Vocês
falam comigo olhando nos meus olhos e abrindo as carinhas num sorriso genuíno.
Faz tanto bem que invento pretextos para sentir mais uma vez o milagre do
esmalte dos dentinhos brancos que surgem devagar atrás da boca, que mais parece
cortininha cor de rosa.
Vocês já aprenderam a cumprimentar
porque recebem boa educação. Boa educação é essencial, mas quando vem
associada a um sorriso aberto é capaz de estabelecer relações sociais que
tornam certas pessoas especiais e inesquecíveis.
Pessoas de sorrisos luminosos e que
oferecem um olhar atento a quem está à sua frente - essas terão com certeza um
caminho muito mais fácil, porque ainda antes de dizer a primeira palavra já
conquistaram o interlocutor.
Simpatia e a empatia não se ensinam,
e não será com certeza falha dos pais se os filhos forem demasiado tímidos para
suportar o olhar de estranhos. A propósito: timidez não é defeito, é
estratégia. O tímido quer ver o ambiente antes para se mover, depois, com
alguma segurança.
Além de sorrir, é preciso conversar.
Ouvir com atenção e interesse também ajuda a criar relações agradáveis e
duradouras. Aos nove anos, Giovana já fica orgulhosa quando troca ideias com
adultos, mas seu interesse maior é para crianças da sua idade.
Ela ainda não tem ideia de como é o mundo dos adultos — onde a maioria é metida a sabe-tudo — mesmo sem resposta para quase nada. Vou propor a ela que pergunte a um adulto porque dormimos.
Se for honesto, ele se calará por que ninguém sabe com certeza. Na verdade, adulto neste ponto de saber sobre as coisas é igual criança: está em busca de respostas. Não, isto não é ruim, o caminho da busca das respostas traz conhecimento, reflexão e crescimento.
Acredito que ao longo da vida o
espírito humano percorre uma escada. Os degraus que você sobe reúnem o percurso
do seu desenvolvimento. Aliás, pessoas de verdade, enquanto estão vivas, estão
sempre incompletas, sempre tentando um degrau mais elevado.
Meus netos queridos, não tenham medo
da vida, basta respeito. As pessoas são complicadas, mas são importantes.
Só 13% do sucesso de uma pessoa se deve ao conhecimento ou à experiência
que ela adquire na vida.
Um total de 87% do êxito de
qualquer ser humano se deve ao relacionamento dele com as outras pessoas. Em
resumo: uma das grandes missões neste mundo é ter amigos. Ninguém dá uma festa
sozinho.
Além disso, acredito que temos mais
semelhanças do que diferenças, como provou o genoma. Todos temos coisas em
nós que reprimimos e todos precisamos lutar com nossos medos.
Um dos maiores medos que temos é o
de enfrentar mudanças. Sim, há vários momentos em que quase tudo muda: os
amigos, a rotina, o ambiente. O novo sempre vem. Em momentos marcantes assim
paramos para pensar no que fizemos e no melhor jeito de renovar os sonhos.
Nesses momentos, netos queridos,
podemos sentir medo, raiva e tristeza. E, sempre terá um olho na nossa lágrima.
Limpar o olho e seguir... este é o segredo. No dia seguinte tudo pode ser
diferente.
Certa vez perguntaram a um
prisioneiro se ele queria ingerir veneno e morrer, uma vez que estava condenado
a viver de maneira horrorosa, amarrado e amordaçado. Ele disse não e emendou:
“Amanhã, tudo pode mudar”.
Acreditar no amanhã é sempre
possível. Não existe uma rotina perversa que seja eterna. Na escola,
depois de uma maratona de dias cansativos e de provas consecutivas, começam as
férias. A vida é igual: tem sequências ruins, mas tudo tem princípio, meio e
fim.
Comprem pão de manhã. Para tudo neste
mundo existe a hora certa, o momento apropriado. É importante sentir a
luz do dia, o sol das primeiras horas. O corpo precisa disso e quando
envelhecemos um dos poucos prazeres que não perdemos é o prazer das manhãs.
Estudem
bastante. E tentem ignorar todo o tipo de extremismos. Mantenham-se
independentes. Procurem os méritos existentes nas posições opostas e participem
de discussões que possam perder. Aprende-se muito.
Procurem ir ao cinema pelo menos uma vez por semana. Ouçam músicas clássicas e procurem conhecer o mundo fabuloso da poesia.
Saibam sempre que eu, seu avô
Alberto, seu pai Darlan sua mãe, Júlia, temos muita sorte porque temos vocês.
Passamos a gostar muito mais da vida depois que vocês chegaram.
Conheci vocês três no dia que
nasceram no colo da sua mãe, esse ser humano tão especial e elegante que
sabe, como ninguém, esconder qualquer tristeza para não deixar ninguém triste.
Sempre
que penso na correção da sua mãe, não posso deixar de sentir uma alegria
absurda por ter a sorte e a honra de ser a mãe dela. Ela é espinhosa
sim, muitas vezes rude, mas é brutalmente honesta.
Com a mãe de vocês não tem
hipocrisia. Se não pode dizer o que pensa, ela dá um jeito de olhar daquele
jeito dela que sempre diz tudo. Aliás, este olhar é uma lição
porque é assim que se mede uma pessoa: tanto pelo que diz como pelo
que não diz.
Sobre o pai de vocês não preciso
dizer muito: ele é bom, paciente e generoso. Com a dedicação dos
pais vocês vivem uma rotina feliz de amor e de cuidados. Confiem
neles, não tenham medo de lhes fazer toda e qualquer pergunta. Não se preocupem
com nada e jamais se esqueçam de que não há ninguém no mundo que ama
vocês mais que a mãe e o pai de vocês.
Um forte e carinhoso abraço da vovó Vanda
e do vovô Alberto
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