdade.


Sidarta Gautama (Buda)

De tudo que sou...


Sempre A Incerteza

Ninguém avança pela vida em linha reta.
Muitas vezes, não paramos nas estações indicadas no horário.
Por vezes, saímos dos trilhos.
Por vezes, perdemo-nos, ou levantamos vôo e desaparecemos como pó.
As viagens mais incríveis fazem-se às vezes sem se sair do mesmo lugar.
No espaço de alguns minutos, certos indivíduos vivem aquilo que um mortal comum levaria toda a sua vida a viver.
Alguns gastam um sem número de vidas no decurso de uma só estadia aqui em baixo.
Alguns crescem como cogumelos, enquanto outros ficam inelutávelmente para trás, atolados no caminho.
Aquilo que, momento a momento, se passa na vida de um homem é para sempre insondável.
É absolutamente impossível que alguém conte a história toda, por muito limitado que seja o fragmento da vida que decidamos tratar.

Henry Miller